São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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Dircinha Batista morre aos 77 no Rio

RUI PIZARRO
free-lance para a Folha

Vítima de parada cardíaca, a cantora Dircinha Batista morreu às 2h30 de ontem no hospital São Lucas, em Copacabana, na zona sul do Rio.
A cantora, que tinha 77 anos e sofria de uma grave disfunção cardíaca, deu entrada na Unidade Coronariana do hospital por volta da 1h, com edema pulmonar agudo e insuficiência respiratória.
O enterro aconteceu às 16h, no cemitério São João Batista, em Botafogo, também na zona sul, com a presença de, aproximadamente, cem pessoas, a maioria fãs e amigos da cantora.
Entre os artistas que foram ao cemitério estavam Marlene, Emilinha Borba, Dercy Gonçalves, Agnaldo Timóteo, Paulo Goulart e Nicette Bruno.
Com a irmã Linda Batista, morta em 1988, Dircinha foi uma das artistas mais populares do país entre os anos 30 e 50. A dupla foi responsável pela popularização de compositores como Lupicínio Rodrigues e fez parte do grupo das "cantoras do rádio", que atraíam milhares de fãs à época.
As irmãs, que estiveram entre as mais bem-sucedidas cantoras da época, eram constantemente recebidas pelo presidente Getúlio Vargas nas festas no Palácio do Catete. No auge da carreira, chegaram a ter 14 carros importados.
Eventos como a morte de Vargas, o advento da televisão e o surgimento da bossa nova colaboraram para o declínio das cantoras, que passaram a sofrer dificuldades de aceitação no mercado.
Nos últimos anos, Dircinha vivia praticamente isolada do mundo, internada no Centro Gerontológico Mercedes Miranda, da Casa de Saúde Dr. Eiras, em Botafogo.
Segundo a escritora Sandra Louzada, autora da peça "Somos Irmãs" (veja texto ao lado), seu estado de saúde, que já era de muita debilidade, começou a piorar há cerca de um mês, depois da morte do músico e amigo José Ricardo. Ele era considerado pela cantora como o filho que ela nunca teve.
Luiz Murillo, um dos filhos de José Ricardo, disse que Dircinha morreu pobre e que dependeu sempre da ajuda de amigos, até para a compra de remédios.
Convivendo com as irmãs Batista desde a época do rádio, José Ricardo se aproximou mais delas há 15 anos, quando recebeu um telefonema desesperado de Dircinha.
"Dircinha me pediu socorro. Ela e a Odete (irmã mais velha, que era esquizofrênica) tinham sido espancadas por Linda durante um surto psicótico", contou o cantor à Folha, no ano passado.
Na ocasião, as três irmãs viviam abandonadas e sem dinheiro. Alcoólatra, Linda estava com problemas cardíacos.
Após sua morte, Dircinha e Odete foram internadas, em 1991. Odete morreu há três anos. Depois disso, Dircinha sofreu um derrame e ficou numa cadeira de rodas, praticamente sem falar.
A autora Sandra Louzada considera que duas frases das irmãs Batista, incluídas no texto da peça "Somos Irmãs", ilustram de forma perfeita o modo de pensar das duas artistas.
Linda Batista dizia: "Nós representamos o Brasil tanto quanto a bandeira nacional". E Dircinha: "Eu tenho um passado do qual me orgulhar".


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