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Cinemateca exibe favoritos de Glauber
Ciclo reúne síntese de influências do diretor de "Terra em Transe" e promove debate com estudiosos
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
A idéia não poderia ser melhor. Com base no livro "O Século do Cinema" (Cosacnaify),
de Glauber Rocha, a Cinemateca Brasileira exibe até o próximo domingo "O Século de
Glauber", uma mostra de filmes que fizeram a cabeça do cineasta baiano.
Em sua concisão e heterogeneidade, o ciclo vale por um minicurso sobre o cinema moderno e suas fontes.
Do cinema revolucionário
soviético ("Greve", de Eisenstein) ao realismo poético de Renoir ("A Cadela"), do expressionismo de Fritz Lang ("M, o
Vampiro de Dusseldorf") à virada genial de Orson Welles
("Cidadão Kane"), do neo-realismo de Rossellini ("Roma, Cidade Aberta") à ruptura dos gêneros de Resnais ("Hiroshima,
Meu Amor"), estão representados na mostra os principais
momentos que fizeram do cinema uma arte multifacetada.
Independência criativa
É também a chance de ver ou
rever uma obra rara de invenção e independência criativa
feita no coração da indústria:
"Punhos de Campeão" (1949),
de Robert Wise, que simula
uma narrativa em tempo real
do antes, do durante e do depois de uma luta em que um pugilista resiste à pressão de mafiosos para entregar os pontos.
Há ainda a exuberância operística de Visconti ("Rocco e
Seus Irmãos", talvez o filme favorito de Glauber), o lirismo
onírico de Fellini ("A Doce Vida"), o frescor iconoclasta de
Godard ("Alphaville"), o surrealismo sacrílego de Buñuel
("O Estranho Caminho de Santiago") e a releitura da tragédia
por Pasolini ("Édipo Rei").
As maneiras como essa heterogênea filmografia se articula
com a obra do diretor de "Terra
em Transe" serão debatidas
amanhã, às 20h10, pelos estudiosos Ismail Xavier, Leandro
Saraiva e Pedro Plaza Pinto.
É muito mais do que um inventário das influências de um
grande cineasta. É uma síntese
do que houve de mais inquieto
e criativo naquela que foi chamada de "a arte do século 20".
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