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FESTIVAL DE GRAMADO
Seminário promovido pela Motion Picture Association também esbarra no controle de conteúdo
Hollywood divulga sua fórmula de sucesso
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A GRAMADO
Começou com um trocadilho e
quase termina em inversão de papéis (de acusadora a ré) a crítica
que a organização norte-americana MPA (Motion Picture Association) fez em Gramado ao projeto
de lei do MinC (Ministério da
Cultura) para regular o audiovisual brasileiro com a criação da
Ancinav (Agência Nacional do
Cinema e do Audiovisual).
O vice-presidente da MPA para
a América Latina, Steve Solot,
convocou entrevista para divulgar o seminário "Cinema: Da
Criação à Distribuição em Dez
Horas", que promove na programação do 32º Festival de Gramado - Cinema Brasileiro e Latino.
Voltado para estudantes, o curso intensivo responde, segundo
Solot, "à necessidade das empresas de identificar roteiros interessantes e filmáveis". A MPA é a associação dos sete maiores estúdios de cinema norte-americanos, as chamadas majors (Buena
Vista, Columbia, Metro, Paramount, Fox, Universal, Warner).
Solot disse que o investimento
no seminário (R$ 30 mil) "é pequeno, comparado com o desenvolvimento dos estudantes" e fez
um trocadilho, em referência ao
projeto do Ministério da Cultura
de criar a Ancinav: "É irônico.
Não sei se é um "bad timing" [mau
momento] ou um "good timing"
[bom momento]".
Ironia
A ironia, afirmou, está em que a
realização do seminário "expressa
nosso interesse no setor, num
momento em que, se aprovado, o
projeto do governo vai alterar radicalmente todas as atividades
audiovisuais no Brasil".
Entre as medidas propostas pelo MinC, as que mais afetam a
MPA são a taxação de lançamentos de filmes estrangeiros com
mais de 200 cópias (R$ 600 mil) e
a criação de taxa para títulos em
vídeo e DVD (9%).
Depois de avaliar que a produção de roteiros "é uma área deficiente no Brasil", Solot foi indagado se, com seus cursos, a MPA estaria tentando fazer com que os
filmes brasileiros tivessem uma
única fórmula, idêntica à dos filmes americanos, e solicitado a explicar em que medida as majors
influenciam no roteiro dos filmes
que co-produzem no Brasil, com
benefício da Lei do Audiovisual,
que autoriza dedução do Imposto
de Renda para os investimentos.
O executivo convidou para responder a coordenadora de marketing da Fox, Camila Galatti,
professora do módulo "Marketing e Distribuição" no seminário.
"A gente influencia, sim, no roteiro, porque ele precisa ser comercial", disse Galatti.
Decisão final
O produtor Leonardo Monteiro
de Barros, da Conspiração Filmes
e responsável pelo módulo "Desenvolvimento de Projeto", parece haver percebido a aproximação da armadilha lingüística. Levado a termo, o raciocínio de Galatti terminaria com a MPA tachada de "intervencionista" no conteúdo audiovisual brasileiro.
Monteiro de Barros pediu a palavra: "Nós, produtores, pedimos a
influência do distribuidor, para
aprimorar o projeto. Mas a decisão final sobre os aspectos criativos é sempre do produtor brasileiro".
A Folha pediu que Solot comentasse a afirmação do ministro
da Cultura, Gilberto Gil, de que os
EUA são o lugar em que mais se
combatem monopólios e oligopólios, com instrumentos como
leis antitruste. "Não posso responder diretamente ao ministro.
Temos uma política de responder
muito especificamente a temas
determinados, depois de uma
análise legal."
Mas comentou: "É importante
enfatizar que estamos falando de
um "business", e o "business" responde a uma oportunidade de
mercado. Se não houver oportunidade de mercado, devido à super-regulamentação, vai haver
menos investimento, menos atividade, menos interesse".
Apoio
Além da crítica da MPA (Solot
distribuiu aos jornalistas cópias
de informe publicitário a ser publicado em jornais com avaliação
negativa do projeto), o projeto do
MinC recebeu uma análise positiva no segundo dia do Festival de
Gramado (terça). Durante o debate sobre o filme cearense "O
Quinze", que abriu a competição
de longas brasileiros na noite de
segunda, a produtora do título,
Letícia Menescal, afirmou: "Captar [dinheiro para realização de
filmes] é difícil para todos. Com
essas mudanças na lei, acho que
vai melhorar nos aspectos da descentralização e da regionalização". Menescal disse à Folha que
vive "15 dias no Rio e 15 em São
Paulo, com o coração no Ceará" e
disse sentir "discriminação" dos
patrocinadores quando apresenta
um projeto do Nordeste, a ser realizado por artistas da região.
A jornalista Silvana Arantes viajou a
convite da organização do Festival de
Gramado
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