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São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2003

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Roberto Avallone e dupla do "RockGol" batem bola sobre o futuro da mesa-redonda

Bola dividida

LAURA MATTOS
MARÍLIA RUIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Parecia uma mesa-redonda de verdade, com todo mundo falando ao mesmo tempo sobre assuntos completamente diferentes.
Ícone da velha guarda dos debates futebolísticos na TV, Roberto Avallone, 58, ficou cara a cara com a dupla de apresentadores do "RockGol" -que virou sucesso neste ano ao satirizar as mesas-redondas tradicionais e tratar o futebol com humor escrachado.
A convite da Folha, o ex-apresentador do "Mesa-Redonda Futebol e Debate", demitido da Gazeta há duas semanas, conversou com Paulo Bonfá, 31, e Marco Bianchi, 31, sobre a mudança de rumo dos programas esportivos das noites de domingo. Para os três, há uma tendência: tornar os debates menos técnicos, fechados a fanáticos, e usar o humor para atingir uma audiência maior.
Apesar de concordar, Avallone não quis ser chamado de "velho". "O "RockGol" é o símbolo de uma nova etapa. Mas sem descartar o meu símbolo. Porque o que faço foi classificado pelo Galvão Bueno como atuação apartista. É "commedia dell'arte", inspirada no [ator italiano] Vittorio Gassman, o símbolo da irreverência. Sou um cara irreverente. Tenho até idade, mas não sou antigo."
Para Bonfá, falar em velho e novo "é pejorativo". Já Bianchi afirma que é possível falar em velha e nova escola de mesa-redonda, mas "o que é velho não necessariamente é ruim, e o novo não é necessariamente bom".
Avallone encerra a polêmica: "Vamos empatar esse jogo e dizer que todo mundo é bom. Vocês são novos e velhos, e eu sou velho e novo. E fim de papo".
Abaixo, trechos dessa mesa-redonda realizada na última quarta:
 

INFORMAÇÃO X HUMOR
Paulo Bonfá -
Há pessoas que assistem ao "RockGol" porque gostam de futebol, e há as que assistem porque gostam da gozação.

Roberto Avallone - Vocês pegaram uma fórmula boa. A minha proposta seria a de unir os dois tipos de programa, humor com informação. Aí seria mais completo. Porque quem conhece futebol como eu? Pouca gente.

NOVA GERAÇÃO
Avallone -
O grande perigo é o jovem artista pensar que é melhor do que o mais consagrado. Eu tenho 37 anos de carreira. Já passei da fase de me deslumbrar, mas tenho consciência do meu valor.

Bianchi - Não me enquadro nisso. É bom deixar claro que não estamos vindo para substituir ninguém, são propostas diferentes.

Bonfá - Nosso ponto de vista é mais descompromissado, sem, ao mesmo tempo, esquecer a crítica. Mas o futebol tem que ser encarado como entretenimento, até para limar o fanatismo, o cara que vai ao campo para brigar.

Bianchi - Eu senti na pele o que é o fanatismo. Fui agredido por cinco pessoas porque teria dito coisas agressivas sobre um time, sendo que a gente brinca com todos os clubes. Estou operando o joelho pela quinta vez.

BITOLADO
Bianchi -
A tendência é que os programas mais informativos tornem-se mais bem-humorados e abram uma janela para o mundo, porque às vezes parece que existe uma redoma..

Avallone - [interrompendo] Você acha que estou bitolado?

Bianchi - Acho que o programa...

Avallone - [interrompendo] Ah, o programa. Porque falo de cinema, de teatro, de tudo.

Bonfá - Tenho uma crítica. Em muitos momentos, os debatedores se levam muito a sério. Acho que há telespectadores cansados de ver pela oitava vez o cara debater se estava impedido ou não..."

VELHO X NOVO
Bianchi -
Ao mesmo tempo em que as mesas-redondas mais informativas poderão se tornar mais bem-humoradas, as como a nossa poderão acrescentar um pouco mais de informação.

Avallone - Aí empatou, aí está tudo certo.

Bianchi - São propostas diferentes, que podem se aproximar. Mas torço para que continuem existindo programas mais informativos. Primeiro porque há público e, depois, porque sem eles não vamos ter mais inspiração [risos].

Avallone - E o velho não necessariamente é velho. Fui a um profissional que media a idade energética. Há três anos, tinha 25, segundo ele. Então hoje eu tenho 28.



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