São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Oh, coitada

No evento de maior premiação da história do hipismo, o jet-set paulistano mostra que tem coração e sente pena de Athina Onassis. Por Paulo Sampaio

Fotos Marlene Bergamo/Folha Imagem
A bilionária Athina Onassis no evento que leva seu nome

"Coitada da Athina. Você já imaginou a vida dessa menina?", pondera a "appeal commity" (jurada de apelação) Jaqueline Pavão. Ela está na sala de imprensa do Athina Onassis International Horse Show, torneio de cavalos que acontece desde terça e termina hoje na Sociedade Hípica Paulista, no Brooklin. O evento faz parte do circuito mundial de hipismo e ofereceu premiação de 1,84 milhão (R$ 5,2 milhões) -a maior da história do esporte. Mas a "appeal commity" Pavão sustenta que Athina Onassis -cuja fortuna pessoal está estimada em R$ 2 bilhões- deve ter mesmo uma vida horrível. Athina é perseguida pela imprensa em qualquer lugar que apareça. Athina não sai de casa sem 25 seguranças. Athina não pode nem se divertir como uma pessoa normal.

 

A socialite Maria Christina Mendes Caldeira tem pena de Athina. "Imagina se o seu pai tivesse dado o golpe do baú na sua mãe! O Thierry Roussel [pai de Athina] só queria o dinheiro da Christina [Onassis]."
 

A coluna ouviu mais gente com pena. Eventualmente, o comentário saía em um tom quase folhetinesco, como se todos torcessem para que a bilionária seja feliz ao lado de Doda Miranda, o cavaleiro que enfrentou o preconceito e se casou com uma mulher muito mais rica que ele, salvando-a dos interesseiros do mundo inteiro. "O Doda é muito atencioso com a Athina, um cavaleiro cavalheiro", diz a presidente do júri de campo, Elaine Zander. Na coletiva, Doda agradece o interesse dos jornalistas pelo esporte, embora quase ninguém faça perguntas -já que todo mundo quer saber mesmo é de Athina.
 

"De perto, a Athina é linda, impressionante", dizem as assessoras. (Quando dizem "de perto", é a uma distância de cerca de 50 metros, em cima de um cavalo e com um boné). Athina Onassis não posa para fotos no Athina Onassis Horse Show. A anfitriã do evento também não fala com a imprensa e não transita pelas alamedas do clube, onde jogaram folhas secas de árvores para dar um tom mais outonal. "Gente, eu sei que é uma oportunidade de ouro, mas não dá. A Athina, não. Será que a fotógrafa pode sair dali?", pergunta uma moça chamada Samanta. Ela aponta para a repórter-fotográfica da Folha em uma varanda no segundo andar do clube. De lá, é possível ter um ângulo mais abrangente do gramado onde 13 cavaleiros treinam.
 

Entre eles está a alemã de origem americana Meredith Michaels-Beerbaum, a primeira mulher do mundo a se sagrar número 1 em salto de obstáculos, em 2005 -mas sua preocupação agora é com Athina. Ela mostra-se empenhada em salvaguardar a amiga. Evita, por exemplo, aparentar proximidade pessoal. "Sim, a gente se conhece", diz, vagamente. Porém, marca para o dia seguinte uma visita à Daslu com Athina. "Que divertido, podemos acompanhá-la?", quer saber a coluna. Mal-estar. "Não, desculpe... Vocês entendem?" Mas, ainda que mal lhe pergunte, o que leva alguém que mora na Europa a comprar artigos de luxo europeus no Brasil? "Quem disse que eu compro alguma coisa?"
 

Entrevistar Meredith, 37, não é fácil. A campeã mundial -que já ganhou 1,5 milhão montando- é arisca com seres humanos. "Cadê a casca grossa [Meredith]?", pergunta a ornamentadora de pistas Marta Vilela, para Jaqueline Pavão, que responde: "Pior que ela faz cara de azeda até em frente a um sorvete."
 

A coluna dá um giro no hall dos estandes de luxo. Num deles, em que há uma maquete de um prédio de 27 andares ("ainda na planta"), a corretora aponta para uma foto gigante em preto-e-branco do Obelisco do Ibirapuera e diz: "Olha a vista". "Um senhor acaba de comprar o primeiro andar (que tem 500 metros quadrados e custa R$ 4,5 milhões)", garante.
 

Ali ao lado está o comerciante Cacau Ricci, conhecido por ter transformado um cavalo que puxava carroça na Rocinha em um corredor de R$ 500 mil. "O Mumu foi descoberto por uma menina que montava na Hípica do Rio e sempre o via quando passava pela favela. Veio parar nas minhas mãos, e, por causa dele, eu fui morar na Europa; agora o Mumu está aposentado, morando lá na Holanda."
 

No estande da Daslu, vendem-se roupas com o nome do torneio de Athina Onassis em letras garrafais. A designer de interiores Fabíola Bumarut, 37, pagou R$ 380 por um colete que "compraria por R$ 170". "Uma fortuna, mas a gente paga pelo nome. Não o da Daslu, o da Athina", diz Fabíola, de bolsão Miu Miu e chapéu panamá. Fernanda Nunes, do marketing da butique, diz que vende muito. "No ano passado eram 1.300 peças. Neste ano, mandamos fazer 2.500."
 

O nome do concurso na camiseta pólo tem o efeito de algo como "Estive em Foz do Iguaçu". "Em Brasília, ninguém tem uma igual. Nossa única dúvida é a cor", diz a economista Carla de Paula, 39, com a filha, Camila, depois de levar cerca de R$ 200 em camisetas com propaganda da Athina Onassis. Ah, coitada da Athina...


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