São Paulo, sexta-feira, 19 de agosto de 2005

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MPB

João Suplicy investe em clima caseiro

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

João Suplicy é um cara comum. Por trás do filho da prefeita com o senador, do irmão de Supla, do marido da Maria Paula do "Casseta e Planeta", está um simples músico brasileiro, jovem compositor de 31 anos que acaba de chegar ao terceiro CD.
Acusado de atirar para todo lado em seus primeiros discos, no novo, "Caseiro", encontra um clima e um conceito em comum para todas as canções: a vida de casado, a filha recém-nascida. No álbum, convivem baiões, sambinhas, baladas de amor, blues e canção de ninar. No geral, são composições que soam como MPB de barzinho da Vila Madalena, mas com um charme inegável, surgido da despretensão.
Ele conta, por exemplo, que uma das canções surgiu de um pedido da mulher para que fizesse uma música para ser cantada à filha quando ela ainda estava na barriga. Outra surgiu quando ele passeava de bicicleta, com a leveza de amar e se saber amado. Em outra, Jorge Mautner toca a infalível marcha nupcial ao violino.
Toda essa energia gracinha acaba transbordando para cada detalhe do disco, que, mesmo sem grandes momentos de genialidade, inspira enorme simpatia.
Suas letras existem no limite da obviedade, com detalhes da vida prosaica transformados em poesia sem absolutamente nada demais mas também sem nada terrivelmente constrangedor.
Impossível não pensar que ele parece ser um cara bacana, com boas intenções, curtindo fazer uma musiquinha, cantar para a filha, fazer um showzinho com os amigos, compor cançõezinhas que soam legais -e têm pouca probabilidade de entrar para o cânone da música brasileira. Não que essa seja a intenção.
Ele é, então, o elogio do homem comum. Funciona, afinal, como uma espécie de Jack Johnson brasileiro (com menos apelo e talento). Seu disco não traz mais do que músicas relax tocadas no violão, com detalhes interessantes e letras sobre coisas simples da vida de um recém-trintão recém-casado com uma filha recém-nascida. Às vezes, já é suficiente.
Ao mesmo tempo, ele parece ter consciência do nível de despretensão do álbum. Em entrevista, comentou que "é claro que a pessoa que vai ouvir o disco pode não estar nesse clima, pode sair falando "que caseiro que nada" ou "pô, o cara fez uma música para a filha, nada a ver", mas esse foi o disco mais verdadeiro que pude fazer. É uma declaração de amor".
Questionado se não tem medo de soar bobo escrevendo letras como "casei e quero casa", ele é sincero: "Até teve gente que me falou que poderia soar piegas, mas eu sei que foi tudo muito verdadeiro". E conclui: "Nada que é verdadeiro é piegas".


Caseiro
   
Artista: João Suplicy
Lançamento: independente/distribuição Tratore
Quanto: R$ 22, em média


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