CRÍTICA DA FOLHA

Platéia à meia-luz, ao som de "Namouna", de Lalo (1823-92). A luz cai, a cortina se abre e surge um quadro de bailarinos "clássicos" de branco e tutus. Com essa visão, que não tem lugar nem data, se iniciou o programa do Tokyo Ballet, sexta passada, no Rio.
A companhia traz um repertório variado. "Suite en Blanc" (1943), de Serge Lifar, é uma sequência de "tableaux" virtuosísticos, em que os bailarinos não deixam nada a desejar: tirando um pequeno estranhamento do palco inclinado do Municipal, o grupo inteiro foi preciso e harmônico.
"Symphony in D" ("Sinfonia em Ré", 1983), coreografia de Jiri Kylián, com música de Haydn, pode ser vista como paródia do balé clássico. Há alusões a vários balés, mas só para dar o ar da dança clássica: os papéis podem estar trocados ou transfigurados.
Depois da "Suíte" de Lifar, esta seria uma boa ocasião para observar cada maneirismo do clássico acentuado na paródia de Kylián. Mas o Tokyo Ballet faz inovações, nem sempre na mesma veia do coreógrafo. A ambientação original -fundo azul etéreo, figurinos azuis e rosas- foi trocada por macaquinhos de malha e bonés, transformando os bailarinos em operários (de sapatilha).
De onde vem isso? Decerto da sinfonia "O Relógio" de Haydn (1732-1809); mas os homens-máquina parecem tão longe de Kylián quanto do compositor. Cada um julgará a seu modo o resultado; vale só apontar que essa "Sinfonia em Ré" não é de Kylián (embora cada passo seja dele), e sim uma recriação do Tokyo.
A visão do quadro inicial e a técnica apurada dos bailarinos são mais fortes na memória do que os percalços da noite, mas o saldo é incerto. A mistura de estilos do Tokyo Ballet não parece bem definida: pode ou não ter força, no futuro, para nos convencer de que suas fraquezas são de fato virtudes -virtudes que ainda não sabemos ver. (INÊS BOGÉA)

Tokyo Ballet
   
Quando: sex., às 22h, e dom., às 17h
Onde: Credicard Hall (av. das Nações Unidas, 17.955, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 5643-2500)
Quanto: de R$ 20 a R$ 120