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Heloisa Seixas se expõe em relato da doença da mãe
Na não-ficção "O Lugar Escuro", escritora conta a própria história ao discorrer sobre mal de Alzheimer e lembrar reações da família
Sem pretensões científicas, livro ajuda a entender a situação, afirma autora, para quem escrever foi um "acerto de contas com final feliz"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
No romance "Diário de Perséfone", de 1998, Heloisa Seixas
acompanha uma escritora que
diz ser necessário ancorar no
papel sua dor para que esta saia
de dentro dela. Seixas encarna
sua personagem em "O Lugar
Escuro", que chega às livrarias
na próxima semana.
O livro é um relato da doença
da mãe, que sofre de mal de
Alzheimer associado a outras
formas de senilidade. Sua queda começou há dez anos, acentuou-se há cinco, e, no início de
2007, Seixas resolveu contar
essa história, que acabou se tornando um livro sobre sua própria história e de sua família.
"O mais difícil foi admitir a
raiva. Mas ela aconteceu quando minha mãe estava bem ainda, tinha autonomia de vôo. Era
uma mente totalmente destroçada num corpo são. Parecia às
vezes que estava brincando comigo. Eu tinha raiva daquela
pessoa em quem ela tinha se
transformado", conta a escritora, 54, que concluiu o livro em
pouco mais de um mês.
A degeneração da mãe -que
está com 84 anos e cujo nome
não aparece no livro, assim como o de nenhum outro personagem- foi substituindo a raiva por compaixão, diz Seixas.
"Escrevi o livro porque achei
que a história estava resolvida
na minha cabeça. Mas foi importante como um arremate
dessa serenidade. É um acerto
de contas com final feliz", afirma ela, não vendo no seu texto
nenhum apelo para que sintam
pena dela. "Autocomiseração é
muito ruim, porque você tende
a ter um apego à dor. Quando se
expõe, é para se livrar dela."
E Seixas, em seu primeiro livro de não-ficção, expõe-se
bastante. Fala, entre outras coisas, de como o pai trocou a mãe
por outra mulher; de como a
mãe nunca digeriu isso e foi alterando sua personalidade, tornando-se conservadora e temerosa; de como sempre se sentiu
preterida pela mãe, que preferiria seu irmão; das situações
constrangedoras ocorridas em
função da doença; da constatação de que a morte seria um alívio para a mãe; dos casos de
loucura da família, inclusive o
seu quase-caso.
"Eu própria vivi, a vida toda,
na fronteira", escreve, para,
duas páginas, depois concordar
com a explicação que uma analista lhe deu: "[...] eu fora salva
pela palavra, a palavra escrita".
"Escritor é uma mistura de
esquizofrênico com exibicionista", acredita ela, que trocou
o jornalismo pela literatura.
Fator genético
"O Lugar Escuro" não é um
livro de divulgação científica.
Há nele poucas informações
sobre o mal de Alzheimer,
doença que atinge principalmente a memória e cujas causas ainda são investigadas -o
fator genético pode ser um dos
componentes, para assumida
preocupação de Seixas. Mas a
escritora vê no seu relato emotivo um apoio para quem convive com pessoas nesse estado.
"Eu gostaria de ter lido algo
assim no início do processo [da
doença]. Teria entendido melhor a situação", diz ela, que
classifica como "tragédia" o que
aconteceu à mãe.
O LUGAR ESCURO
Autor: Heloisa Seixas
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 25,90 (136 págs.)
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