São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2010

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"Nunca vou conseguir matar a Gretchen"

Depois da derrota nas eleições de 2008, a cantora retoma o rebolado

Agenda atual chega a uma apresentação por dia; repertório varia entre forró, tecnobrega e hits dos anos 80

DE SÃO PAULO

Em momento crucial de "Gretchen Filme Estrada", pouco antes de saber o resultado das urnas, a protagonista confessa que, entre outras coisas, decidiu se candidatar à prefeitura de Itamaracá porque estava cansada.
Não aguentava mais cantar, pelo menos uma vez por dia (e por três décadas a fio), as mesmas três músicas.
Dizia assim, em terceira pessoa: "Vivi a vida dela [de Gretchen] até agora. Chegou a hora de viver a minha [de Maria Odete]".
Acontece que, instantes depois dessa declaração, Maria Odete descobriu que não seria a prefeita da Ilha. E, agora sabemos, Gretchen nunca pôde se aposentar.
"Entendi que, mesmo que eu queira, nunca vou conseguir matar a Gretchen", diz à Folha, por telefone, de Candeias, praia ao Sul de Recife para onde se mudou depois das eleições de 2008.
"Ela é um ícone de independência, autoestima e liberdade feminina. Como a Leila Diniz."
Foi em 1976 que batizou a personagem que conduziria sua vida dali para sempre.
Passava de ônibus pela praça da República, em São Paulo, quando viu o cartaz na porta do cinema: "Aleluia, Gretchen".
O filme de Sylvio Back contava a história de uma família que, na década de 1930, fugiu da Alemanha nazista e veio morar no Brasil.
Maria Odete, porém, nem ficou sabendo disso. Gostou do nome simplesmente porque era "complicado".
E, sob o escudo da Gretchen, gravou 16 álbuns. Ficou famosa na televisão, cantou em circo, boates, palanques. Posou nua. Começou faculdade de letras. Fez um filme pornô. Tornou-se evangélica.
A conversão, diz, impôs os limites da Maria Odete -não os da Gretchen. "Trabalho é trabalho."
O filme pornô é o único assunto de que ela não fala, a única coisa de que diz se arrepender nessas três décadas. Atualmente, a agenda publicada no site da cantora-dançarina ostenta quase um show por dia, provando que o rebolado continua.
Como não conseguiu se inventar prefeita, Maria Odete optou por ampliar as possibilidades de atuação no lugar que conheceu melhor nesses anos: o palco.
Dividiu sua personagem em outras três. Uma canta forró na banda Sedução de Ubaí, inaugurada há oito meses, com foco no público do Nordeste. Outra, dedica-se ao tecnobrega em projeto voltado exclusivamente a reler sucessos da nova música pop paraense.
A última, e mais procurada de todas, é ela própria: a Rainha do Bumbum, que rebola e canta sobre o mesmo playback dos anos 1980 os três únicos sucessos que emplacou na vida.
Nos três casos, a regra é: se cair no chão, levantar-se e começar tudo de novo.


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