São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 2006

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MEMÓRIA

Raul Cortez morre aos 73 anos em SP

Ator tinha câncer na região do estômago e estava internado desde 30 de junho; corpo será velado hoje no Municipal

Em mais de cinco décadas de carreira, recebeu os principais prêmios do teatro, atuou em dezenas de filmes e fez sucesso na TV


DA REPORTAGEM LOCAL

O ator Raul Cortez morreu ontem às 20h15. Ele estava internado desde o dia 30 de junho no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O corpo será velado hoje no teatro Municipal, a partir das 7h, e cremado na Vila Alpina (zona leste de SP). Cortez morreu aos 73 anos, em decorrência de um câncer na região do estômago. Ele já havia mencionado sua doença em entrevistas à imprensa.
Em nota oficial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte do ator. "A cultura brasileira acaba de perder um talento inigualável. Raul Cortez foi um ator excepcional, seja no teatro, no cinema ou na televisão. A obra de Raul Cortez, que marcou a história da dramaturgia brasileira, deixa para as novas gerações um exemplo de seriedade e dedicação à arte."
Cortez nasceu em 28 de agosto de 1932, na cidade de São Paulo. Em 1955, entrou para o grupo Teatro Paulista de Estudante e, no ano seguinte, ingressou no teatro profissional com um papel menor, na peça "Eurídice", no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC).
Foi no começo da década de 1970 que o ator iniciou sua coleção de prêmios importantes do teatro brasileiro. Recebeu seu primeiro Molière em 1972, por sua atuação em "Rapazes da Banda".
Em 1976, por seu desempenho em "A Noite dos Campeões", foi novamente contemplado com o Molière. Ganhou também, no mesmo ano, o prêmio da Associação dos Críticos de São Paulo, o prêmio Governador do Estado e o troféu Mambembe.
Na década anterior, em 1963, Cortez atuou em "Pequenos Burgueses", montagem do Oficina, sob direção de José Celso Martinez Corrêa. No mesmo ano, nasceu Lígia, sua filha com a atriz Célia Helena. Ambos contracenariam, em papéis de pai e filha, nas peças "Cheque ou Mate" e "Rei Lear". O ator teve uma segunda filha, Maria, com a atriz Tânia Caldas. Cortez deixou duas netas.
Cortez conquistou amplo reconhecimento e sucesso popular com suas atuações em novelas de TV. Fez parte do elenco de "Água Viva", "Baila Comigo", "Partido Alto", "Rainha da Sucata", "O Rei do Gado" e "Terra Nostra", entre outras. Sua última aparição na teledramaturgia aconteceu na série "JK", da Globo, neste ano.
Raul Christiano Machado Cortez cresceu com três irmãos e duas irmãs numa família estável de classe média. Passou a infância num casarão de Santo Amaro, então um subúrbio rural da capital paulista.
O pai, advogado, via as qualidades de ator do filho, mas as interpretava com outros olhos e aspirações. A visão paterna se dissiparia quando, já estudante de direito, Cortez aos poucos foi voltando, em peças de teatro amador, ao lazer do quintal de Santo Amaro. Consumada a opção, o pai nunca o perdoaria: nunca assistiu a uma interpretação de Cortez.
Necessidades prosaicas de sustento retardaram por alguns anos a prevalência da vocação verdadeira. Raul foi resignado funcionário público, geriu medíocre agência de publicidade, fez pontas em comerciais infames, até que amizades do meio teatral lhe conseguissem "Eurídice", protagonizada no Teatro Brasileiro de Comédia por Cleyde Yáconis e Walmor Chagas.
Era um papel de figurante, mas que o fez vibrar antecipadamente: caberia a ele ler a carta de Eurídice (Cleyde) a Orfeu (Walmor). Finalmente sobrevinha o reconhecimento do poder mágico de sua voz, que falhou no momento crucial.

Os papéis
Quando afinal se fez ouvir, a voz redimiu esse fiasco inaugural e ganhou outras oportunidades para Cortez. Não oportunidades de dominação imediata do meio, mas de ascensão gradual, que abrangeria papéis coadjuvantes do repertório da Companhia Cacilda Becker e participação no aplaudido quarteto declamador "Os Jograis de São Paulo".
Aprenderia tudo no próprio ofício. Provou versatilidade em mais de 60 peças e 25 filmes, mais outras tantas novelas, tanto em papéis que lhe exigiram vestir-se de mulher ("As Boas") quanto expor-se nu ("Os Monstros", "O Balcão"), tanto em monólogos ("Ah América", "Um Certo Olhar - Pessoa e Lorca") quanto em trabalhos com a maioria dos diretores e atores de primeira grandeza.
Entre as exceções, Paulo Autran: cada vez que se viram num teatro, pelo menos um dos dois estava na platéia.


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