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Pós-Collor, cinema e teatro se afastaram do público
DA REPORTAGEM LOCAL
Não se trata de repisar o passado. Mas, para compreender o
teatro e o cinema no Brasil convém voltar atrás no tempo, até
o governo Collor. Sequestrada a
poupança, extinta a Embrafilme e esvaziados os teatros, a
produção cultural brasileira viveu, no início dos anos 1990,
um apagão. O socorro viria na
forma de leis de incentivo.
"Num primeiro momento, as
leis foram fundamentais. Mas,
depois, geraram um modelo
perverso de dependência do
Estado e de acomodação", diz
Eduardo Tolentino, diretor do
grupo Tapa. "Onde já se viu um
teatro que só trabalha três vezes por semana? Quando comecei, as temporadas eram de
terça a domingo." A nova peça
do Tapa, "Cloaca", foi feita sem
incentivos fiscais.
Quem juntou-se ao coro dos
que pregam a reaproximação
com o público como única saída
para o teatro -pois também os
patrocínios escassearam- é Antonio Fagundes. "Tive o projeto
aprovado na lei, mas resolvi
não usá-la porque preciso retomar o vínculo com o público.
Antes, você ia ao banco, dava o
carro como garantia, pegava
um empréstimo e, em quatro
meses, pagava sua peça", diz o
ator, em cartaz com o monólogo "Restos". "A lei faz a produção funcionar, mas não faz ninguém ir ao teatro."
Se, no teatro, foram muitas as
cortinas baixadas, no cinema a
situação foi ainda pior. Pós-Collor, o parque exibidor do
país caiu à metade. "O cinema
não é sustentável se não tivermos, pelo menos, 8 mil salas",
diz Mariza Leão, produtora de
"Meu Nome Não É Johnny".
Hoje, são cerca de 2 mil cinemas. "Lembra da música "90
milhões em ação'? Pois é, éramos 90 milhões de pessoas e
250 milhões de ingressos vendidos. Hoje, a conta se inverteu." Hector Babenco viu esse
público lotar as salas e pagar a
produção, por exemplo, de "Lúcio Flávio" (1977). Já "Carandiru" (2003) teria sido inviável
sem apoios públicos. "Os filmes
custavam mais barato e o país
era outro", diz o cineasta. "O
problema da falta de público,
no Brasil, é também um problema de falta de educação e de
renda."
(ANA PAULA SOUSA)
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