São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Público acha "normal" pagar R$ 300 em show

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pagar R$ 300 para assistir ao show do Moby não causa nenhum constrangimento social -ao menos para aqueles que foram ao hotel Unique na última sexta. De salário mínimo em salário mínimo, o que movia a noite era o sonho individual de ser especial, ser uma pessoa muito importante. VIP, enfim.
"O Brasil é assim mesmo. A gente não tem culpa que muitas famílias vivam com R$ 300 por mês", diz Fernanda Harger, 22, formada em administração. "Sei que soa preconceituoso, mas...", pondera. Ela optou pelo show no Unique em vez da apresentação no Espaço das Américas (com ingressos mais "baratos", a R$ 140) porque acredita que o preço "seleciona as pessoas". "Acho até bom que seja meio caro; quando a balada é muito barata, eu desconfio. Aqui a gente só vê pessoas mais bonitas e educadas."
"Sei que R$ 300 não é pouca coisa, mas dinheiro não é problema para mim", diz o empresário de eventos Márcio Ávila, 24. "Tudo depende da base da comparação. Ao menos uma vez por semana, gasto isso numa balada." Para ele, o show era uma boa ocasião para paquerar moças, já que não fazia idéia de quem era Moby. Ávila queria gastar "uns R$ 400", além da entrada, já que pagaria pelo estacionamento (R$ 20) e por bebidas -que não eram as cervejas "gratuitas" oferecidas na festa.
Já o casal de amigos Vanessa Prieto, 26, e Marcelo Muller, 23, era a própria encarnação da luta de classes. "Só vim porque ganhei o ingresso. Não viria se tivesse que pagar. Sou consciente da situação do Brasil", afirma Prieto. "Ela é marxista...", ironiza Muller. E ele, pagou? "Não. Foi meu pai. Eu tive sorte de nascer assim. Tenho noção do absurdo, mas prefiro me enquadrar no sistema."
O publicitário Fernando Brito, 37, não pagou, mas ganhou. É VIP, portanto. Ele se acha muito especial? "Se sou mais especial que os outros, não sei. Mas as pessoas não têm culpa de ter grana."


Texto Anterior: Música: Entre desculpas, Moby critica Bush, imita Sepultura e toca Doors
Próximo Texto: Shows lembram violonista Garoto
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.