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OPINIÃO
Artista quer ser bem amado e pago
ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Existem duas maneiras úteis
de o dinheiro público se envolver com arte: sustentando o supernovo e levando o superpopular aos pobres.
É bom uso do Tesouro Nacional apoiar a produção e a circulação de tudo o que é criação intransigente e inédita. Seja nova
ou antiga, brasileira ou não.
Contanto que o orçamento seja
baixo e que não haja hipótese
de patrocínio corporativo.
A maioria dos brasileiros não
pode pagar R$ 200 por um
show ou R$ 50 por um livro.
Deveríamos todos poder votar
com o bolso. O projeto do vale-cultura merece críticas, mas seria melhor do que nada, que é o
que temos hoje.
Tudo o que está entre o supernovo e o superpopular deveria ser julgado caso a caso.
Portanto, não pode ser transformado em política pública.
Não em um país tão permeável
às ações entre amigos.
Mudanças nas leis de incentivo ou na política de patrocínios da Petrobras e toda a cultura do país capotam.
Cinema: a regra da "retomada" são produções de R$ 5 milhões que não recuperam um
décimo dos recursos captados
via leis de incentivo.
Teatro: a maior parte dos patrocínios vai para montagens
de terceira com atores de novela -hits da Broadway etc.
Música: idem, com requintes
como o ministro da Cultura se
beneficiar de renúncia fiscal
-Gilberto Gil levou em 2009
R$ 445 mil do nosso dinheiro.
É excesso de zelo, portanto,
eleger festivais goianos exemplo de lambança. Qual o problema de jovens músicos correrem atrás do seu? Não é a história deste país, todos se achegando para perto do cofre?
Perto do rio de dinheiro público que escoa sem fim para
megabancos e megafusões,
apoiar roqueiros interioranos é
um pinguinho no oceano.
"Se Gil pode, por que não
eu?", se pergunta a nova cena
musical brasileira, o que prova
que ela só é nova na idade de
seus participantes.
Moeda alternativa, distribuição digital, cooperativas. Sim,
quem quer viver de música tem
de dar seus pulinhos. Mas o que
interessa é grana grossa, governo, empresa grande.
Da tropicália ao mangue beat
a hoje, todo mundo adere tão
rápido quanto possível. Doidão,
sim, anarquia, já, mas só louco
rasga dinheiro.
A vida, é fato, anda dura.
Irving Azoff, empresário de
Eagles, Guns N'Roses e hoje
CEO da LiveNation, diz que só
6% da receita dos grandes artistas americanos vêm de música
gravada. O resto é show, merchandising, patrocínio.
Imagine no Brasil.
Arte provocativa já foi criada
por gente com contas a pagar.
Compromisso zero com o mercado gerou muito lixo para engrupir crítico/acadêmico.
Arte não tem regras, mas vida
de artista tem. A função da arte
não é dar o que o povo quer -é
revelar o que ele quer.
Já o artista quer ser bem
amado e bem pago. Quem se
importa de onde vem a grana?
ANDRÉ FORASTIERI é diretor editorial da
Tambor Digital
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