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CINEMA/ANÁLISE
Paulo José expande repertório do cinema nacional
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Nem sempre o jeito é sério.
Em "Macunaíma", de Joaquim Pedro de Andrade, Paulo
José é a face branca do herói sem
nenhum caráter. Em "O Homem
Nu", de Roberto Santos, ele faz o
pândego sujeito que fica preso nu
fora de casa e inicia um longo caminho na tentativa de voltar para
o seu lar. Em "Cassi Jones", de
Luís Sérgio Person, ele é o sedutor
irresistível a que todas as mulheres acorrem.
Paulo José também pode ser
dramático como o jornalista que,
numa Brasília recém-construída,
toma posse de alguns segredos
comprometedores para os poderosos, o que acontece em "A Vida
Provisória", de Maurício Gomes
Leite. Pode ser romântico como o
"Benjamin" de Monique Gardenberg, herói de "Todas as Mulheres
do Mundo", de Domingos de Oliveira. Ou sorumbático como o estudante de "As Amorosas", de
Walter Hugo Khouri. A enumeração parece não ter fim, e poderia
prosseguir, bastando para isso seguir a programação da mostra
"Paulo José - 40 Anos de Cinema", que começa amanhã no
Centro Cultural Banco do Brasil,
em São Paulo.
Prazer
Paulo José domina tantos registros na arte de interpretar que
apenas sua presença em um filme
já dá a impressão de expandir o
repertório de nosso cinema. Mas
talvez não seja essa sua principal
característica, e sim o prazer que
transmite ao espectador cada vez
que entra em cena.
Seja atuando com um novato ou
com um medalhão, sempre dá a
impressão de ser menor do que o
papel, de se aproximar de seu personagem com humildade, para,
aos poucos, moldá-lo, submetê-lo, reduzi-lo a si mesmo.
Porque não vamos ao cinema
para ver o personagem que Paulo
José interpreta, e sim para ver
Paulo José, como antigamente as
pessoas iam ver Gary Cooper ou
Barbara Stanwick.
Talvez no passado isso não fosse
tão evidente. Ninguém foi ver "O
Padre e a Moça", de Joaquim Pedro de Andrade, para ver o padre
angustiado, entre a lei do celibato
e a beleza de Helena Ignez (aliás,
quase ninguém foi ver "O Padre e
a Moça", o que é uma pena). Ninguém foi ver "Todas as Mulheres
do Mundo" por sua causa. O filme
era de Leila Diniz.
Mas, aos poucos, bem discretamente, ele se tornou uma referência segura de qualidade e uma garantia de diversão. Era como Marcello Mastroianni na Itália ou
Alain Delon na França. A tal ponto que hoje não será absurdo falar
em uma obra de ator que, nesses
40 anos, nunca perdeu entusiasmo ou vigor.
Desaparecidos
Na bela mostra organizada pelo
CCBB, é preciso chamar a atenção
para alguns filmes há muito desaparecidos, como "A Vida Provisória", que abre esta retrospectiva, ou "O Padre e a Moça", o primeiro e talvez o melhor Joaquim
Pedro.
Há os que não chegaram a ser
devidamente conhecidos, como
"Os Marginais", de Carlos A. Prates e Moisés Kendler, ou ainda esses filmes em que retorna ao Rio
Grande do Sul, como "Gaudêncio, Centauro dos Pampas", de
Fernando Amaral, ou "O Mentiroso", de Werner Schunemann.
Mesmo nos trabalhos mais recentes, o ator demonstra disposição para transitar por registros
variados, indo do histrionismo
(excessivo, na verdade) de "Policarpo Quaresma, Herói do Brasil", de Paulo Thiago, ao intimismo de "Benjamin".
Por fim, é ele também o autor de
uma frase que resume sua inteligência e ficou célebre a ponto de
ser estampada em camisetas: "O
Brasil faz o melhor cinema brasileiro do mundo". Primor de ambigüidade.
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