São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2011

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CRÍTICA ÓPERA

Com elenco local, Municipal tem "Rigoletto" de prestígio

JORGE COLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A estreia de "Rigoletto", de Verdi, no último dia 12, no Theatro Municipal de São Paulo, deu-se em noitada de festa, quando o teatro foi fechado para convidados. Coisa nada simpática, essa, de bloquear um espetáculo só para os amigos da prefeitura.
A prefeitura tem seu camarote, e é muito justificável que reserve para si alguns ingressos de cortesia. Mas dinheiro público pagando representação para figurões, sei não.
Ainda mais que muitos ou não vieram, ou vieram apenas para o coquetel e foram embora, escapando de aguentar uma ópera em três atos porque ninguém é de ferro.
Depois do coquetel e da discurseira, o elenco internacional cantou para uma sala meio vazia. A experiência e a musicalidade do barítono, no papel de Rigoletto, não compensaram o declínio da voz, já sem cor e sem projeção; Gilda, a soprano, não atingia os agudos exigidos pela partitura; o tenor mostrou-se sem nuances e sem volume.
A ópera só levantou certa emoção no público durante o último ato, que exige um pouco menos dos cantores. Compensava a força poderosa da música, sustentada pela orquestra, transparente, lírica, uma beleza.
Para que trazer um elenco de segunda ou terceira zona? Pagar caro a cantores medíocres? Compreende-se que o Municipal quisesse um espetáculo de prestígio para seu centenário. No caso, deveria abrir de fato os cofres e pagar artistas prestigiosos.
Na sexta, dia 16: Municipal apinhado e ávido. O elenco , desta vez o nacional, obteve um triunfo.
Rodolfo Giugliani, formidável Rigoletto, tem o timbre verdiano, potência vocal, força expressiva e interpretativa. Gilda foi assumida por Lina Mendes, menina que mal chegou aos 24 anos! Há progressos por fazer, mas que frescor no timbre, que delícia ouvi-la subir até alturas vertiginosas no "Caro Nome".
Marcos Paulo, o duque, é um tenor elegante, nuançado, musical. Savio Sperandio estupendo, como Sparafucile. Maravilhosos Stephen Bronck, Edinéia de Oliveira, e Celine Imbert. A orquestra, mais rodada, se incendiava graças a Abel Rocha -meio mago, inspirado, iluminado pela emoção.
Os cenários austeros, que pareciam esquálidos na estreia, ganhavam poesia: no final, expondo as coxias e envolvendo a sala nos reflexos de um plano d'água, levavam o teatro inteiro para um mundo de sonhos maus.

RIGOLETTO
AVALIAÇÃO
regular (elenco internacional); ótimo (elenco nacional)

JORGE COLI é professor de história da arte e da cultura no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. Ele é autor de um dos textos do programa distribuído ao público da atual montagem de "Rigoletto"


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