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Sherman expõe seu mundo sem homens
ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha
Nova York vê em seu Museum of
Modern Art, o MoMa, a exposição
"Untitled Film Stills", da norte-americana Cindy Sherman. São 69
fotos em preto-e-branco que remetem ao imaginário feminino do
pós-guerra, do cinema B produzido nos Estados Unidos entre as décadas de 40 e 60.
As mulheres de todas as fotos são
interpretadas por Cindy Sherman
que obteve reconhecimento com
esse material produzido entre 77 e
80 e a partir daí se transformou
num dos mais influentes nomes da
produção contemporânea.
A exposição no MoMa de NY é
patrocinada pela cantora Madonna. Junto com estas cópias foram
compradas também outras sete
obras da artista, em cores, do período de 1980 a 1989.
"O trabalho de Sherman é tão
cheio de originalidade, charme e
inteligência que, duas décadas depois, continua fresco e cheio de
força", apresenta Peter Galassi, diretor de fotografia do museu.
Em "Untitled Film Stills", Sherman utiliza as técnicas da fotografia para obter um resultado que
tange também o universo da representação pictórica.
É a própria artista quem concebe
figurinos, cenários, maquiagem e
a o intenso trabalho de perucas
-fundamental para a criação que
suas sempre dramáticas heroínas.
Assim, não se trata de auto-retratos, mas de retratar mulheres irreais inspiradas nos cartazes e fotos de publicidade desses filmes
baratos da produção americana.
Com tudo isso em mãos, Sherman faz uma pós-moderna salada
em que os ingredientes são cultura
de massa, feminismo, clichês femininos, feminilidade, sensualidade, nostalgia e glamour.
As primeiras seis fotos foram feitas em série, com caráter experimental, de fanzine, como retratos
da vida de uma jovem e loura atriz.
Os B-movies remetem tanto ao
que se convencionou chamar de
marco zero do imaginário contemporâneo para a cultura pop e
ao período da juventude da artista,
hoje com 43 anos.
Sherman terminou a série quando acabaram, em sua opinião, os
clichês deste vocabulário. São solitárias, urbanas e problemáticas garotas que, mesmo inexistentes, parecem estranhamente familiares.
São manipuladas com perfeição as
convenções do still cinematográfico (enquadramento, exagero, artificialidade, um certo voyeurismo,
iminência do drama ou consequência dele).
Numa praia, ela chacoalha a toalha numa coquete calça branca
saint-tropez; em frente ao hotel
Plaza, procura alguém na multidão. De costas, uma silhueta violão
se ajeita no espelho. No banheiro,
ela arruma seu espartilho; no restaurante chora diante de uma taça
vazia, e, no que seria um hospício,
perde-se entre paredes cinzentas.
O mundo sem homens de Cindy
Sherman é o mundo de todos nós.
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