|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Dircinha Batista morre aos 77 no Rio
RUI PIZARRO
free-lance para a Folha
Vítima de parada cardíaca, a
cantora Dircinha Batista morreu
às 2h30 de ontem no hospital São
Lucas, em Copacabana, na zona
sul do Rio.
A cantora, que tinha 77 anos e sofria de uma grave disfunção cardíaca, deu entrada na Unidade Coronariana do hospital por volta da
1h, com edema pulmonar agudo e
insuficiência respiratória.
O enterro aconteceu às 16h, no
cemitério São João Batista, em Botafogo, também na zona sul, com a
presença de, aproximadamente,
cem pessoas, a maioria fãs e amigos da cantora.
Entre os artistas que foram ao cemitério estavam Marlene, Emilinha Borba, Dercy Gonçalves, Agnaldo Timóteo, Paulo Goulart e
Nicette Bruno.
Com a irmã Linda Batista, morta
em 1988, Dircinha foi uma das artistas mais populares do país entre
os anos 30 e 50. A dupla foi responsável pela popularização de compositores como Lupicínio Rodrigues e fez parte do grupo das "cantoras do rádio", que atraíam milhares de fãs à época.
As irmãs, que estiveram entre as
mais bem-sucedidas cantoras da
época, eram constantemente recebidas pelo presidente Getúlio Vargas nas festas no Palácio do Catete.
No auge da carreira, chegaram a
ter 14 carros importados.
Eventos como a morte de Vargas,
o advento da televisão e o surgimento da bossa nova colaboraram
para o declínio das cantoras, que
passaram a sofrer dificuldades de
aceitação no mercado.
Nos últimos anos, Dircinha vivia
praticamente isolada do mundo,
internada no Centro Gerontológico Mercedes Miranda, da Casa de
Saúde Dr. Eiras, em Botafogo.
Segundo a escritora Sandra Louzada, autora da peça "Somos Irmãs" (veja texto ao lado), seu estado de saúde, que já era de muita
debilidade, começou a piorar há
cerca de um mês, depois da morte
do músico e amigo José Ricardo.
Ele era considerado pela cantora
como o filho que ela nunca teve.
Luiz Murillo, um dos filhos de José Ricardo, disse que Dircinha
morreu pobre e que dependeu
sempre da ajuda de amigos, até para a compra de remédios.
Convivendo com as irmãs Batista desde a época do rádio, José Ricardo se aproximou mais delas há
15 anos, quando recebeu um telefonema desesperado de Dircinha.
"Dircinha me pediu socorro. Ela
e a Odete (irmã mais velha, que era
esquizofrênica) tinham sido espancadas por Linda durante um
surto psicótico", contou o cantor à
Folha, no ano passado.
Na ocasião, as três irmãs viviam
abandonadas e sem dinheiro. Alcoólatra, Linda estava com problemas cardíacos.
Após sua morte, Dircinha e Odete foram internadas, em 1991. Odete morreu há três anos. Depois disso, Dircinha sofreu um derrame e
ficou numa cadeira de rodas, praticamente sem falar.
A autora Sandra Louzada considera que duas frases das irmãs Batista, incluídas no texto da peça
"Somos Irmãs", ilustram de forma
perfeita o modo de pensar das
duas artistas.
Linda Batista dizia: "Nós representamos o Brasil tanto quanto a
bandeira nacional". E Dircinha:
"Eu tenho um passado do qual me
orgulhar".
Texto Anterior: Leia crítica de "Cabaret" Próximo Texto: Carreira começou em 30 Índice
|