São Paulo, segunda-feira, 19 de outubro de 2009

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Comentário

Projetos gráficos não são autônomos

GUSTAVO PIQUEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem foi melhor, Pelé ou Maradona? Garrincha? E o melhor time? Brasil de 70? De 58?
Holanda de Cruyff? Para ficar no universo do caderno: Beatles ou Stones? Caetano ou Chico? E o melhor filme de todos os tempos?
Você deve ter suas respostas, assim como eu. Mesmo não sendo músico nem cineasta, além de zagueirão medíocre, as trago na ponta da língua (São Marcos, Palmeiras de 96, empate, Caetano antes da Paula Lavigne, "Gritos e Sussurros").
Todas opiniões pessoais, claro.
Perfeitas para uma mesa de bar. Bem sei que não valem nada, a não ser como ilustração de meus valores e preferências, a quem interessar possa.
Ora, por que então não deixo de frescura e simplesmente respondo à pergunta sobre os melhores projetos gráficos feitos no Brasil? Primeiro, porque sou designer gráfico. Exerço a profissão todo santo dia, das 8h às 22h. Rotina que não me deixa esquecer o quanto um projeto gráfico não é autônomo. Impossível, portanto, ser avaliado como tal.
Segundo, porque a escalação desta vez é para o famigerado time dos "formadores de opinião" e não acho saudável se formar a opinião de ninguém de acordo com as minhas -mesmo que venham disfarçadas sob o (também famigerado) traje do especialista isento. Por último, porque acredito que o mundo já tem seus "1000 Lugares para Viajar Antes de Morrer", "200 Dicas do Vendedor Pitbull" e similares em quantidade mais do que suficiente.
Sim, era possível elaborar uma análise técnica. Relevância histórica, ruptura de antigos paradigmas, influência no que veio a seguir. Reverenciar algum clássico, elogiar algum amigo. Sim, era possível. Porém, no fim das contas, não anularia nenhum dos três motivos listados acima.
Mas, vá lá, para não tornar isso aqui totalmente inútil: análises de design gráfico tendem a confundir projeto gráfico com o assunto do livro, julgando o valor do primeiro em função da relevância da obra. E uma coisa não tem nada a ver com a outra.
A não ser que se considere como o grande critério para avaliação de um designer estar no lugar certo e na hora certa.


GUSTAVO PIQUEIRA é designer e autor de "Manual do Paulistano Moderno e Descolado" (WMF/Martins Fontes) e "São Paulo, Cidade Limpa" (Rex), entre outros livros


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