São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2007

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Crítica/Televisão

Kazan fala de si em "Sindicato de Ladrões"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Se existisse um só filme para condensar tudo o que foi Elia Kazan, ele seria "Sindicato de Ladrões" (Turner Classic Movies, 0h10). Talvez a razão mais superficial não seja o fato de Kazan, antes de tudo grande diretor de atores, dirigir aqui um grupo de talentos que inclui Karl Malden, Eva Marie Saint e Rod Steiger. Mas, claro, é Marlon Brando, talvez em sua maior interpretação, que toma conta de tudo.
O elenco acima dá conta das contradições da existência no cais, do sindicato corrupto, das leis do silêncio que vigoram entre os trabalhadores, das traições e dos negócios sujos. O sindicato é no tradicional padrão americano: mafioso.
Mas todo mundo sabe que Kazan não falava apenas disso, embora seu mérito seja falar exatamente disso com precisão. Ali está sua vida, como um livro (ou filme) aberto.
Ali está o porto, lugar de entrada e saída do país, faixa de terra onde existir é difícil e onde um imigrante como Kazan sempre se sentiu. Ali estão também as ambigüidades, o apego a grupos distintos, a pendência entre miséria e grandeza moral, a necessidade de lutar e existir na adversidade.
Não se pode esquecer que "Sindicato" é muito visto como uma espécie de alegoria da situação vivida por Kazan, que entregou nomes de ex-colegas do Partido Comunista no macarthismo, assumiu o que fez, foi para o limbo e reabilitou-se aqui. Felizmente, o filme fica além da alegoria, ou aquém.


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