São Paulo, sexta-feira, 19 de outubro de 2007

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"Volta" chegará ao Brasil mais afiado, prevê Björk

Cantora islandesa afirma que seu show atual é mais bem resolvido que seu novo CD

"Fazer CD não é masturbação nem lição de psicologia para mim mesma", afirma cantora, que se apresenta no Rio, em SP e em Curitiba

Divulgação
A cantora islandesa, atração do Tim Festival, que acontece neste mês


LUCRECIA ZAPPI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

"Volta" não é um regresso. Faço todo tipo de música desde os 12 anos. Só porque agora é música extrovertida, com ritmo, não significa que esteja revisitando "Debut" [1993]. Seria uma forma simplista de encarar o disco. As batidas são muito diferentes, tipo "a" e "b". Têm outros elementos e, emocionalmente, eu me sinto em outro lugar", diz Björk em entrevista à Folha, no escritório da gravadora Universal, no Meatpacking District, em Nova York.
Mesmo que esse "outro lugar" se pareça em grau de ecletismo com tudo o que ela já fez, salta aos ouvidos em "Volta", seu sexto álbum solo, uma sonoridade divergente e a presença forte de músicos de várias origens. E, se o número de vendas de CDs indica para onde vai Björk, vale notar que entre o primeiro ("Debut") e "Medula" (2004), que antecedeu "Volta", ela vendeu perto de 3 milhões de discos, em ordem decrescente -o que talvez mostre que esteja esfriando no termômetro comercial.
Mas, desde que despontou no fim dos anos 80 à frente da banda punk islandesa Sugarcubes, Björk Gudmundsdóttir, que faz 42 anos em novembro, é influência de peso não só nos universos do pop e do rock alternativo: além de acumular 12 Grammys, entre álbuns e videoclipes, levou, por exemplo, a Palma de Ouro (2000) como melhor atriz em "Dançando no Escuro", de Lars von Trier.
A islandesa traz ao Brasil o show da turnê "Volta", iniciada em abril. Ela toca no Tim Festival em São Paulo, no Rio e em Curitiba, e diz que o show está mais afiado tecnicamente, dos equipamentos eletrônicos à banda de metais. Os efeitos visuais, conta, são mínimos, "para despertar os ouvidos".
No show de 2 de maio no Radio City Hall, em Nova York, sentia-se o peso do palco. Descalça e frenética, Björk abriu com a potente "Earth Intruders" ao lado dos congoleses Konono Nš 1. Contrastaram com a delicadeza do malinês Toumani Diabaté ou do americano Anthony Hegarty, que, além de cantar com ela no Brasil, toca no Tim com seu grupo, Anthony and the Johnsons.

Mistura global
Sobre o caráter múltiplo do "Volta", Björk arrisca defini-lo como uma "globalização de sons". "As pessoas têm a idéia negativa de que globalizado é supermercado, McDonald's e os americanos como os donos do universo. Mas tem o lado que depende da gente. Por que deixar para o Bush? Somos 6 bilhões, e ele é só um", diz ela.
Björk, que passou a adolescência em Reykjavík gritando pela identidade islandesa, em um país que se tornou independente da Dinamarca em 1944, diz estar cansada de nacionalismos e querer a diversidade.
"Fazer CD não é masturbação nem lição de psicologia para mim mesma. O disco é um lugar de encontro entre os músicos. Nesse sentido, sou invisível", ri Björk, entre tiques nervosos e batuques na mesa.
"Música pop é uma experiência isolada de estúdio", diz ela sobre o CD, que nasceu de uma expressão "física", cantada na faixa "Wanderlust", das viagens pelo mundo em seu barco -onde mora, ancorada em Nova York, com a filha de cinco anos e o namorado, o artista plástico Matthew Barney.
A artista aponta entre seus favoritos do pop Santo Gold, M.I.A. e Joanna Newsom. Diz admirar a música do Japão e da Espanha, "porque nesses lugares o pop não tem de ser estúpido". "As letras estão perto da poesia", diz ela e traça paralelo com a Islândia. "Todo adolescente no meu país faz livro de poemas, o que não os impede de sair para dançar, para muitos uma "arte menor". Com o ritmo pode-se entrar em transe, chegar a um lugar mais elevado que um intelectual."
No sentido de atingir a catarse pela música, Björk diz que "Volta" é bem resolvido no palco. E lembra a importância crescente dos shows. "As pessoas têm uma relação mais virtual com a música. No futuro, os CDs vão servir só para introduzir os shows."


BJÖRK NO TIM FESTIVAL
Quando:
dias 26 (Marina da Glória, RJ), 28 (Arena Skoll Anhembi, SP) e 31 (Pedreira Paulo Leminski, Curitiba)
Quanto: R$ 180 (RJ, em noite com Anthony and the Johnsons); R$ 200 a R$ 400 (SP, em noite com Spank Rock, Hot Chip, Juliette and the Licks, Arctic Monkeys e The Killers); R$ 60 (Curitiba, em noite com Hot Chip, Arctic Monkeys e The Killers)


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