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Comentário
Projetos gráficos não são autônomos
GUSTAVO PIQUEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quem foi melhor, Pelé ou
Maradona? Garrincha? E o melhor time? Brasil de 70? De 58?
Holanda de Cruyff? Para ficar
no universo do caderno: Beatles ou Stones? Caetano ou Chico? E o melhor filme de todos
os tempos?
Você deve ter suas respostas,
assim como eu. Mesmo não
sendo músico nem cineasta,
além de zagueirão medíocre, as
trago na ponta da língua (São
Marcos, Palmeiras de 96, empate, Caetano antes da Paula
Lavigne, "Gritos e Sussurros").
Todas opiniões pessoais, claro.
Perfeitas para uma mesa de
bar. Bem sei que não valem nada, a não ser como ilustração de
meus valores e preferências, a
quem interessar possa.
Ora, por que então não deixo
de frescura e simplesmente
respondo à pergunta sobre os
melhores projetos gráficos feitos no Brasil? Primeiro, porque
sou designer gráfico. Exerço a
profissão todo santo dia, das 8h
às 22h. Rotina que não me deixa esquecer o quanto um projeto gráfico não é autônomo. Impossível, portanto, ser avaliado
como tal.
Segundo, porque a escalação
desta vez é para o famigerado
time dos "formadores de opinião" e não acho saudável se
formar a opinião de ninguém
de acordo com as minhas
-mesmo que venham disfarçadas sob o (também famigerado)
traje do especialista isento. Por
último, porque acredito que o
mundo já tem seus "1000 Lugares para Viajar Antes de Morrer", "200 Dicas do Vendedor
Pitbull" e similares em quantidade mais do que suficiente.
Sim, era possível elaborar
uma análise técnica. Relevância histórica, ruptura de antigos
paradigmas, influência no que
veio a seguir. Reverenciar algum clássico, elogiar algum
amigo. Sim, era possível. Porém, no fim das contas, não
anularia nenhum dos três motivos listados acima.
Mas, vá lá, para não tornar isso aqui totalmente inútil: análises de design gráfico tendem a
confundir projeto gráfico com
o assunto do livro, julgando o
valor do primeiro em função da
relevância da obra. E uma coisa
não tem nada a ver com a outra.
A não ser que se considere como o grande critério para avaliação de um designer estar no
lugar certo e na hora certa.
GUSTAVO PIQUEIRA é designer e autor de "Manual do Paulistano Moderno e Descolado"
(WMF/Martins Fontes) e "São Paulo, Cidade
Limpa" (Rex), entre outros livros
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