São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2008

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CONEXÃO POP

Os novos Hermanos


As atuais facetas de Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante; e boas surpresas em disco de TV on the Radio e Glasvegas

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

MARCELO CAMELO e Rodrigo Amarante lançam discos quase simultaneamente, e é tentador comparar um com o outro, os dois principais compositores do Los Hermanos. "Nós", disco de Camelo, beira o insuportável. O que o Los Hermanos tinha de pior -a inútil idealização de uma época que não volta mais; a melancolia auto-indulgente; letras tão idílicas que fariam João Gilberto passar por contestador; arranjos que vão na direção do samba-canção e da tradição MPBística, mas que tateiam sem chegar a lugar nenhum. Já Amarante aparece com o Little Joy, projeto em que é acompanhado por Fabrizio Moretti, o baterista dos Strokes. O disco da banda sai em 4 de novembro, mas eles colocaram no www.myspace.com/littlejoy music três faixas que estarão no álbum. O clima aqui é de total descontração, com músicas que caminham soltas e com naturalidade pelo reggae, pelo pop californiano dos anos 1960, com algumas paradas para retoques psicodélicos. "With Strangers" nos transporta para um fim de tarde em uma praia havaiana; "No One's Better Sake" é um neo-reggae lisérgico; e "Brand New Start" é como uma mistura de... Strokes com Los Hermanos. Muito boa.

 
Se em 2007 tivemos "Sound of Silver" (LCD Soundsystem) e "Kala" (M.I.A.), dois discos excepcionais, que se posicionavam com naturalidade como destaques do ano, em 2008 ainda não apareceu nenhum álbum que surpreendesse (claro, isso pode mudar no mês que vem, quando sai o novo do Oasis...). Mas há boas surpresas surgindo. Uma delas é "Dear Science", o terceiro disco de estúdio do TV on the Radio, que ganha lançamento no exterior na semana que vem. O TV on the Radio é das bandas mais heterodoxas do rock atual, da new wave ao pós-punk, do barulho das guitarras do Pixies às distorções do My Bloody Valentine. No novo disco, há ainda uma bem-vinda atmosfera dançante, com músicas que se inspiram na disco music e na música negra americana -como "Crying", "Golden Age" e "Dancing Choose". Outro disco incontornável neste ano é a estréia homônima do Glasvegas, quarteto escocês cujo disco brigou na semana passada com o Metallica pelo topo da parada britânica -os veteranos headbangers venceram a batalha. Pela voz de James Allan, a banda solta canções que vão de situações áridas a arrependimentos dolorosos -não dá para não comparar com Smiths. Mas há também um clima de euforia, de celebração que remete ao britpop de Oasis. "Daddy's Gone", com guitarras etéreas e a voz marcante de Allan, é uma boa porta de entrada para o mundo do Glasvegas. Há ainda "Flowers and Football Tops", que deve ter causado inveja em Noel Gallagher.

thiago@folhasp.com.br



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