São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2010

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(in)dependente?

Discussão sobre patrocínio estatal a eventos independentes de música move de Petrobras a festivais tradicionais

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Os festivais independentes de música, que pipocam pelo Brasil, conseguiriam se manter em pé sem o dinheiro de governos e empresas estatais?
A questão voltou à tona em texto do colunista da Folha Álvaro Pereira Júnior publicado anteontem no Folhateen.
Para Pereira Júnior, esses eventos tornaram-se dependentes de apoio da Petrobras, que seria direcionado por Claudio Jorge Oliveira, coordenador de Música, Patrimônio e Cultura Digital da Gerência de Patrocínios da Petrobras.
Para jogar luz sobre o funcionamento desse circuito, a Ilustrada ouviu a empresa, além de pessoas ligadas à produção desses festivais e artistas.
Por e-mail, a Petrobras afirma que quem decide quais projetos culturais recebem dinheiro da empresa são comissões "formadas por cinco a sete integrantes externos à companhia (realizadores, críticos, professores, acadêmicos, pesquisadores, imprensa)". Quem escolhe as comissões é a Petrobras, por meio da Coordenadoria de Música e Patrimônio, "em acordo com MinC e Secom [Secretaria de Comunicação Social]."
O Programa Petrobras Cultural foi criado em 2003. Anualmente, distribui verbas para festivais de música. Na edição 2008-2009, o investimento foi de R$ 2 milhões; na edição 2010, de R$ 3 milhões.
Atualmente, 44 festivais de música de todas as regiões do Brasil estão filiados à Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin).
Segundo Pablo Capilé, vice-presidente da Abrafin, apenas seis festivais ligados à associação receberam dinheiro via Petrobras neste ano.
"Sem apoio estatal, conseguiríamos fazer os festivais, mas não seria possível fazer circular muitas bandas", diz.
A opinião é compartilhada por Rodrigo Lariú, dono do selo Midsummer Madness, do festival Evidente (RJ) e integrante da Abrafin. Para Lariú, a questão que reúne os festivais indies e o dinheiro público se encaixa dentro de uma discussão mais ampla: a que envolve o uso das leis de incentivo no país.
"Hoje é quase impossível conseguir que um empresário privado patrocine diretamente um festival. Se ele pode deduzir o investimento do imposto de renda, por que ele botaria dinheiro sem leis de incentivo?"
Um dos eventos que fazem parte da Abrafin, o Goiânia Noise é dos mais conhecidos festivais indies do país. Em novembro de 2009, fez sua 15ª edição, com cerca de 60 bandas e público de 12 mil pessoas.
Segundo Leonardo Razuk, um dos organizadores do Goiânia Noise, o evento teve custo de R$ 700 mil em 2009. Eles captaram R$ 200 mil com a Petrobras via Lei Rouanet; R$ 200 mil com uma empresa de eletrodomésticos via lei de incentivo estadual; R$ 20 mil por meio de patrocínio municipal; R$ 8 mil de uma empresa de calçados; e R$ 6 mil do Sebrae.
"O resto veio com dinheiro de bilheteria e com os bares", afirma Razuk. "Nos nossos festivais, ainda dependemos de bilheteria para pagar custos."
Razuk ajuda a organizar, também em Goiânia, o Bananada, cuja 12ª edição acontece de hoje a domingo, com 45 bandas e custo de R$ 120 mil.
Segundo Razuk, foram captados R$ 70 mil via lei estadual e mais R$ 4 mil de apoio do Sebrae. Os ingressos custam R$ 20 por dia -espera-se 4.000 pessoas no total.


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