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Público acha "normal" pagar R$ 300 em show
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Pagar R$ 300 para assistir ao
show do Moby não causa nenhum constrangimento social
-ao menos para aqueles que foram ao hotel Unique na última
sexta. De salário mínimo em salário mínimo, o que movia a noite
era o sonho individual de ser especial, ser uma pessoa muito importante. VIP, enfim.
"O Brasil é assim mesmo. A
gente não tem culpa que muitas
famílias vivam com R$ 300 por
mês", diz Fernanda Harger, 22,
formada em administração. "Sei
que soa preconceituoso, mas...",
pondera. Ela optou pelo show no
Unique em vez da apresentação
no Espaço das Américas (com ingressos mais "baratos", a R$ 140)
porque acredita que o preço "seleciona as pessoas". "Acho até bom
que seja meio caro; quando a balada é muito barata, eu desconfio.
Aqui a gente só vê pessoas mais
bonitas e educadas."
"Sei que R$ 300 não é pouca coisa, mas dinheiro não é problema
para mim", diz o empresário de
eventos Márcio Ávila, 24. "Tudo
depende da base da comparação.
Ao menos uma vez por semana,
gasto isso numa balada." Para ele,
o show era uma boa ocasião para
paquerar moças, já que não fazia
idéia de quem era Moby. Ávila
queria gastar "uns R$ 400", além
da entrada, já que pagaria pelo estacionamento (R$ 20) e por bebidas -que não eram as cervejas
"gratuitas" oferecidas na festa.
Já o casal de amigos Vanessa
Prieto, 26, e Marcelo Muller, 23,
era a própria encarnação da luta
de classes. "Só vim porque ganhei
o ingresso. Não viria se tivesse que
pagar. Sou consciente da situação
do Brasil", afirma Prieto. "Ela é
marxista...", ironiza Muller. E ele,
pagou? "Não. Foi meu pai. Eu tive
sorte de nascer assim. Tenho noção do absurdo, mas prefiro me
enquadrar no sistema."
O publicitário Fernando Brito,
37, não pagou, mas ganhou. É
VIP, portanto. Ele se acha muito
especial? "Se sou mais especial
que os outros, não sei. Mas as pessoas não têm culpa de ter grana."
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