São Paulo, sexta-feira, 19 de julho de 2002

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CINEMA/ESTRÉIA

"JOGO DE ESPIÕES"

Atores vivem agentes da CIA em filme de Tony Scott

Robert Redford e Brad Pitt estrelam longa modorrento

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Os filmes de Robert Redford e Brad Pitt propõem em geral duas questões centrais. Uma é: o que aconteceu com o rosto de Redford? A outra é: por que Pitt apanha tanto?
Essas indagações, sobretudo a primeira, apresentam por vezes o inconveniente de dispersar o espectador do assunto tratado. No caso de "Jogo de Espiões", ela serve para ocupar os inúmeros momentos modorrentos, em que somos apresentados aos conflitos internos da agência de espionagem norte-americana.
No caso, Redford é o velho agente Nathan Muir, que, justamente no dia em que vai se aposentar, confronta-se com um grave problema: seu pupilo e amigo Tom Bishop (Pitt) foi preso na China, espancado (naturalmente) e condenado à morte.
Resta pouquíssimo tempo para salvá-lo, mas a CIA está pouco se lixando para o destino de Bishop, cuja prisão compromete acordos comerciais que EUA e China estão para assinar.
O que Tony Scott quer dizer com seu filme é, resumindo, que a espionagem não é uma vida de doces aventuras, mas um negócio árduo, amoral e que não permite fraquezas (como, por exemplo, ter sentimentos). Não é muito, mas pelo menos explica o rosto de Redford: anos e anos nessa vida devem ter arruinado sua pele.
A verdade é que se pode atribuir à pele de Redford e às surras a que Pitt é submetido a função, paralela mas relevante, de diminuir um pouco o charme quase insuportável desses galãs.
No caso, porém, o que sobra é essencialmente esse charme. Mesmo envelhecido, quando Redford se senta à grande mesa da CIA que discute o caso Bishop, ele tem encantos para dar e vender, sobretudo quando confrontado ao antipático Harker, seu rival na organização, que vive tentando puxar o tapete de Muir -e sendo massacrado pelo raciocínio ágil e brilhante de nosso herói.
Pitt aparece menos. À parte ser torturado de modo selvagem (e inexplicável, pois será, de todo modo, executado) pelos chineses, ele aparece nos flashbacks em que Muir passa a limpo suas atividades -trata-se de um agente brilhante- e a amizade que os une.
A trama é mais complicada do que complexa, como acontece em boa parte dos roteiros hollywoodianos contemporâneos: as coisas se passam de maneira fragmentária e rápida o bastante para que não cheguemos a compreender direito diversos acontecimentos.
No mais, eles são irrelevantes: o que têm a nos dizer é o quanto Muir é inteligente e ágil; o quanto Bishop é eficiente. Isso é que devemos apreender, no que diz respeito a eles.
Quanto a Bishop, devemos saber ainda que, apesar de frio como gelo, é um homem sensível, capaz de se apaixonar e de arriscar a vida pela mulher que ama.
Como conclusão, Redford nos lembrará que a amizade é coisa tão séria que justifica até, em casos extremos, pequenas traições à pátria: tudo que ele pretende é resgatar o conceito de lealdade, uma espécie de último reduto da moralidade.
É mais à esquerda do que os filmes de Philip Noyce, se isso serve de consolo. Mas tem, também, muito pouco a dizer.


Jogo de Espiões
Spy Game 
Direção: Tony Scott
Produção: EUA/Inglaterra, 2001
Com: Robert Redford, Brad Pitt, Catherine McCormack
Quando: a partir de hoje nos cines Central Plaza, Cine Paris, Extra Anchieta, Lapa, Jardim Sul e circuito



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