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Pra lá de Bagdá
A onda de livros sobre o Oriente, deflagrada pelas invasões americanas, vai se diluindo e gerando caça-níqueis como "De Bagdá, com Muito Amor", a história de um cãozinho adotado por um militar após bombardeio no Iraque
EDUARDO SIMÕES
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Invadir o Afeganistão e o Iraque e aumentar a população de
antiamericanos no mundo são
as acusações mais comuns que
se fazem por aí a George W.
Bush. Mas o presidente norte-americano não vai ficar para a
história apenas por conta de
sua truculenta e impopular política internacional.
Bush também poderá ser responsabilizado pela banalização
de um tipo de literatura caça-níquel que só cresce: a dos best-sellers ambientados em zonas
conflagradas, com histórias tocantes e apelo sentimentalista.
Um novo exemplar desse filão acaba de chegar ao mercado
brasileiro e já galgou ao quarto
lugar na lista dos mais vendidos
da Folha.
Trata-se de "De Bagdá, com
Muito Amor", a "história real
do resgate de um cãozinho que
livra seu melhor amigo da devastação emocional causada
pela guerra", conforme propagandeia texto na contracapa.
Comovente, não? Pois o livro, da jornalista Melinda
Roth, baseado no depoimento
do tenente-coronel Jay Kopelman, é apenas mais um título a
juntar-se a "Eu Sou o Livreiro
de Cabul", de Shah Muhammad Rais, e "O Afegão", de Frederick Forsyth, que apelam para o encanto do imaginário
exótico do Oriente.
Esses títulos vêm na carona
do sucesso de "O Caçador de
Pipas", de Khaled Hosseini, e
"O Livreiro de Cabul", de Asne
Seierstad, que já venderam cerca de 900 mil e 180 mil cópias
no Brasil respectivamente.
Ambos têm qualidade literária
reconhecida, mas deram lugar
a um sem-número de imitações oportunistas.
"Esses livros oferecem um
ângulo humano para uma realidade que as pessoas só assistem no noticiário. Dão a ilusão
de que é possível ter um olhar
neutro sobre o que está acontecendo", diz o colunista da Folha Nelson Ascher. "Eles apelam para o antiamericanismo, a
única ideologia forte hoje, pois
une esquerda e direita."
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