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Comentário
Incômodo e apelativo, "Brüno" é também o terrorista da tolerância
TONY GOES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Desde que o mundo é o mundo, a homossexualidade é motivo de piada. Dos recreios escolares aos programas de TV, o
sujeito nem sequer precisa sentir atração pelo seu próprio sexo, basta aparentar sentir, e ele
se torna o alvo permitido para
toda sorte de gozação. "Brüno"
inverte esta equação. A caça se
torna o caçador.
E, talvez pela primeira vez na
história do humor, a vítima da
gargalhada é o homofóbico, não
o homossexual. É por isto que o
filme vem causando tanto desconforto. "Brüno" expõe a homofobia latente que persiste
até nas pessoas mais liberais.
O personagem é um catálogo
de clichês gays elevados à enésima potência. Mas também
tem a autoestima nas alturas,
passando a léguas da culpa e da
sensação de marginalidade que
se costuma associar aos gays. É
um super-herói para os que
ainda estão no armário.
Brüno atropela com glamour
todas as barreiras culturais. Sobra para todo mundo: negros,
árabes, judeus. Mesmo a canhestra tentativa de "corrigir"
sua orientação sexual é motivada por sua sede de fama, não
por qualquer sentimento religioso ou de inadequação moral.
Brüno apanha e volta com
ainda mais força a ser o que já
era. Sim, o filme é extraordinariamente apelativo. Há uma cena em que um pênis aparece
em close, "dançando" e "falando", e tudo indica que o dito cujo pertence mesmo ao ator Sacha Baron Cohen.
Também é leviano e superficial: Brüno tem uma tendência
a transformar as questões mais
sérias em simples dilemas fashion, tipo isto-não-combina-com-aquilo, "hellooo"? É difícil
crer que, após "Borat", as pessoas "reais" que aparecem em
cena não desconfiem que estão
sendo feito de bobas. Mas, no
meio de tanta provocação há,
por incrível que pareça, uma
mensagem subliminar de paz e
amor. Lá pelas tantas, Brüno
vai ao Oriente Médio e tenta
convencer palestinos e israelenses a esquecer a cafonérrima disputa por terras.
Estúpido. Mas o mundo seria
um lugar melhor se eles seguissem sua sugestão e trocassem
receitas de húmus. Brüno é o
terrorista da tolerância.
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