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Análise
O samba não morreu, ele está no poder
Com discos de veteranos como Marisa Monte e de novos talentos como Mariana Aydar e Roberta Sá, gênero se revigora
NELSON MOTTA
COLUNISTA DA FOLHA
Desde que o samba é
samba escuto essa
conversa mole de que
"o samba está morrendo, o
samba vai acabar, o samba não
tem espaço", ou, em sua forma
conspiratória, "querem acabar
com o samba". Pura malandragem. O samba está no poder,
sempre esteve, e agora -na era
da eletrônica e do hip hop- está mais do que nunca.
Hoje os gêneros nacionais
dominam o mercado musical:
mais de 80% dos discos vendidos aqui são de música brasileira, uma boa parte deles de samba. A Nova Lapa renasce e cresce com dezenas de casas de
samba e de novos sambistas.
Há rádios que só tocam samba.
O samba não está renascendo,
porque não morreu: apenas
cresce e se multiplica.
Os dois artistas de maior
prestígio e popularidade das
suas gerações, Marisa Monte e
Marcelo D2, dedicaram discos
inteiros ao samba, venderam
milhões de CDs, fizeram turnês
triunfais com imensas platéias
no Brasil e no exterior.
Entre os novos talentos, os
discos de Roberta Sá e Mariana
Aydar foram os mais bem recebidos, com críticas entusiasmadas e platéias lotadas. Foram
dois grandes discos de samba,
de diversas formas do gênero.
Os músicos veteranos Lobão
e Lulu Santos apresentaram
em seus novos discos alguns
surpreendentes e inovadores
sambas pesados, cheios de guitarras, distorções e baixos roqueiros, que estão entre suas
melhores criações.
E agora, fechando a roda, a
fabulosa Maria Rita lança o seu
melhor disco, exclusivamente
de sambas, trazendo estilo,
qualidade e novidade ao gênero. Ela não se limita a regravar
clássicos ou pérolas esquecidas.
Vai buscar o samba vivo, novo,
pulsante, com cheiro de rua e
com ecos de choro e bossa nova,
de funk, soul, reggae, brega, da
polifonia urbana carioca, não
confinado a cânones e preservacionismos. No disco de Maria
Rita, o melhor exemplo são as
cinco músicas do sensacional
Arlindo Cruz, com vários parceiros, em diversas formas de
samba, do romântico ao clássico e ao moderno. Com Maria
Rita é tudo samba de primeira,
como gostava e fazia João Nogueira, o ídolo de Marcelo D2 e
ele mesmo um grande renovador do samba.
O que artistas tão diferentes
têm em comum, além do amor
e respeito ao samba? Justamente o impulso de renovação
do samba, incorporando novas
batidas, timbres e sonoridades,
renovando ao mesmo tempo o
pop, o rock, o hip hop e a MPB.
Eles deixam os resgates para o
Corpo de Bombeiros, ou como
desculpa para os incontáveis
discos com inúteis regravações
de velhas músicas, muito piores do que as originais. São artistas que fazem enorme e merecido sucesso justamente porque não resgatam, nem repetem e nem se enquadram, que
não têm medo de inovar e ampliar as fronteiras, a linguagem
e as platéias do samba.
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