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(in)dependente?
Discussão sobre patrocínio estatal a eventos independentes de música move de Petrobras a festivais tradicionais
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Os festivais independentes
de música, que pipocam pelo
Brasil, conseguiriam se manter
em pé sem o dinheiro de governos e empresas estatais?
A questão voltou à tona em
texto do colunista da Folha Álvaro Pereira Júnior publicado
anteontem no Folhateen.
Para Pereira Júnior, esses
eventos tornaram-se dependentes de apoio da Petrobras,
que seria direcionado por Claudio Jorge Oliveira, coordenador de Música, Patrimônio e
Cultura Digital da Gerência de
Patrocínios da Petrobras.
Para jogar luz sobre o funcionamento desse circuito, a Ilustrada ouviu a empresa, além de
pessoas ligadas à produção desses festivais e artistas.
Por e-mail, a Petrobras afirma que quem decide quais projetos culturais recebem dinheiro da empresa são comissões
"formadas por cinco a sete integrantes externos à companhia
(realizadores, críticos, professores, acadêmicos, pesquisadores, imprensa)". Quem escolhe
as comissões é a Petrobras, por
meio da Coordenadoria de Música e Patrimônio, "em acordo
com MinC e Secom [Secretaria
de Comunicação Social]."
O Programa Petrobras Cultural foi criado em 2003.
Anualmente, distribui verbas
para festivais de música. Na
edição 2008-2009, o investimento foi de R$ 2 milhões; na
edição 2010, de R$ 3 milhões.
Atualmente, 44 festivais de
música de todas as regiões do
Brasil estão filiados à Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin).
Segundo Pablo Capilé, vice-presidente da Abrafin, apenas
seis festivais ligados à associação receberam dinheiro via Petrobras
neste ano.
"Sem apoio estatal,
conseguiríamos fazer
os festivais, mas não seria possível fazer circular muitas bandas", diz.
A opinião é compartilhada por Rodrigo Lariú,
dono do selo Midsummer
Madness, do festival Evidente (RJ) e integrante da
Abrafin. Para Lariú, a questão
que reúne os festivais indies e o
dinheiro público se encaixa
dentro de uma discussão mais
ampla: a que envolve o uso das
leis de incentivo no país.
"Hoje é quase impossível
conseguir que um empresário
privado patrocine diretamente
um festival. Se ele pode deduzir
o investimento do imposto de
renda, por que ele botaria dinheiro sem leis de incentivo?"
Um dos eventos que fazem
parte da Abrafin, o Goiânia
Noise é dos mais conhecidos
festivais indies do país. Em novembro de 2009, fez sua 15ª
edição, com cerca de 60 bandas
e público de 12 mil pessoas.
Segundo Leonardo Razuk,
um dos organizadores do Goiânia Noise, o evento teve custo
de R$ 700 mil em 2009. Eles
captaram R$ 200 mil com a Petrobras via Lei Rouanet; R$ 200
mil com uma empresa de eletrodomésticos via lei de incentivo estadual; R$ 20 mil por
meio de patrocínio municipal;
R$ 8 mil de uma empresa de
calçados; e R$ 6 mil do Sebrae.
"O resto veio com dinheiro
de bilheteria e com os bares",
afirma Razuk. "Nos nossos festivais, ainda dependemos de bilheteria para pagar custos."
Razuk ajuda a organizar,
também em Goiânia, o Bananada, cuja 12ª edição acontece de
hoje a domingo, com 45 bandas
e custo de R$ 120 mil.
Segundo Razuk, foram captados R$ 70 mil via lei estadual e
mais R$ 4 mil de apoio do Sebrae. Os ingressos custam R$
20 por dia -espera-se 4.000
pessoas no total.
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