São Paulo, sábado, 19 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Exibidor aposta em 3D e projeção digital

Donos das salas de cinema investem em novas tecnologias para tirar o espectador da frente do vídeo e da internet

Mercado cinematográfico avalia que comportamento do público mudou, mas que a queda na freqüência tem a ver com a qualidade dos filmes


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os cinemas brasileiros viram seu público diminuir 11,3% no primeiro semestre deste ano, em relação a igual período de 2007, segundo dado divulgado nesta semana pelo portal Filme B, especialista nesse mercado.
Donos das salas de exibição não vêem esse número como indício do começo do fim de uma era, mas estão certos de que ele quer dizer alguma coisa.
Que faltou apelo popular aos filmes da safra é a avaliação recorrente entre profissionais do mercado ouvidos pela Folha.
"O público está em queda por causa da qualidade do produto. Da mesma maneira que não gostaram tanto do filme estrangeiro, os espectadores gostaram menos ainda dos longas brasileiros lançados", diz o distribuidor Jorge Peregrino, da Paramount. (Confira no quadro à direita os números que apontam a queda mais acentuada do produto brasileiro.)

Filme popular
"Não é à toa que o cinema brasileiro cai mais do que o estrangeiro. O Brasil não tem uma indústria de filme popular. O título popular aparece uma vez aqui e outra depois de dois anos", afirma Rodrigo Saturnino Braga, do estúdio Sony.
Além do fator circunstancial, no entanto, há outras razões por trás do desinteresse do espectador. "Não tenho dúvida de que existe uma mudança de comportamento do consumidor brasileiro", afirma Marcelo Bertini, presidente da Cinemark, rede líder no país.
É plano da Cinemark para os próximos cinco anos "continuar crescendo nas grandes capitais e em outros pontos que forem surgindo, numa razão de cinco a seis complexos por ano", segundo Bertini.
Os futuros complexos da rede deverão manter os moldes de funcionamento dos atuais e ser superiores a eles na tecnologia de projeção dos filmes.
"Ninguém pode pensar em abrir sala de cinema no Brasil, se não tiver a perspectiva de, a médio prazo, transformar o seu circuito em [projeção] digital e investir pesadamente em cinema 3D", afirma Bertini.
Essa transformação seria o "pulo do gato" das salas de cinema para vencer, pela qualidade da imagem, a concorrência com o entretenimento doméstico -DVD e internet. "A evolução tecnológica é uma resposta que o cinema oferece para se distinguir de qualquer oferta similar que possa haver. Se você montar um "home theater" na sua casa, o cinema tem que ser diferente", diz Adhemar Oliveira.
Oliveira é sócio das redes Espaço Unibanco e Unibanco Arteplex. Ele abriu, há um mês e meio, outras dez salas, num novo shopping de São Paulo. É lá também que ele deve inaugurar neste semestre uma franquia da rede Imax, que projeta filmes em 3D numa tela gigante.
"Estão sendo abertas salas onde elas já existem. Com isso, você beneficia quem já é freqüentador de cinema, mas não aumenta a base de espectadores", diz Vera Zaverucha, superintendente de Acompanhamento de Mercado da Ancine (Agência Nacional de Cinema).
Para Oliveira, de fato, "não há política nenhuma de expansão de salas desvinculada da política de expansão dos shoppings".
Nas negociações que mantém atualmente com operadores de shopping para instalação de cinemas, o distribuidor e exibidor Otelo Coltro, do selo Playarte, inclui a sala 3D como uma vantagem comparativa, mas pela qual é preciso pagar um custo de instalação elevado.
"Nos EUA, um projetor 3D custa nove ou dez vezes mais que um projetor de [película] 35 mm. No Brasil, com os impostos de importação, fica muito pesado fazer o investimento em larga escala, sem parcerias ou patrocínio", diz Coltro.
A resposta do espectador ao investimento é animadora. Quando lançou, neste mês, a ficção científica "Viagem ao Centro da Terra", Coltro viu o filme alcançar média de 800 espectadores por cópia nas salas 2D, no fim de semana de estréia, e de 3.000 espectadores por cópia nas salas 3D.
Dado o sucesso, o distribuidor vem "buscando novos filmes para lançamento em 3D". Agendou mais dois títulos para este ano, mas enfrenta o fato de que Hollywood ainda não produz em escala industrial nesse formato, embora o incremento das salas dos EUA para as tecnologias digital e 3D seja uma prioridade daquela indústria.


Texto Anterior: Drauzio Varella: Lei seca no trânsito
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.