São Paulo, sexta-feira, 19 de outubro de 2007

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Crítica/"Cristóvão Colombo - O Enigma"

Oliveira faz mais um filme sobre o tempo

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Temos, por um lado, Portugal e suas obsessões: o retorno de d. Sebastião, o mar, os descobrimentos, o exílio. Dele estão imbuídos os protagonistas do filme, o médico e pesquisador Manuel Luciano, e sua mulher, Silvia. Temos, por outro lado, Manoel de Oliveira e sua convicção de que o tempo, a rigor, não existe.
Desse conjunto resulta esse filme curto e agradável, em que a passagem Portugal/Nova York acontece duas vezes. A primeira delas em 1946, no imediato Pós-Guerra, quando Manuel vai aos EUA com o irmão juntar-se ao pai. Manuel se tornará médico, mas voltará a Portugal -como se rejeitasse o novo continente.
Uma obsessão alimenta suas pesquisas: a de que Cristóvão Colombo na verdade chamou Colon e, mais, não nasceu em Gênova, mas sim em Portugal. O que isso muda na história?
Praticamente nada. Mas entre nada e praticamente nada existe um hiato imenso. Colombo é talvez o único grande descobridor não-português. Descobri-lo português seria uma forma de regularizar a história, de abolir essa inconveniente anomalia histórica. Já médico importante e recém-casado, Manuel prossegue suas pesquisas por volta de 1960, em Cuba.
Por fim, vamos encontrar Manuel outra vez em Nova York, sempre ao lado de Silvia, mas agora em pleno século 21.
Nesse momento, Manuel e Silvia são representados pelo casal Oliveira, Manoel e Maria Isabel. A princípio, essa presença em cena parece corroborar a tese do médico. Mas Oliveira mantém as coisas em conveniente, deliciosa ambigüidade.
É a idéia de eternidade que Oliveira convoca com essa viagem aos EUA, como que para reunir, num mesmo espaço, as navegações lusitanas, que conformaram o mundo tal como o conhecemos, e a conquista espacial, aventura de ampliação de horizontes em princípio de igual calibre. Em Portugal, a câmera quase sempre aponta para o mar. Nos EUA, para o ar.
Na Europa, dominam velhas construções. Nos EUA, modernos arranha-céus. Nem por isso o tempo existe.


CRISTÓVÃO COLOMBO - O ENIGMA
Direção:
Manoel de Oliveira
Quando: hoje, às 20h50, no Unibanco Arteplex; amanhã, às 14h, no iG Cine; seg., às 15h30, no Espaço Unibanco
Avaliação: ótimo


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