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Eu sei o que vocês fizeram
Atrizes de
"Xica da Silva" se dizem traumatizadas e constrangidas com a reprise da novela picante
Estrela de "Pantanal" também se sentiria constrangida
em rever cenas
com sua nudez
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LAURA MATTOS
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Num dia, topa fazer fotos eróticas por cachês nem tão atraentes;
no outro, torna-se estrela do
público infantil. Em começo de carreira, fica pelada
em novela apelativa;
depois, famosa, avalia o roteiro antes de
aceitar um papel.
O mundo artístico dá muitas
voltas, e haja jogo
de cintura das celebridades para
manter algumas
páginas do currículo no baú.
Não é só Giovanna Antonelli
que não anda muito feliz em rever cenas nas quais aparece
nua ou simulando ato
sexual em "Xica da Silva".
Em reprise no SBT, a novela
produzida em 1996/97 pela Manchete reabriu feridas de atrizes
que toparam tirar a roupa numa
das fases mais apelativas da teledramaturgia brasileira.
Escrita por Walcyr Carrasco sob
pseudônimo, "Xica" foi sucesso à
época e, no SBT, praticamente dobrou a audiência do horário, com
médias de 15 pontos no Ibope e
picos de até 20 (mais de um milhão de domicílios na Grande SP).
Enquanto o público se diverte
com a chanchada, parte do elenco
se constrange. Em processo contra o SBT, Antonelli não quis dar
entrevista à Folha. Para Adriane
Galisteu, "Xica" é um trauma. Ela
era novata na TV e ganhou um
papel de coadjuvante que vivia tomando banho nua no riacho.
"Não gosto nem do meu papel
nem das coisas que tive que fazer.
Revendo hoje, acho que minha
participação foi lamentável."
Galisteu conta que fora convidada pelo diretor Walter Avancini (1935-2001) para apenas quatro
capítulos, mas teve a participação
ampliada. "A pior coisa que fiz na
vida foi ter aceitado ficar mais. Pedia toda hora para sair. Afinal,
que negócio é esse de ficar tirando
a roupa toda hora? Ficava agoniada. Fiquei tão traumatizada que
nunca mais quis fazer novelas."
Ela afirma que seu espaço na
trama chegou a ser condicionado
à disposição em aparecer nua.
"Eu pedia mais texto, e diziam:
"Tire a roupa, que você ganha".
Não tinham noção de que fazia
tanto mal para mim. Todas [as
que ficavam nuas] sofreram."
Carla Regina, que fez papel sensual em três tramas "calientes" da
Manchete, gostou de trabalhar
em "Xica", mas confessa não ficar
à vontade em rever sua nudez na
reprise. "Não sei se me arrependo,
mas acho que não faria novamente [as cenas com nu]. Há coisas
que revejo e não curto muito, rola
um certo constrangimento", diz a
atriz, que interpreta uma cortesã
em "Essas Mulheres", da Record.
Taís Araújo, que se projetou na
TV no papel da personagem-título, diz que isso não a incomoda.
"Só fiz coisas que queria. Nunca
me sujeitei a nada que não quisesse. Não vejo problemas nas minhas cenas de nudez, nenhuma
delas gratuita. A personagem pedia isso, e eu faria tudo de novo."
Ao assistir à reexibição, aponta
erros "enormes" em sua interpretação. "São coisas ingênuas. Ficava toda hora mexendo os ombros,
mas não tinha como fazer diferente. Era tudo muito verdadeiro.
Foi a novela que me lançou."
"Pantanal"
Tão marcante quanto "Xica"
para Taís foi "Pantanal" (Manchete, 1990) na carreira de Cristiana Oliveira. A novela, com texto
de Benedito Ruy Barbosa ("Terra
Nostra") e direção de Jayme Monjardim ("O Clone"), trouxe uma
nova linguagem à TV brasileira e
ameaçou a liderança da Globo.
No papel de Juma, uma jovem
"selvagem", Cristiana atuou inúmeras vezes sem roupa. "A novela
era perfeita e foi uma experiência
ótima. Mas não as cenas de nudez.
Na época, tudo parecia natural,
inserido no contexto. Eu era ingênua, estava tão envolvida com a
personagem que não pensava na
possibilidade de haver outros objetivos na exploração do nu."
A atriz passou a se incomodar
só na segunda metade da história.
"Percebi a intenção de usar
aquilo para atrair audiência. Hoje, eu me sentiria
constrangida se "Pantanal" fosse reprisada
com muita evidência. E não faria
aquelas cenas novamente, colocaria
limite."
Mauro Alencar,
doutor em teledramaturgia pela USP,
acredita que essa fase
da Manchete trazia alguns bons textos, como
o de "Pantanal", mas "pegou pesado em termos de submundo e nudez". "São cenas chocantes até para os padrões atuais.
Lembram nitidamente o cinema
nacional dos anos 70."
Domingo
Além da teledramaturgia, a busca por audiência a qualquer preço
deixou marcas também nos programas de domingo. Ameaçado
pelo SBT no Ibope, o "Domingão
do Faustão" colocou no palco, em
1996, um garoto doente de 15 anos
que media apenas 87 centímetros.
O episódio "Latininho" rendeu
à Globo problemas com o Ministério Público. Apesar disso,
"Faustão" voltou a apelar no ano
seguinte, com a estréia do quadro
"sushi erótico", no qual uma mulher deitava nua numa mesa e era
coberta por fatias de peixe cru.
No SBT, o "Domingo Legal",
após abandonar a brincadeira da
banheira com modelos seminuas,
levou ao ar em 2003 uma entrevista falsa com membros da facção
criminosa PCC, o que rendeu
processo, ainda em andamento.
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