São Paulo, sexta-feira, 19 de outubro de 2007

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THIAGO NEY

Sobre Cobain e tecno

Mais do que um filme, "Sobre um Filho" são entrevistas com o líder do Nirvana ilustradas por imagens

É MEIO desconcertante assistir ao filme "Kurt Cobain - Sobre um Filho", que será exibido na Mostra de São Paulo a partir de amanhã (às 23h10, no Reserva Cultural). Desconcertante pelo tema e por se tratar de cinema.
Dirigido por AJ Schnack, o filme é, na essência, o áudio de mais de 25 horas de entrevistas com Kurt Cobain colhidas pelo jornalista Michael Azerrad, entre outubro de 1992 e março de 1993 -um ano antes da morte do músico. As entrevistas serviram de alicerce para Azerrad (que escreveu também o ótimo "Our Band Could Be Your Life", sobre grupos como Replacements, Sonic Youth etc.) construir "Come as You Are: The Story of Nirvana", livro sobre a banda lançado nos EUA em junho de 1993.
O trabalho de Schnack foi o de ilustrar esse áudio: com imagens de Aberdeen, Olympia e Seattle, cidades nas quais o líder do Nirvana viveu. São cenas bonitas, com algumas animações, mas falta um pouco de tato. Cobain fala sobre sua infância? Entra imagem de crianças. Cobain relembra seus tempos de escola? Dá-lhe carteiras e lousas.

 

"Sobre um Filho" vale, então, pelos depoimentos de Cobain e seus conflitos. Ele sentia que era um adolescente como qualquer outro, "com 90% dos mesmos problemas", mas, ao mesmo tempo, não conseguia se encaixar em nenhuma turma.
Cobain diz que, sobre o som do Nirvana, sempre desejou que fosse um cruzamento entre "Beatles e Black Sabbath no começo".
E a conversa chega a ser desconcertante quando Cobain diz, por exemplo, que "gostaria de estourar a cabeça", a respeito da crônica dor de estômago que o persegue.
Cobain relembra da época em que conheceu o baixista Krist Novoselic na escola e de como ficou hipnotizado por Courtney Love quando a viu. Não há imagens de Kurt Cobain ou do Nirvana, e a trilha sonora é composta por músicas de gente que o vocalista idolatrava, como Queen, Mudhoney, David Bowie e Creedence Clearwater Revival.
 

"Sobre um Filho" me fez lembrar de uma coisa engraçada. Hoje Kurt Cobain e o Nirvana são endeusados por todo o mundo. Justo. Mas, antes de 1994, quando a banda estava na ativa, a história era bem diferente.
Era comum ler em jornais e revistas (de fora e daqui do Brasil) argumentos como Kurt Cobain era "marqueteiro"; que o Nirvana "copiava" bandas como Pixies; que o Nirvana era "comercial demais", por isso tocava na MTV; que Cobain "não conseguia cantar e tocar guitarra ao mesmo tempo"; que foi um show "ruim" aquele no Morumbi, no Hollywood Rock de 1993.
São reações que acontecem com bandas e artistas novos ainda hoje. Não sei se é excesso de ceticismo ou um certo esnobismo.
 

Valentino Kanzyani, Umek e Marko Nastic hoje, no Clash. Ricardo Villalobos no D-Edge, amanhã. Daniel Bell no Vegas, na madrugada de domingo. Fim de semana tecno.

thiago@folhasp.com.br

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