São Paulo, sexta-feira, 19 de agosto de 2005

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MEMÓRIA

Milani conversa sobre Glauber, política e TV

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Sentado no jardim de sua casa, Francisco Milani está à vontade. É franco, sem rodeios, como a careca que exibe sem autocompaixão.
Fala com a voz e as mãos sobre "Terra em Transe", Glauber Rocha, "Armação Ilimitada", cinema argentino, "esquerda" política. Se alguém foi indiferente à notícia da morte de Milani, por câncer, no último sábado, a reprise de sua entrevista ao "Tarja Preta" (hoje no Canal Brasil) é uma oportunidade tardia de se dar conta da importância do ator. Mas antes tarde do que nunca.
Selton Mello, diretor do programa, é também bom interlocutor. Pergunta o que interessa e deixa Milani falar, brilhar. Não é conversa de comadres, mas uma entrevista com boas histórias, entrecortadas por cenas da carreira de Milani no cinema e na televisão.
Militante de esquerda, ex-vereador pelo PCB, ele critica o governo, o discurso econômico igual ao "do tempo de Delfim Neto, do golpe militar". E vem imagem do "Armação Ilimitada". "Estamos num mar de lama", diz o Chefe, interpretado por Milani, a Zelda (Andréa Beltrão), enquanto se afogam literalmente no lamaçal.
Milani conta bastidores de "Terra em Transe" (1967), sua estréia como ator de cinema. Diz que Glauber Rocha "era ótimo argumentista, montador, mas como diretor de ator... Ele não sabia do que se tratava". Lembra um dia em que estava totalmente perdido numa filmagem no apartamento de Rubem Braga, na qual carregava uma metralhadora e dava voltas em torno de Jardel Filho. Foi perguntar a Glauber como fazer a cena, "pedir uma orientação". O diretor, conta, fez três gestos com a mão, completamente incompreensíveis. "É só."
Para quem quer ver ou rever que solução Milani arrumou para essa e outras "enrascadas" de "Terra em Transe", o Canal Brasil exibe o filme às 20h da próxima terça. No mesmo dia, às 18h, vai ao ar outro longa do ator, "O Padre que Queria Pecar" (1975).


Tarja Preta
Quando:
hoje, às 22h, no Canal Brasil


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