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CINEMA/ESTRÉIA
"JOGO DE ESPIÕES"
Atores vivem agentes da CIA em filme de Tony Scott
Robert Redford e Brad Pitt estrelam longa modorrento
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Os filmes de Robert Redford
e Brad Pitt propõem em geral duas questões centrais. Uma é:
o que aconteceu com o rosto de
Redford? A outra é: por que Pitt
apanha tanto?
Essas indagações, sobretudo a
primeira, apresentam por vezes o
inconveniente de dispersar o espectador do assunto tratado. No
caso de "Jogo de Espiões", ela serve para ocupar os inúmeros momentos modorrentos, em que somos apresentados aos conflitos
internos da agência de espionagem norte-americana.
No caso, Redford é o velho
agente Nathan Muir, que, justamente no dia em que vai se aposentar, confronta-se com um grave problema: seu pupilo e amigo
Tom Bishop (Pitt) foi preso na
China, espancado (naturalmente)
e condenado à morte.
Resta pouquíssimo tempo para
salvá-lo, mas a CIA está pouco se
lixando para o destino de Bishop,
cuja prisão compromete acordos
comerciais que EUA e China estão para assinar.
O que Tony Scott quer dizer
com seu filme é, resumindo, que a
espionagem não é uma vida de
doces aventuras, mas um negócio
árduo, amoral e que não permite
fraquezas (como, por exemplo,
ter sentimentos). Não é muito,
mas pelo menos explica o rosto de
Redford: anos e anos nessa vida
devem ter arruinado sua pele.
A verdade é que se pode atribuir
à pele de Redford e às surras a que
Pitt é submetido a função, paralela mas relevante, de diminuir um
pouco o charme quase insuportável desses galãs.
No caso, porém, o que sobra é
essencialmente esse charme.
Mesmo envelhecido, quando
Redford se senta à grande mesa
da CIA que discute o caso Bishop,
ele tem encantos para dar e vender, sobretudo quando confrontado ao antipático Harker, seu rival na organização, que vive tentando puxar o tapete de Muir -e
sendo massacrado pelo raciocínio
ágil e brilhante de nosso herói.
Pitt aparece menos. À parte ser
torturado de modo selvagem (e
inexplicável, pois será, de todo
modo, executado) pelos chineses,
ele aparece nos flashbacks em que
Muir passa a limpo suas atividades -trata-se de um agente brilhante- e a amizade que os une.
A trama é mais complicada do
que complexa, como acontece em
boa parte dos roteiros hollywoodianos contemporâneos: as coisas
se passam de maneira fragmentária e rápida o bastante para que
não cheguemos a compreender
direito diversos acontecimentos.
No mais, eles são irrelevantes: o
que têm a nos dizer é o quanto
Muir é inteligente e ágil; o quanto
Bishop é eficiente. Isso é que devemos apreender, no que diz respeito a eles.
Quanto a Bishop, devemos saber ainda que, apesar de frio como gelo, é um homem sensível,
capaz de se apaixonar e de arriscar a vida pela mulher que ama.
Como conclusão, Redford nos
lembrará que a amizade é coisa
tão séria que justifica até, em casos extremos, pequenas traições à
pátria: tudo que ele pretende é
resgatar o conceito de lealdade,
uma espécie de último reduto da
moralidade.
É mais à esquerda do que os filmes de Philip Noyce, se isso serve
de consolo. Mas tem, também,
muito pouco a dizer.
Jogo de Espiões
Spy Game
Direção: Tony Scott
Produção: EUA/Inglaterra, 2001
Com: Robert Redford, Brad Pitt,
Catherine McCormack
Quando: a partir de hoje nos cines
Central Plaza, Cine Paris, Extra Anchieta,
Lapa, Jardim Sul e circuito
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