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Crítica/Televisão
Kazan fala de si em "Sindicato de Ladrões"
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Se existisse um só filme para
condensar tudo o que foi Elia
Kazan, ele seria "Sindicato de
Ladrões" (Turner Classic Movies, 0h10). Talvez a razão mais
superficial não seja o fato de
Kazan, antes de tudo grande
diretor de atores, dirigir aqui
um grupo de talentos que inclui Karl Malden, Eva Marie
Saint e Rod Steiger. Mas, claro,
é Marlon Brando, talvez em sua
maior interpretação, que toma
conta de tudo.
O elenco acima dá conta das
contradições da existência no
cais, do sindicato corrupto, das
leis do silêncio que vigoram entre os trabalhadores, das traições e dos negócios sujos. O
sindicato é no tradicional padrão americano: mafioso.
Mas todo mundo sabe que
Kazan não falava apenas disso,
embora seu mérito seja falar
exatamente disso com precisão. Ali está sua vida, como um
livro (ou filme) aberto.
Ali está o porto, lugar de entrada e saída do país, faixa de
terra onde existir é difícil e onde um imigrante como Kazan
sempre se sentiu. Ali estão
também as ambigüidades, o
apego a grupos distintos, a pendência entre miséria e grandeza moral, a necessidade de lutar e existir na adversidade.
Não se pode esquecer que
"Sindicato" é muito visto como
uma espécie de alegoria da situação vivida por Kazan, que
entregou nomes de ex-colegas
do Partido Comunista no macarthismo, assumiu o que fez,
foi para o limbo e reabilitou-se
aqui. Felizmente, o filme fica
além da alegoria, ou aquém.
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