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TEATRO/"A MORTE DE UM CAIXEIRO VIAJANTE"
Diretor acerta ao servir ao texto em montagem com ótimas atuações
Hirsch atinge maturidade com clássico de Miller
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Com "A Morte de um Caixeiro
Viajante", Felipe Hirsch supera a condição de "menino terrível" do teatro brasileiro. Seus recursos de encenador desta vez
não chamam atenção para si, mas
servem ao grande clássico moderno de Arthur Miller.
Ao narrar os últimos momentos
de vida de Willy Loman, caixeiro
viajante que descobre que sua vida foi um grande simulacro, Miller desmonta o sonho americano
numa narrativa que mistura tempos e lugares, como se para demonstrar que o mito capitalista
do trabalho levando ao sucesso
não é necessariamente uma relação de causa e efeito, mas um círculo vicioso maníaco-depressivo.
O cenário de Daniela Thomas e
a luz de Beto Bruel dão transparência a esse jogo, fazendo com
que uma frase banal como "por
que inventaram o queijo cremoso?" possa atrair enorme empatia,
como nas peças de Tchekov.
Loman é Marco Nanini, que
honra assim a tradição da personagem trágica ser feita por um
ator cômico. Vence o desafio de
sustentar as três horas do texto integral da peça com sua habitual
inteligência e comedimento.
Os elogios a Nanini cabem com
igual ênfase a Francisco Milani, o
vizinho que "vence na vida" ao
aceitar sua mediocridade. Juliana
Carneiro da Cunha, a resignada
mulher de Loman, atravessa a peça com discrição para deslumbrar
no fim, dando novo sentido à noção de dama do teatro.
Guilherme Weber, o filho mais
velho revoltado contra o pai, está
livre da função de narrador que
costuma assumir com Hirsch e
pode finalmente mergulhar por
inteiro no papel, amparado pelo
"irmão" Gabriel Braga Nunes.
Ao contrário de "Temporada de
Gripe", outra montagem de
Hirsch em cartaz, o importante
nessa encenação não é a excelência de seus recursos. O público sai
transtornado pelo tema, pensando nas personagens e não nos atores, e convencido de que o teatro
pode ser um instrumento de precisão para decifrar o mundo.
A Morte de um Caixeiro Viajante
Direção: Felipe Hirsch
Com: Marco Nanini, Juliana Carneiro da
Cunha e elenco
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141,
SP, tel. 0/xx/11/ 5080-3000)
Quando: de qui. a sáb., às 20h30; dom.,
às 17h; até 26/10
Quanto: de R$ 10 a R$ 40
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