|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Cristóvão Colombo - O Enigma"
Oliveira faz mais um filme sobre o tempo
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Temos, por um lado, Portugal e suas obsessões:
o retorno de d. Sebastião, o mar, os descobrimentos,
o exílio. Dele estão imbuídos os
protagonistas do filme, o médico e pesquisador Manuel Luciano, e sua mulher, Silvia. Temos, por outro lado, Manoel de
Oliveira e sua convicção de que
o tempo, a rigor, não existe.
Desse conjunto resulta esse
filme curto e agradável, em que
a passagem Portugal/Nova
York acontece duas vezes. A
primeira delas em 1946, no
imediato Pós-Guerra, quando
Manuel vai aos EUA com o irmão juntar-se ao pai. Manuel
se tornará médico, mas voltará
a Portugal -como se rejeitasse
o novo continente.
Uma obsessão alimenta suas
pesquisas: a de que Cristóvão
Colombo na verdade chamou
Colon e, mais, não nasceu em
Gênova, mas sim em Portugal.
O que isso muda na história?
Praticamente nada. Mas entre
nada e praticamente nada existe um hiato imenso. Colombo é
talvez o único grande descobridor não-português. Descobri-lo português seria uma forma
de regularizar a história, de
abolir essa inconveniente anomalia histórica. Já médico importante e recém-casado, Manuel prossegue suas pesquisas
por volta de 1960, em Cuba.
Por fim, vamos encontrar
Manuel outra vez em Nova
York, sempre ao lado de Silvia,
mas agora em pleno século 21.
Nesse momento, Manuel e
Silvia são representados pelo
casal Oliveira, Manoel e Maria
Isabel. A princípio, essa presença em cena parece corroborar a
tese do médico. Mas Oliveira
mantém as coisas em conveniente, deliciosa ambigüidade.
É a idéia de eternidade que
Oliveira convoca com essa viagem aos EUA, como que para
reunir, num mesmo espaço, as
navegações lusitanas, que conformaram o mundo tal como o
conhecemos, e a conquista espacial, aventura de ampliação
de horizontes em princípio de
igual calibre. Em Portugal, a câmera quase sempre aponta para o mar. Nos EUA, para o ar.
Na Europa, dominam velhas
construções. Nos EUA, modernos arranha-céus. Nem por isso o tempo existe.
CRISTÓVÃO COLOMBO - O ENIGMA
Direção: Manoel de Oliveira
Quando: hoje, às 20h50, no Unibanco Arteplex; amanhã, às 14h, no iG
Cine; seg., às 15h30, no Espaço Unibanco
Avaliação: ótimo
O crítico José Geraldo Couto analisa o filme francês "Infâncias"
Texto Anterior: Crítica/"Nascido e Criado": Pablo Trapero assina faroeste na Patagônia Próximo Texto: Lanterninha Índice
|