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Os últimos modernos
Mostras reúnem geração que mudou a fotografia brasileira
EDER CHIODETTO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Os modernos estão de volta.
Quase que por coincidência São
Paulo vai abrigar, ao mesmo tempo, três exposições dos três fotógrafos remanescentes da geração
que modificou radicalmente a fotografia brasileira a partir dos
anos 40. Além disso, a reedição do
livro "A Fotografia Moderna no
Brasil" (Cosac & Naify) cria um
momento propício para se revisitar essa fértil época.
As mostras são repletas de efemérides: o fotógrafo e ex-professor da Escola de Comunicação e
Artes da USP Thomaz Farkas, 80,
tem trabalho exposto no anexo do
Museu de Arte Contemporânea
da USP, em evento que comemora os 70 anos da universidade.
Eduardo Salvatore abre mostra
no Museu da Imagem e do Som
(SP), no sábado, para comemorar
seus 90 anos de idade. Finalmente, German Lorca, 82, inaugura na
próxima terça sua exposição no
MAC-USP, que culminará com o
lançamento do livro -de Helouise Costa e Renato Rodrigues-,
que narra o surgimento e as implicações da fotografia moderna
no Brasil, no qual os três fotógrafos são personagens principais.
"Bandeirantes"
No início não havia nada. Nem
identidade e nem rebeldia. A fotografia brasileira chegava aos anos
40 rodando em falso. Baseada na
prática pictorialista, os salões de
fotografia se limitavam a exibir
trabalhos que buscavam imitar a
abordagem da pintura.
Em 1939 um grupo de fotógrafos de São Paulo fundou o Foto
Cine Clube Bandeirante. Fez-se a
luz. Liderados por artistas e fotógrafos como Geraldo de Barros,
Thomaz Farkas e German Lorca,
entre outros, a fotografia brasileira teria sua essência definitivamente alterada. Inspirados pelo
sentimento de insatisfação com o
que era praticado até então, esse
grupo buscou quebrar o academicismo bebendo na fonte do concretismo, do surrealismo e do
abstracionismo -os fotógrafos
passaram a dar mais ênfase à modernização das cidades e à mudança do modo de vida operado
pelas indústrias. Fazia-se necessária uma nova estética para dar
conta daqueles novos tempos.
A partir dessa geração que se
reunia para discutir linguagem e
composição e excursionava aos
domingos pelo interior de São
Paulo em busca de novas imagens, a fotografia artística, publicitária e o fotojornalismo tiveram
uma guinada radical. O registro
do mundo aparente com uma câmera fotográfica se descolou da
pintura e passou de fato a representar de forma mais contundente os tempos modernos. Salvatore, Farkas e Lorca, todos ao mesmo tempo em São Paulo -é um
momento histórico. Os modernos
estão em festa.
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