São Paulo, terça-feira, 19 de outubro de 2004

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TELEVISÃO

A apresentadora Márcia Goldschmidt fala sobre o homem que invadiu seu programa na Band com uma arma

'Não brincaríamos com algo tão violento'

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

Conhecida pelos "telebarracos" que armava na TV, Márcia Goldschmidt diz que nunca imaginou que passaria por algo parecido com o que ocorreu anteontem: um homem armado invadiu o estúdio em que apresentava, ao vivo, o "Jogo da Vida", na Band.
O invasor, o vendedor Moacir Camargo Borges, 32, rendeu um segurança na portaria da emissora. Ele queria participar do programa de Márcia para tentar uma reconciliação com a ex-mulher. O vendedor ficou seis minutos no ar. Foi desarmado, fora do ar, por um policial que estava na platéia, que o imobilizou com uma "gravata". O "Jogo da Vida" acabou mais cedo, uma hora e meia antes.
Borges está preso no 34º Distrito Policial, na Vila Sônia. Foi autuado em flagrante por quatro crimes: porte ilegal de arma (inafiançável), violação de domicílio, perturbação do serviço de telecomunicações e perigo de vida ou de saúde. Não tinha porte de arma, e o revólver (um 38, com cinco balas) que usava era de um amigo e estava com o registro vencido.
Ontem, Márcia falou com exclusividade à Folha. Falou da correria que houve no estúdio, em que havia 200 pessoas na platéia.
 

Folha - Quando o homem entrou armado, você não pensou que era uma "surpresa" da produção?
Márcia Goldschmidt -
Não, de forma alguma. Com uma arma?
Folha - Não estava no script.
Goldschmidt -
Acho que nunca estaria, porque seria de uma irresponsabilidade... Foi um susto. Minha primeira reação foi pensar que era alguém que estava atrás do Waguinho [pagodeiro que ela entrevistava no palco].
Folha - Quando caiu a ficha?
Goldschmidt -
Ainda não assisti [ao videoteipe]. Que eu me lembro, o Waguinho estava rindo.
Folha - Você lida com gente de todo o tipo. Nunca imaginou que isso pudesse acontecer?
Goldschmidt -
Nunca. Claro que a gente está acostumado a lidar com pessoas emocionalmente desequilibradas, que choram, gritam, mas não que vão para a frente da câmera com uma arma.
Folha - Ele olhava para o vídeo.
Goldschmidt -
E exigia que o programa continuasse no ar.
Folha - O que aconteceu depois que o programa saiu do ar?
Goldschmidt -
Pois é, [o programa] não podia sair [do ar] pra ele. Porque a ameaça era: "Se tirarem do ar, eu atiro". Deixou bem claro: "Não tira do ar!". E apontava a arma. Minha preocupação era preservar a vida das pessoas. Tinha platéia, fiquei com medo de que ele atirasse nas meninas do balé. Meu instinto foi: "Estando aqui, posso fazê-lo se acalmar".
Folha - Você teve que continuar com o programa mesmo fora do ar.
Goldschmidt -
Do switcher [ilha de edição], me falavam [pelo ponto eletrônico]: "Sai daí, esse cara vai atirar!". Mas eu não podia. Se eu me afastava dele, ele vinha para cima. Comecei a voltar a atenção dele para a câmera. Falei para ele falar com a câmera. Quando ele se viu no monitor, começou a se envolver. Nós tiramos o programa do ar, mas continuamos mostrando ele no monitor, em videoteipe. Só que houve um lapso e ele percebeu. Gritou: "Vocês me tiraram do ar". Ele continuou falando.
Nessa hora eu saí do estúdio, a platéia também. Foi uma correria. Não vi ele ser desarmado.
Folha - Você saiu antes?
Goldschmidt -
Sim. A produção estava desesperada, os convidados, nervosos. A gente achava que ele ia atirar nele mesmo.
Folha - Depois você não conseguiu mais voltar ao ar?
Goldschmidt -
Estava passada. Na hora, você tem o instinto de segurar a situação. Mas depois você acha que isso não aconteceu. Só sosseguei quando falaram que tinham tirado a arma dele. Aí baixou uma crise de choro.
Folha - Você já esteve de frente com alguém armado?
Goldschmidt -
Já fui assaltada, tive com revólver na cabeça. Mas agora foi pior. Eu tinha responsabilidade pelas pessoas que estavam lá. Pensei: "Meu Deus, se ele tiver que atirar em alguém, que atire em mim". Entrei num transe, não sei o que ele falou.
Folha - Tem gente achando que foi armação?
Goldschmidt -
As pessoas insistem em falar bobagens. Onde já se viu uma situação tão constrangedora, tão violenta, ser objeto de uma brincadeira num programa? Não tem sentido. Foi surreal.


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