São Paulo, terça, 19 de agosto de 1997.



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OUTROS LANÇAMENTOS

Jorge Aragão
O sambista Jorge Aragão volta no irregular "Sambista a Bordo" (Indie/RGE), em que se coloca na corda bamba entre o samba de verdade e piscadas indecentes ao pagodão radiofônico. Com muita história nas costas, ele traz composições e tratamento vocal que fogem dos piores clichês "sambanejos", mas arranjos puxados nos teclados ("Pereira, Amor de Abigail") e romantismo melado ("Loucuras de uma Paixão") passam raspando. (PAS)

Teca Calazans
Na voz de uma cantora ousada, o repertório de "Firoliu" (Kuarup) seria material profícuo para experimentação e virtuosismo. Teca Calazans não é cantora ousada -antes, é compositora que aqui encontra nos temas folclóricos brasileiros e portugueses bibelôs para sua pesquisa. Há até uma modinha do Brasil imperial, "Moreninha", que Nara Leão tinha gravado em seu disco tropicalista, de 68. Baden Powell participa de "Santa Voz". (PAS)

Marcelo Quintanilha
"Metamorfosicamente" (Ovo d'Ouro), de Marcelo Quintanilha, define-se pelo título. A cada uma das 13 faixas, o cantor, compositor e violonista aponta para uma direção diferente. Passa por forró, funk carioca tipo Black Rio, toada mineira, bossa, baião, maxixe, reggae, orientalismos, ciranda e outros bichos. A fome de referências faz com que não sobre espaço para muita identidade, o que a voz curta de Quintanilha vem agravar. (PAS)

Sublimes
O trio pop Sublimes ficou mais falado pela presença da atriz Isabel Filardis do que pelo talento -agora, desfalcadas da menina, têm de mostrar o que valem por elas mesmas. Cantam bem, fazem versões legais e têm sangue quente, mas perderam o que tinham de melhor no trabalho anterior: a brasilidade e as letras inspiradas do profeta pop Fausto Fawcett, que antes lhes deu o hino "Mike Tyson Free", mais atual que nunca. (PAS)

Dash
"Ooh La La" (independente), disco de estréia da banda carioca Dash, chega ao mercado após três anos engavetado. Na definição da própria banda, é "speed new wave", designação mais que própria: em alta velocidade, embalam a voz pop de Simone do Vale, entre a new wave deslavada de Debbie Harry e a meiguice pós-wave de Björk. A barulheira é quase excessiva, mas não encobre o poder melódico -e despretensioso- das canções. (PAS)

Homens do Brasil
O sexteto Homens do Brasil, que chega com disco homônimo independente, pratica pop de estrada, com ecos longínquos do Tutti Frutti de Rita Lee e do Barão Vermelho. Pecam pelas letras ingênuas e por um dom meio épico. Se por um lado não se preocupam em voltar os ouvidos a sons mais contemporâneos, por outro têm a sensatez de ignorar a histeria guitarrística de heavy metal que a maioria de seus colegas tem abraçado. (PAS)

Utopia
Mais fatura em cima da miséria alheia: a Eldorado lança em "edição histórica" gravações da banda Utopia, o embrião dos Mamonas Assassinas. São às vezes superiores às infâmias dos Mamonas, mas, ainda assim, abaixo do aceitável. A direção artística (!!!) é da "pitchula" Mirella Zacanini, e as faixas exalam uma carolice que depois os Mamonas atiraram para longe. A versão bailinho de "Mina" deve ganhar o eleitorado. É triste. (PAS)

James Taylor
O eterno baladeiro ainda vive. James Taylor lança "Hourglass" (Sony), em que tenta disfarçar a voz fanha de hábito apelando para muitos convidados, colhidos de universos tão distintos quanto erudito, jazz e pop. Yo-Yo Ma toca violoncelo, Branford Marsalis toca saxofone, Stevie Wonder toca harmônica, Sting canta. Nada lhe faz sombra: a voz anasalada aparece mais que tudo. O resultado é um festival de extemporaneidade. (PAS)

Skunk Anansie
À primeira vista, a banda britânica Skunk Anansie parece um conglomerado punk valorizado pela ousadia de imprimir detalhes recolhidos da música eletrônica/dançante em sua barulheira. Mas este "Stoosh" (Virgin) mostra que, no balanço das horas, a vocalista negra/careca/careteira Skin não é assim tão diferente de sua correspondente loura Gwen Stefani, do No Doubt, a mais desavergonhadamente comercial das bandas de rock. O que há aqui é muita gritaria, letras ocas e braveza premeditada. Não cola. (PAS)

Nas
O rapper Nas lança "It Was Written" (Columbia/Sony). O aviso aos pais norte-americanos sobre o conteúdo explícito das letras está lá, mas o rap de Nas é mais boa-vida/viajandão (com sampler de Soul 2 Soul e tudo), inofensivo como um copo de café com açúcar. A imprudência é inventar uma versão rap para "Sweet Dreams", megahit de 83 dos Eurythmics. A faixa tanto pode dar a sensação de "que legal" quanto simbolizar o nível de docilidade e domesticação que o rap vem atingindo pouco a pouco. (PAS)

"Soul Assassins"
"The Muggs Presents... Soul Assassins Chapter 1" (Columbia/Sony) é disco-epopéia em que o DJ e produtor Muggs, que já trabalhou com Cypress Hill, Ice Cube e outros, chama artistas já bastante conhecidos e possíveis revelações para interpretar suas composições, sempre em linha cool de rap. Os destaques ficam por conta de Dr. Dre & B Real, em "Puppet Master" (com sample de Isaac Hayes), KRS-One, em "Move Ahead", e o "easy listening" proposital de RZA & GZA/Genius em "Third World". (PAS)

Mary J Blige
A cantora nova-iorquina Mary J Blige é desses fenômenos de paradas "Billboard" que não se explicam assim tão facilmente. Diva de voz black power, o que ela tem a oferecer em "Share My World" (Universal) é uma coleção monótona de canções de rhythm'n'blues. Passeia, lânguida, por composições próprias, participações dos rappers R. Kelly e Nas ou temas do onipresente Babyface, sempre com uniformidade espantosa -prova de que só uma voz poderosa não leva uma cantora ao paraíso. (PAS)

LeAnn Rimes
A norte-americana LeAnn Rimes, por sua vez, é fenômeno "Billboard" fácil de explicar. "Blue" (Continental), estourado nas paradas americanas, é coleção country bem ao gosto do povão lá de cima. Acontece que, caipira até a raiz alourada dos cabelos, LeAnn tem de fato um vozeirão capaz de proezas -"My Baby" leva modulações vocais típicas dos sertanejos de lá (k.d. lang já fez muito disso) a extremos impressionantes. O triste é que a produção sintetizada derruba qualquer nota mais elaborada. (PAS)

Tanita Tikaram
Com cinco discos lançados, a cantora Tanita Tikaram ganha seu primeiro "Best of" (Continental), apanhado de sucessos gravados entre 88 e 96. Puxa a chegada do CD ao Brasil menos o talento da moça, mais a intervenção de Zélia Duncan, que transformou em praga o hit "Cathedral". A compilação mostra uma cantora de voz precisa e marcante, mas que oscila entre estilos vários -country, pop dançante, romantismo açucarado-, sem nunca demonstrar grande convicção em nenhum deles. (PAS)




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