São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2008

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Velho truque de cara nova

Nova versão de "Agente 86", baseada na série de TV criada por Mel Brooks e Buck Henry nos anos 60, estréia amanhã com Steve Carell na pele do espião atrapalhado

Divulgação
Anne Hathaway e Steve Carell, comparado a Pelé pelo diretor Peter Segal, revivem a Agente 99 e o Agente 86 na adaptação para o cinema da série de 1965

EDUARDO GRAÇA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

Eddie Murphy, Leslie Nielsen, Bill Murray, Jack Lemmon, Dan Aykroyd, Adam Sandler, Jack Nicholson e Steve Carell. Nos últimos 15 anos, o diretor Peter Segal escalou em seus filmes uma verdadeira seleção de craques da comédia.
É "o velho truque..." do diretor, como diria o protagonista de "Agente 86", que estréia amanhã nos cinemas do país.
A adaptação da festejada série de TV americana tem Carell no papel que foi originalmente de Don Adams. "Com cabeça de técnico de futebol brasileiro, se Sandler é meu Beckham, Carell é, indiscutivelmente, o camisa 10, o Pelé deste meu escrete", diz Segal à Folha.
Isso porque Segal considera Carell o ator "mais inteligente de sua geração". "Há o fato de ele ser incrivelmente parecido com Adams e ter um amor imenso pela série. Isso também pesou, pois queríamos fazer um filme que exalasse carinho pelo original, sem ser piegas."
"Agente 86" foi uma das comédias de maior sucesso na TV americana entre 65 e 70, criada por Mel Brooks e Buck Henry, uma sátira sobre o mundo da espionagem na Guerra Fria.
Segal lembra que, nos dois anos que teve para concretizar seu desejo de transformar Steve Carell em Maxwell Smart, a pergunta que mais ouviu foi: "Mas você vai fazer um filme de época?". Ele decidiu arriscar e deixou de lado a Guerra Fria, fundamental para o sucesso da série na TV americana em 65, em meio à Guerra do Vietnã.
"Mas, de certa forma, seguimos a receita de Mel. Ele tinha os russos, nós temos a Al-Qaeda. O tempero do "Agente" é novamente a sátira política, que agora transpira nos ataques de fúria do vice-presidente e na inteligência muito peculiar de nosso primeiro mandatário."
Maxwell Smart é o agente aparentemente boboca, que surpreende o público e seus parceiros da C.O.N.T.R.O.L (a secretíssima agência de inteligência americana) ao resolver as crises mais complexas, quase sempre deflagradas pelos terríveis elementos da K.A.O.S, agora uma comunidade de terroristas interessada em ameaçar as democracias do Ocidente.

Equilíbrio
Para Mel Brooks, Smart é o filho que James Bond e o Inspetor Clouseau nunca tiveram. O criador se diz satisfeito com o resultado desta adaptação -que o preocupou, após o fracasso, em 1995, de uma tentativa de recriar a série. No filme, afirma, há "um equilíbrio perfeito entre as aventuras de 007 e minhas melhores comédias".
Cenas emblemáticas, como a das portas do elevador que nunca têm fim, voltam para fazer rir o público saudoso.
O diretor enfatiza: "Por favor, escreve aí: não temos a menor pretensão de fazer algo tão bom quanto a série televisiva. Seguimos humildemente a sombra de Mel Brooks. Buscamos tocar o espírito do que eles criaram para tentar fazer algo original que novos e velhos fãs gostem. Nossa modéstia garante a tranqüilidade com que atravessaremos este fim de semana [de estréia]".

Origem do Agente 86
A preocupação com os neófitos pautou as escolhas do diretor e do ator. O filme é uma espécie de "origem de Smart", explicando como ele foi parar na ativa. E figuras do passado, como o Agente 13 (vivido na série por David Ketchum e, agora, por Bill Murray) surgem em pequenas e hilárias pontas.
"Bill é conhecido por não ter um agente e ser dificílimo de contatar. Não é que nossa figurinista era amiga dele?", conta Segal. "Mas não tínhamos a menor idéia do que escrever para ele. Ficamos com os queixos no chão [quando ele aceitou] e dois dias depois o enfiamos dentro de uma árvore em Washington. Nascia assim uma das minhas cenas favoritas!"
Fã dos irmãos Marx e de Buster Keaton, o diretor conta que o caráter subversivo de Carell -conhecido pela capacidade de improvisação- foi um dos principais combustíveis do filme. Ele só convidou Anne Hathaway para encarnar a Agente 99, por exemplo, após perceber que era ela quem respondia com mais rapidez às mudanças do roteiro criadas por Carell.
A escolha foi certeira. A atriz exala a sensualidade de uma Bond Girl ao mesmo tempo em que levanta a bola para Carell. "Meu mestre na arte de improvisar foi Alan Arkin, com quem trabalhei no começo da carreira [Arkin faz o Chefe -veja quadro ao lado]", diz Carell.
"Com ele, entendi que a improvisação, quando bem-feita, é dar uma nova perspectiva ao tema apresentado. Faço muito isso [na série] "The Office"."
Mas, se em "The Office" Carell joga com um humor que deixa seus interlocutores desconcertados, em "Agente 86" ele precisa lidar com o nonsense típico das criaturas imaginadas por Mel Brooks. "É um tipo de comédia menos seco, menos sutil do que em "The Office"."


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