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Monitores da Faap ganham mais do que os da USP
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Bienal do ingresso gratuito e
do discurso pró-inclusão social
será aquela em que uns monitores
vão ganhar mais do que outros.
Um aluno de artes plásticas da
USP vale 43,8% a menos do que o
estudante do mesmo curso da
Faap (Fundação Armando Alvares Penteado), segundo os pagamentos a monitores da 26ª Bienal
Internacional de São Paulo.
Os da Faap recebem uma bolsa
de R$ 800 por mês; os da USP,
Unesp (Universidade Estadual
Paulista) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), entre
outras, ganham uma ajuda da
Bienal de R$ 15 por dia. O ganho
43,8% menor foi estimado a partir
da hipótese de que o monitor trabalharia 30 dias por mês.
A Folha entrevistou cinco monitores, e eles disseram que não
sabiam da existência de pagamentos diferenciados. Uma aluna
do terceiro ano de artes plásticas
da Faap, que prefere não ter o seu
nome divulgado, classificou a situação de "absurda": "Os alunos
da Faap deveriam ganhar menos
porque são os mais ricos".
O valor médio da mensalidade
do curso de artes lá é de R$ 1.400.
Por conta do pagamento diferenciado, o departamento de artes plásticas da ECA (Escola de
Comunicações e Artes) da USP
elaborou um documento em que
questiona os critérios da Bienal,
segundo a Folha apurou.
O chefe do departamento do
curso da USP, Marco Bucci, não
revela o teor do texto por considerar que haveria quebra de hierarquia universitária -o texto foi
encaminhado à pró-reitoria de
cultura, que analisaria a conveniência de divulgá-lo ou não.
Tanto a Bienal quanto a Faap dizem que não há discriminação: os
valores pagos são diferentes porque as condições são diferenciadas. "Não há discriminação porque não sabemos quem é da Faap
e quem não é", diz o presidente da
Fundação Bienal, Manoel Pires da
Costa. Ele conta que não sabia que
a Faap "dava [ao monitor] um valor tão significativo". Os alunos da
Faap recebem da escola.
A Faap foi escolhida para cuidar
da formação dos monitores da
Bienal por causa da reputação do
seu curso de artes, de acordo com
Pires da Costa. Não há dinheiro
envolvido no processo. A Faap faz
o serviço em troca da promoção
indireta da faculdade que ocorre
durante a mostra, segundo ele.
Desde o ano passado, na Bienal
de Arquitetura, a Faap cuida da
formação e fornece monitores à
fundação. Com a Bienal de arte,
porém, a faculdade não tinha alunos suficientes. Dos 300 monitores necessários, a Faap forneceu
137 alunos; os demais vieram de
outras escolas.
"Não existem dois tipos de monitores. Essa leitura é muito cruel.
Não estamos pagando por esse
trabalho. É uma bolsa", argumenta Silvio Passarelli, diretor da Faculdade de Artes Plásticas da
Faap. Foram chamados alunos de
outras faculdades, segundo Passarelli, porque na Bienal de Arquitetura a Faap fora acusada de monopolizar o monitoramento.
A função da bolsa, afirma, é evitar que os estágios fiquem restritos às grandes corporações: "Damos a bolsa para que o aluno possa fazer estágio na periferia".
Ele diz que a Bienal queria que a
Faap arcasse com todos os pagamentos, mas o departamento jurídico recusou a proposta, sob o
argumento de que era ilegal.
Com a negativa, a Bienal buscou
monitores que topassem fazer o
trabalho voluntário em troca do
curso de arte que os monitores
têm de passar. Só depois decidiu
que os alunos deveriam receber
R$ 15 como ajuda.
"Não cobramos nada pelo curso
e ele não vai servir só para a Bienal. Vai formar monitores para o
mercado. É uma forma de inclusão", diz Pires da Costa.
Nilton Correia, presidente da
Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas, diz que o pagamento diferenciado para uma
mesma função é ilegal. Isso só é
permitido em dois casos: quando
há tempo de serviço diferente ou
quando a formação cultural distingue um dos profissionais.
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