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MEMÓRIA
Milani conversa sobre Glauber, política e TV
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Sentado no jardim de sua casa,
Francisco Milani está à vontade. É
franco, sem rodeios, como a careca que exibe sem autocompaixão.
Fala com a voz e as mãos sobre
"Terra em Transe", Glauber Rocha, "Armação Ilimitada", cinema argentino, "esquerda" política. Se alguém foi indiferente à notícia da morte de Milani, por câncer, no último sábado, a reprise de
sua entrevista ao "Tarja Preta"
(hoje no Canal Brasil) é uma
oportunidade tardia de se dar
conta da importância do ator.
Mas antes tarde do que nunca.
Selton Mello, diretor do programa, é também bom interlocutor.
Pergunta o que interessa e deixa
Milani falar, brilhar. Não é conversa de comadres, mas uma entrevista com boas histórias, entrecortadas por cenas da carreira de
Milani no cinema e na televisão.
Militante de esquerda, ex-vereador pelo PCB, ele critica o governo, o discurso econômico igual ao
"do tempo de Delfim Neto, do
golpe militar". E vem imagem do
"Armação Ilimitada". "Estamos
num mar de lama", diz o Chefe,
interpretado por Milani, a Zelda
(Andréa Beltrão), enquanto se
afogam literalmente no lamaçal.
Milani conta bastidores de
"Terra em Transe" (1967), sua estréia como ator de cinema. Diz
que Glauber Rocha "era ótimo argumentista, montador, mas como diretor de ator... Ele não sabia
do que se tratava". Lembra um
dia em que estava totalmente perdido numa filmagem no apartamento de Rubem Braga, na qual
carregava uma metralhadora e
dava voltas em torno de Jardel Filho. Foi perguntar a Glauber como fazer a cena, "pedir uma
orientação". O diretor, conta, fez
três gestos com a mão, completamente incompreensíveis. "É só."
Para quem quer ver ou rever
que solução Milani arrumou para
essa e outras "enrascadas" de
"Terra em Transe", o Canal Brasil
exibe o filme às 20h da próxima
terça. No mesmo dia, às 18h, vai
ao ar outro longa do ator, "O Padre que Queria Pecar" (1975).
Tarja Preta
Quando: hoje, às 22h, no Canal Brasil
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