São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2008

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MÚSICA

Pedro Luís e Lenine quebram jejum

Carioca e sua banda voltam à ativa com "Ponto Enredo", produzido pelo pernambucano, que também lança CD, "Labiata'

Para Lenine, "samba e macumba" permeiam o som de Pedro Luís e a Parede, que toca bateria em canções do sexto disco solo do colega


CAIO JOBIM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Houve momentos entre abril e maio deste ano em que Lenine chegou a passar 20 horas por dia em estúdio. Ele estava dividido entre a gravação de "Labiata" (Universal), seu sexto trabalho solo, e a produção de "Ponto Enredo" (independente), disco que marca a volta de Pedro Luís e a Parede à ativa.
O grupo carioca vinha se dedicando a outros dois projetos: um com Ney Matogrosso, e o outro, as festas e desfiles do Monobloco, o maior fenômeno de público da revitalização do Carnaval de rua do Rio.
Gravados praticamente ao mesmo tempo, "Labiata" e "Ponto Enredo" estão sendo lançados agora.
"O meu trabalho está tão imbuído de prazer que eu acabo me iludindo, achando que não estou trabalhando, e passo horas e horas naquilo, pensando que estou me divertindo. Era de manhã com a Plap [Pedro Luís e a Parede] e de tarde até a noitinha fazendo o meu [disco]", lembra Lenine.
Pode parecer coincidência essa confluência entre a obra de Lenine e a da Plap, mas para o pernambucano é uma questão de "sincronicidade". Em 1997, enquanto ele lançava "O Dia em que Faremos Contato", seu primeiro trabalho solo, Pedro Luís e a Parede estreavam em disco com "Astronauta Tupy". A mistura de música pop com acento brasileiro em canções como "Caio no Suingue", dos cariocas, e "Que Baque é Esse?", do pernambucano, conquistou o público.
De passagem pelo estúdio, Lenine participou de "Chuva de Bala" fazendo intervenções de voz e percussão de boca. Embora a colaboração não tenha sido creditada, Pedro Luís lembra que ela não se limitou a essa faixa. "Em "Tudo Vale a Pena", que está nesse primeiro disco, Lenine tocou violão. Eu comecei a me aproximar dele nessa época. Desde lá, nos discos dele ou nos nossos, a gente está junto", conta o músico.

"Correndo por fora"
No ano passado, quando a Plap resolveu gravar um novo disco, os músicos convidaram Lenine para fazer a produção. "É um cara que a gente conhece e tem uma escola parecida com a nossa. Também veio correndo por fora do mercado, fazendo o som dele do jeito que ele acha que é", diz Pedro Luís.
Primeira (e única) música composta por Pedro e Lenine, "Quatro Horizontes" foi feita para a trilha sonora do filme "O Diabo a Quatro", de Alice Andrade, no qual aparece em duas versões: uma em ritmo de maracatu e outra em andamento de choro. Em "Ponto Enredo", reaparece como samba.
A guitarra de Leo Saad, incorporado ao grupo para o disco e para os shows, se faz presente em todas as faixas. Para os integrantes da banda, isso não significa que "Ponto Enredo" seja um disco mais pesado ou roqueiro. Assim como a predominância de sambas no repertório não faz do compositor Pedro Luís um sambista.
Lenine fez a produção como se fosse "mais um integrante da banda" e batizou o disco a partir do título de uma das canções. "Eu achava que "Ponto Enredo" era a síntese, porque faz referência às duas coisas que permeiam o som da Plap: samba e macumba", diz.

Urgência
O disco novo de Lenine foi criado com um sentido de urgência. As 11 músicas foram compostas em 15 dias, durante o mês de março, em um processo totalmente diverso do ocorrido em trabalhos anteriores. "Eu fazia uma música à noite, no dia seguinte gravava uma pequena base com ela no estúdio, voltava para casa e fazia uma outra música", diz.
Na hora de revestir de arranjos as composições, Lenine optou por fazê-lo com os integrantes da banda que o acompanha há 15 anos. Somente músicos com quem mantém uma relação próxima são como convidados. Entre eles, a bateria da Parede em "A Mancha" e "É Fogo". Esta, segundo Lenine, é a união do som dele com o do "Rio da rua, suburbano".
Para o compositor, "Labiata" é um desdobramento de seus dois últimos trabalhos: o sentido de banda que o "Acústico MTV" (2006) fortaleceu entre ele e os músicos que o acompanham somado à liberdade e ao desprendimento em estúdio que ele experimentou enquanto fazia a trilha sonora do espetáculo "Breu" (2007), balé do Grupo Corpo. "É um disco todo na primeira pessoa, e o foco é na natureza. Mesmo as canções em que o foco não é explícito falam sobre a natureza humana", afirma Lenine.


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