São Paulo, sábado, 19 de junho de 2004

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OUTRAS PALAVRAS

Ministro da Cultura fala de improviso

Gil defende sua gestão, responde a Caetano e Bethania e valoriza o erro

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Com as páginas escritas do discurso nas mãos, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, pergunta: "Leio ou falo [de improviso]?". A platéia, que havia aplaudido efusivamente sua subida ao palco do Museu da Imagem e do Som, em SP, grita: "Canta!".
Às 22h30 de quinta, desiste de fazer o que seria o nono discurso sobre o lançamento do programa de apoio e difusão de documentários brasileiros DocTV e improvisa um balanço de sua gestão, rebatendo críticas recentes feitas na imprensa por Caetano Veloso e Maria Bethania, que teria apontado a um jornal chileno imobilismo e falta de foco na pasta.
"Pela personalidade do ministro, o ministério tem a característica da pletora. Temos trabalhado semeando. Separar o joio do trigo é para depois da semeadura. Essa dimensão trágica de nunca acabar, esse sísifo, é intrínseco."
Ao citar a necessidade de dar atenção "a duas coisas contraditórias e no entanto simultâneas" que são "a identidade e a diversidade cultural", o ministro citou: "Aí vai o repórter e diz para o Caetano: "O ministro criou a Secretaria da Identidade Nacional, você não acha isso absurdo?". E o Caetano: "É, sim, esse xenofobismo".".
Depois de reiterar que a nova secretaria incorporada ao organograma do Ministério da Cultura trata da identidade e da diversidade cultural, o ministro seguiu: "O maior descuido é descuidar de tudo e de todos, de todas as partes. Temos de pensar holístico".
Quando citou que "alguém escreve que o ministério desconversa sobre a questão dos direitos autorais", Gil rebateu: "Não estamos desconversando nada. Estamos propondo outras conversas, sem rejeitar as velhas".
O ministro afirmou que "é evidente que muita coisa que a gente propõe não vai ser necessariamente boa", mas ressaltou a necessidade de "inventar alvos imaginários", sem o obrigatório compromisso de "acertar todos os alvos", para concluir: "Não queremos estar sempre certos. Queremos estar certos e errados. Queremos estar completos. Destampam-se, sim, todas as garrafas, para que todos os gênios saiam delas".
Longamente ovacionado pela platéia majoritariamente formada por profissionais do cinema, Gil analisou seu próprio discurso, dizendo haver contado com "o auxílio luxuoso de um barroco baiano, que carrego na alma, por que não dizer, carrego nos genes".


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