São Paulo, sábado, 19 de maio de 2007

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Pra lá de Bagdá

A onda de livros sobre o Oriente, deflagrada pelas invasões americanas, vai se diluindo e gerando caça-níqueis como "De Bagdá, com Muito Amor", a história de um cãozinho adotado por um militar após bombardeio no Iraque

EDUARDO SIMÕES
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Invadir o Afeganistão e o Iraque e aumentar a população de antiamericanos no mundo são as acusações mais comuns que se fazem por aí a George W. Bush. Mas o presidente norte-americano não vai ficar para a história apenas por conta de sua truculenta e impopular política internacional.
Bush também poderá ser responsabilizado pela banalização de um tipo de literatura caça-níquel que só cresce: a dos best-sellers ambientados em zonas conflagradas, com histórias tocantes e apelo sentimentalista.
Um novo exemplar desse filão acaba de chegar ao mercado brasileiro e já galgou ao quarto lugar na lista dos mais vendidos da Folha.
Trata-se de "De Bagdá, com Muito Amor", a "história real do resgate de um cãozinho que livra seu melhor amigo da devastação emocional causada pela guerra", conforme propagandeia texto na contracapa.
Comovente, não? Pois o livro, da jornalista Melinda Roth, baseado no depoimento do tenente-coronel Jay Kopelman, é apenas mais um título a juntar-se a "Eu Sou o Livreiro de Cabul", de Shah Muhammad Rais, e "O Afegão", de Frederick Forsyth, que apelam para o encanto do imaginário exótico do Oriente.
Esses títulos vêm na carona do sucesso de "O Caçador de Pipas", de Khaled Hosseini, e "O Livreiro de Cabul", de Asne Seierstad, que já venderam cerca de 900 mil e 180 mil cópias no Brasil respectivamente. Ambos têm qualidade literária reconhecida, mas deram lugar a um sem-número de imitações oportunistas.
"Esses livros oferecem um ângulo humano para uma realidade que as pessoas só assistem no noticiário. Dão a ilusão de que é possível ter um olhar neutro sobre o que está acontecendo", diz o colunista da Folha Nelson Ascher. "Eles apelam para o antiamericanismo, a única ideologia forte hoje, pois une esquerda e direita."


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