JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

Não é muito comum acontecer, mas o bar Alcântara, inaugurado em janeiro deste ano (já com veleidades de acentuar sua cozinha), resolveu de vez abandonar a pretensão de ser mais um bar na Vila Olímpia e investir no seu lado restaurante.
Desde o início, havia a idéia de oferecer um cardápio coerente, focado na cozinha ibérica, mas o apelo principal visava a agitação típica dos bares da região.
Em pouco tempo, a clientela inclinou-se mais para a comida. O serviço foi adaptado para tal, a área central da casa tem mesas com toalhas, já com cara de restaurante, e o cardápio passou a ser a principal estrela.
Não que a cozinha tenha se tornado excepcional; pelo contrário, ainda pode melhorar bastante. Mas ela tem o agradável apelo de reunir pratos portugueses e espanhóis que, ao lado de terem historicamente muito em comum, comunicam-se sutilmente com o paladar brasileiro. Há uma boa oferta de vinhos, e o bar continua com suas qualidades, boa bebida e bons drinques servidos com correção.
Este não é o primeiro empreendimento do sócio responsável pela operação, o mineiro Marcus Ramalho, 47, há 25 anos em São Paulo, 12 deles trabalhando na área de gastronomia. Esta é a 13ª casa que abre (com mais um sócio investidor) na cidade -ainda é proprietário somente do bar Maré Alta, mas fundou também bares como Democrata, Rabo de Peixe e Moça Bonita.
O cardápio do Alcântara foi elaborado por ele e pelo chef José Carlos Barbosa, 35, com quem trabalha há sete anos. Os pratos não buscam nada de moderno, pelo contrário, realçam o tradicional. Há uma extensa oferta de bacalhau, inclusive utilizando peças do lombo (assado, frito ou cozido) a preços razoáveis, embora pequem não pelo excesso de sal (comum em tantos lugares), mas pelo contrário -quando o molho é tão intenso que leva parte do sabor característico.
Na área do arroz, há as versões portuguesas (arroz de pato -um pouco seco-, de polvo) e espanhola (paella). E assados que unificam as duas vertentes ibéricas, como o cordeiro e o leitão no forno. Aos sábados, feijoada portuguesa, com feijão branco, e, aos domingos, o quase esquecido cozido.

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ALCÂNTARA