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MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
FAGNER E BALEIRO
Artistas falam sobre música baiana e nordestina, o "pessoal do Ceará" dos anos 70 e sucesso popular
Dupla reaproxima o "Nordeste de cima"
DA REPORTAGEM LOCAL
Fagner e Zeca Baleiro afirmam
que não têm como meta intencional promover uma reaproximação do "Nordeste de cima", que ficou ofuscado, nos 90, pela hegemonia baiana da axé music. Mas
não se furtam de discutir o tema.
"A Bahia não é o Nordeste, nem
o axé é um tipo de música associado ao Nordeste", começa Zeca. "A
música baiana é ensaiada no Nordeste e se apresenta no Sul. Os
baianos estão muito mais virados
para o sul", provoca Fagner.
Aí se localiza outra peculiaridade do disco da dupla, que foi gravado no Ceará, no estúdio de Fagner, de forma totalmente independente de gravadoras -só ao
final do processo a gravadora Indie Records encampou o trabalho. O selo de Zeca, o também independente MZA, cedeu o artista
para o projeto.
Zeca conta ter escrito letras tendo à janela a praia do Mucuripe,
tema de "Mucuripe" (72), melancólica canção que lançou os compositores Fagner e Belchior quando Elis Regina a transformou em
sucesso, em 72.
Isso daria ao disco uma brisa experimental à moda do Pessoal do
Ceará (movimento do início dos
anos 70 de que emergiram Fagner, Belchior, Ednardo, Fausto
Nilo, Amelinha e vários outros)?
Eles acham que o CD não possui
esse aroma em predomínio, mas
Zeca concorda quanto a um dom
mais compacto da música cearense em relação à maranhense.
"O Maranhão sempre esteve
apartado, nunca teve representantes nacionais. Tivemos nomes
isolados, como João do Vale, Chico Maranhão, Nonato Buzar, Alcione. O Nordeste sofre de seca,
eu sofri foi com enchente."
Fagner diz considerar ilusória a
aparente afinidade entre os músicos nordestinos de Ceará, Paraíba
(Zé Ramalho, Elba Ramalho) e
Pernambuco (Alceu Valença, Geraldo Azevedo).
"Fomos desagregados sempre.
Fui um pouco aglutinador, virei
executivo da CBS e levei grandes
porradas por isso", relembra Fagner. "Fiquei um pouco traumatizado, nego achava que eu mandava na gravadora, mas o que eu fazia era gravar os discos."
Não esconde uma ponta de melancolia pela desagregação do
"pessoal do Ceará". "Meu melhor
parceiro foi Belchior, e a última
música que fizemos juntos foi no
Ceará. Corri atrás de nos reunirmos nos últimos anos, mas nunca
deu certo", lamenta.
Enquanto o "pessoal do Ceará"
se reuniu num disco de 2002 de
Ednardo, Belchior e Amelinha,
Fagner achou Zeca Baleiro. E celebra o encontro: "A gente tem que
ser cavalo-de-batalha da renovação. Não vamos nos furtar de sair
por aí mostrando o trabalho".
Zeca vai além: "Ninguém aqui é
ingênuo. Nós sabemos do potencial comercial desse encontro, que
pode agregar o público dele ao
meu, o meu público ao dele. Não
temo o sucesso popular".
Artesão experiente de sucesso
popular, Fagner relativiza fora do
alcance dos ouvidos de Zeca Baleiro o discurso que aparentemente parece desvalorizar o parceiro mais jovem, em detrimento
da nostalgia cearense: "Ele é bicudo também. Tenho que segurar,
dar umas broncas de vez em
quando".
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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