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"Volta" chegará ao Brasil mais afiado, prevê Björk
Cantora islandesa afirma que seu show atual é mais bem resolvido que seu novo CD
"Fazer CD não é masturbação nem lição de psicologia para mim mesma", afirma cantora, que se apresenta no Rio, em SP e em Curitiba
Divulgação
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A cantora islandesa, atração do Tim Festival, que acontece neste mês |
LUCRECIA ZAPPI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK
"Volta" não é um regresso.
Faço todo tipo de música desde
os 12 anos. Só porque agora é
música extrovertida, com ritmo, não significa que esteja revisitando "Debut" [1993]. Seria
uma forma simplista de encarar o disco. As batidas são muito diferentes, tipo "a" e "b". Têm
outros elementos e, emocionalmente, eu me sinto em outro
lugar", diz Björk em entrevista
à Folha, no escritório da gravadora Universal, no Meatpacking District, em Nova York.
Mesmo que esse "outro lugar" se pareça em grau de ecletismo com tudo o que ela já fez,
salta aos ouvidos em "Volta",
seu sexto álbum solo, uma sonoridade divergente e a presença forte de músicos de várias origens. E, se o número de
vendas de CDs indica para onde vai Björk, vale notar que entre o primeiro ("Debut") e
"Medula" (2004), que antecedeu "Volta", ela vendeu perto
de 3 milhões de discos, em ordem decrescente -o que talvez
mostre que esteja esfriando no
termômetro comercial.
Mas, desde que despontou
no fim dos anos 80 à frente da
banda punk islandesa Sugarcubes, Björk Gudmundsdóttir,
que faz 42 anos em novembro,
é influência de peso não só nos
universos do pop e do rock alternativo: além de acumular 12
Grammys, entre álbuns e videoclipes, levou, por exemplo,
a Palma de Ouro (2000) como
melhor atriz em "Dançando no
Escuro", de Lars von Trier.
A islandesa traz ao Brasil o
show da turnê "Volta", iniciada
em abril. Ela toca no Tim Festival em São Paulo, no Rio e em
Curitiba, e diz que o show está
mais afiado tecnicamente, dos
equipamentos eletrônicos à
banda de metais. Os efeitos visuais, conta, são mínimos, "para despertar os ouvidos".
No show de 2 de maio no Radio City Hall, em Nova York,
sentia-se o peso do palco. Descalça e frenética, Björk abriu
com a potente "Earth Intruders" ao lado dos congoleses
Konono Nš 1. Contrastaram
com a delicadeza do malinês
Toumani Diabaté ou do americano Anthony Hegarty, que,
além de cantar com ela no Brasil, toca no Tim com seu grupo,
Anthony and the Johnsons.
Mistura global
Sobre o caráter múltiplo do
"Volta", Björk arrisca defini-lo
como uma "globalização de
sons". "As pessoas têm a idéia
negativa de que globalizado é
supermercado, McDonald's e
os americanos como os donos
do universo. Mas tem o lado
que depende da gente. Por que
deixar para o Bush? Somos 6 bilhões, e ele é só um", diz ela.
Björk, que passou a adolescência em Reykjavík gritando
pela identidade islandesa, em
um país que se tornou independente da Dinamarca em 1944,
diz estar cansada de nacionalismos e querer a diversidade.
"Fazer CD não é masturbação
nem lição de psicologia para
mim mesma. O disco é um lugar de encontro entre os músicos. Nesse sentido, sou invisível", ri Björk, entre tiques nervosos e batuques na mesa.
"Música pop é uma experiência isolada de estúdio", diz ela
sobre o CD, que nasceu de uma
expressão "física", cantada na
faixa "Wanderlust", das viagens
pelo mundo em seu barco -onde mora, ancorada em Nova
York, com a filha de cinco anos
e o namorado, o artista plástico
Matthew Barney.
A artista aponta entre seus
favoritos do pop Santo Gold,
M.I.A. e Joanna Newsom. Diz
admirar a música do Japão e da
Espanha, "porque nesses lugares o pop não tem de ser estúpido". "As letras estão perto da
poesia", diz ela e traça paralelo
com a Islândia. "Todo adolescente no meu país faz livro de
poemas, o que não os impede
de sair para dançar, para muitos uma "arte menor". Com o
ritmo pode-se entrar em transe, chegar a um lugar mais elevado que um intelectual."
No sentido de atingir a catarse pela música, Björk diz que
"Volta" é bem resolvido no palco. E lembra a importância
crescente dos shows. "As pessoas têm uma relação mais virtual com a música. No futuro,
os CDs vão servir só para introduzir os shows."
BJÖRK NO TIM FESTIVAL
Quando: dias 26 (Marina da Glória,
RJ), 28 (Arena Skoll Anhembi, SP) e 31
(Pedreira Paulo Leminski, Curitiba)
Quanto: R$ 180 (RJ, em noite com Anthony and the Johnsons); R$ 200 a R$
400 (SP, em noite com Spank Rock, Hot
Chip, Juliette and the Licks, Arctic
Monkeys e The Killers); R$ 60 (Curitiba, em noite com Hot Chip, Arctic Monkeys e The Killers)
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