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Yoshimasu faz versão japonesa de "Galáxias"
Poeta se inspira no "espírito" de Haroldo de Campos
DA REPORTAGEM LOCAL
Em "Crisantempo", seu último livro, Haroldo de Campos
(1923-2003) dedicou toda uma
seção ao poeta, fotógrafo e ensaísta japonês Gozo Yoshimasu, 67. Agora, o amigo, que traduziu "Ulysses" (de James Joyce) para o japonês, tenta devolver a gentileza dedicando-se a
uma adaptação, para sua língua, de uma das mais importantes obras de Campos, "Galáxias". O projeto deve ficar pronto em três anos.
"Tenho uma paixão por este
projeto e estou certo de que já
consegui vislumbrar o universo
do Haroldo", garante Yoshimasu, que gostaria de poder lançar
sua tradução do livro ao mesmo
tempo que as versões para o inglês, francês e espanhol.
Yoshimasu veio a São Paulo
participar do projeto "Hora H",
na Casa das Rosas, que reúne
estudiosos e admirados de Haroldo de Campos (com encerramento hoje à noite). Os dois se
tornaram amigos entre 1992 e
1994, quando Yoshimasu passou um período dando aulas na
Universidade de São Paulo.
Na época, Campos revelou a
Yoshimasu seu desejo de adaptar, para o português, uma texto clássico do teatro Nô, o "Harogomo de Zeami", que a Estação Liberdade acaba de reeditar no país. "O Haroldo sempre
me procurava para conversar
sobre os poetas haicaístas, como Bashô. Ele tinha uma curiosidade muito grande pelos
ideogramas do texto original de
"Osíris, o Deus de Pedra" [Estação Liberdade, 1992]. Uma curiosidade dedicada, o que o
qualificava como grande expert
em cultura japonesa."
O poeta está no país desde o
início do mês. Já passou por
Brasília e Parati, onde participou da Flip, e apresenta amanhã, às 16h, na Primavera dos
Livros (Centro Cultural São
Paulo), o filme "Thousand of
Islands". Espécie de "road-movie" poético, em que ele apresenta canções rurais, interpretadas por mulheres, o longa é
fruto de mais de sete anos de
viagens e pesquisas de Yoshimasu nas várias ilhas ao sul do
Japão, como Okinawa.
"Existe lá uma grande amplitude cultural. No trajeto entre
as ilhas, o que a gente nota é
uma sucessão de línguas diferentes, que se superpõem. E isso transforma a poesia produzida ali", diz Yoshimasu, que
identificou na região um forte
impacto cultural da Coréia,
China e sudeste asiático.
Espírito concreto
Viajante por excelência, Yoshimasu não passou pelo Brasil
impune: escreveu o poema
"Mata da Garoa", que apresenta amanhã na Primavera.
"É como um diário, ou desenho, que venho fazendo desde
que cheguei ao país. Ele traz o
espírito do Haroldo e por isso
dedico o poema a ele. Essa experiência está gerando uma nova rota no meu trabalho", diz
Yoshimasu, que compara a experiência concretista do amigo,
com a poesia de seu país.
"A poesia concreta tinha visão fragmentada da realidade.
E isso também é muito presente na cultura japonesa. Hoje
descubro que a poesia japonesa
é também concreta. E esse poema que dedico a ele é uma explosão da poesia de Haroldo."
Amanhã, Yoshimasu fará
também uma performance
com caligrafia japonesa, usando uma lâmina de cobre. "Ao
invés de escrever as letras, vou
encrustá-las. O lado gestual e
cênico desta performance revela minha relação corporal com
as palavras. Quero tateá-las, como fazia Haroldo."
(EDUARDO SIMÕES)
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