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CRÍTICA DRAMA
Peça de Ulysses Cruz traz triângulo amoroso preciso
"Olhe para Trás com Raiva" reflete frustrante impotência diante do caos
CHRISTIANE RIERA
CRÍTICA DA FOLHA
O retrato do inteligente e
rebelde Jimmy Porter em
"Olhe para Trás com Raiva"
tornou-o talvez o personagem mais popular dos anos
50 na cena teatral britânica.
Escrita por John Osborne,
foi um marco para uma geração de "jovens raivosos" que
se utilizaram de um realismo
mais cruel para combater o
escapismo político.
A trama dispara num domingo tedioso, quando
Jimmy metralha seu inconformismo com a apatia dominante mirando impiedosamente em sua mulher.
Debruçada sobre uma tábua de passar roupas, enquanto ouve seus surtos filosóficos, Alison esconde sua
gravidez, a ser interpretada
como fruto de um sonho burguês junto à consciência da
vulnerabilidade do marido.
A tensão entre os dois cresce enquanto é testemunhada
por Cliff, cujo "coração de
ouro" permite a sustentação
do que se transforma num
verdadeiro campo de batalha. A rotina se quebra com a
entrada da melhor amiga de
Alison, que põe em xeque o
balanço entre o casal.
A construção do triângulo
amoroso é precisa. Sérgio
Abreu faz um Jimmy febril
que incendeia ao contracenar com Karen Coelho, que
interpreta com primorosa
contenção a gentil mulher, e
Maria Manoella, a amiga
amante, que adensa a altivez
da personagem com sua voz
aveludada.
Como dirigido por Ulysses
Cruz, o universo caduco e sujo do texto original ganha leitura mais simbólica através
de um cenário que mistura
objetos cênicos realistas com
pano de fundo expressionista ao enquadrar todo o palco
por paredes e teto em ruínas.
Com isso, apesar de a imagem de uma fábrica encobrir
a cena, em passagens remetendo à classe operária como
força centrípeta do drama, é
a sensação de colapso, da
frustrante impotência diante
do caos que está em foco.
Vale lembrar que o carisma do protagonista Jimmy,
porém, se sustenta em seu
ímpeto anarquista, na rejeição de convenções em seu
discurso carregado de humor
cínico, em seu instinto esquerdista tanto apaixonado
quanto apaixonante.
É somente pelo viés político que se entende a atração
que ele exerce sobre duas
mulheres situadas socialmente acima. Trata-se de um
embate entre o operário e a
elite, que termina ajoelhando-se a seus pés.
Sem esta reverberação
ideológica, a motivação de
Jimmy ecoa no vazio. A montagem se fortaleceria se ouvisse a advertência de um
dos personagens: "Não dá
para mergulhar nele e sair de
mãos limpas".
OLHE PARA TRÁS COM
RAIVA
QUANDO sex., às 21h30; sáb., às
21h; e dom., às 19h; até 22/8
ONDE teatro Vivo (av. Dr. Chucri
Zaidan, 860, tel. 0/xx/11/2626-0867)
QUANTO R$ 40 a R$ 50
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom
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