São Paulo, sábado, 19 de setembro de 2009

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Pós-Collor, cinema e teatro se afastaram do público

DA REPORTAGEM LOCAL

Não se trata de repisar o passado. Mas, para compreender o teatro e o cinema no Brasil convém voltar atrás no tempo, até o governo Collor. Sequestrada a poupança, extinta a Embrafilme e esvaziados os teatros, a produção cultural brasileira viveu, no início dos anos 1990, um apagão. O socorro viria na forma de leis de incentivo.
"Num primeiro momento, as leis foram fundamentais. Mas, depois, geraram um modelo perverso de dependência do Estado e de acomodação", diz Eduardo Tolentino, diretor do grupo Tapa. "Onde já se viu um teatro que só trabalha três vezes por semana? Quando comecei, as temporadas eram de terça a domingo." A nova peça do Tapa, "Cloaca", foi feita sem incentivos fiscais.
Quem juntou-se ao coro dos que pregam a reaproximação com o público como única saída para o teatro -pois também os patrocínios escassearam- é Antonio Fagundes. "Tive o projeto aprovado na lei, mas resolvi não usá-la porque preciso retomar o vínculo com o público. Antes, você ia ao banco, dava o carro como garantia, pegava um empréstimo e, em quatro meses, pagava sua peça", diz o ator, em cartaz com o monólogo "Restos". "A lei faz a produção funcionar, mas não faz ninguém ir ao teatro."
Se, no teatro, foram muitas as cortinas baixadas, no cinema a situação foi ainda pior. Pós-Collor, o parque exibidor do país caiu à metade. "O cinema não é sustentável se não tivermos, pelo menos, 8 mil salas", diz Mariza Leão, produtora de "Meu Nome Não É Johnny". Hoje, são cerca de 2 mil cinemas. "Lembra da música "90 milhões em ação'? Pois é, éramos 90 milhões de pessoas e 250 milhões de ingressos vendidos. Hoje, a conta se inverteu." Hector Babenco viu esse público lotar as salas e pagar a produção, por exemplo, de "Lúcio Flávio" (1977). Já "Carandiru" (2003) teria sido inviável sem apoios públicos. "Os filmes custavam mais barato e o país era outro", diz o cineasta. "O problema da falta de público, no Brasil, é também um problema de falta de educação e de renda." (ANA PAULA SOUSA)


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