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CANNES
Alta produção marca os 80 anos de Bergman
AMIR LABAKI
enviado especial a Cannes
A exibição de "Na Presença de
um Palhaço", anteontem, fora de
concurso, provou que aposentadoria não consta mesmo do dicionário do sueco Ingmar Bergman.
O diretor de teatro e cinema está
chegando aos 80 -que completará em julho- em plena atividade.
"Depois de 60 anos de trabalho,
tenho direito de exercitar exclusivamente o princípio do prazer",
assume Bergman em entrevista ao
"Cahiers du Cinéma" deste mês.
O cineasta já rodou e no momento finaliza uma versão para
TV da peça "Fazedores de Imagens", de Per Olov Enquist, que
dirigiu também nos palcos suecos.
Bergman participa apenas como
roteirista do segundo: "Trolosa"
será dirigido por Liv Ullmann.
"Na Presença de um Palhaço",
exibido aqui em vídeo dentro da
mostra Um Certo Olhar depois de
estrear na TV sueca em novembro, é autobiográfico.
Bergman combina sua velha admiração pelo esfuziante tio Carl, já
celebrado em "Fanny e Alexander", "As Melhores Intenções" e
"Crianças de Domingo", com a
recente fixação pela vida e obra do
compositor Franz Schubert.
"Na Presença de um Palhaço",
originalmente prevista para estrear no teatro, desenvolve-se segundo a estrutura clássica do drama em três atos.
No primeiro, passado num hospício em 1925, um envelhecido
Carl (Borje Ahlstedt) encontra no
colega de internação Osvald Vogler (Erland Josephson) o parceiro
ideal para lançar seu novo invento: o "cinematógrafo vivo falado", no qual o texto do filme mudo é lido por atores atrás da tela.
No ato seguinte, desenvolvido
numa casa de espetáculos do interior, 11 pessoas vêem fracassar a
invenção de Carl, forçando-o a
transformar em teatro seu filme.
Por fim, no ato final, Carl expõe
seu medo da morte à bela e jovem
noiva Pauline (Marie Richardson).
A identificação Carl-Schubert
serve para Bergman tratar de dois
temas fundamentais de sua obra
madura: o amor à liberdade e a relação com a morte. Ambos, próximos de morrer, ousaram expandir
os limites de suas criações.
Não surpreende, assim, que a
morte vire personagem e assuma a
forma de um palhaço feminino todo branco, um espectro sedutor
que persegue Carl.
Essa figura perturbadora fica entre o temerário fantasma negro de
"O Sétimo Selo" e a bela linda
ninfa nua cantada por Gilberto
Gil. Essa nova e ambígua Morte é
desses raríssimos ícones cinematográficos que, como o Carlitos de
Chaplin ou o Mephisto de Szabo,
se estabelecem de pronto na memória coletiva. Obra de gênio,
obra de Bergman.
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