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Crítica/show
"Iê Iê Iê" de Antunes se intensifica no palco
MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Ela é americana. Da
América do Sul."
Inserida logo no começo de "Iê Iê Iê", show que
Arnaldo Antunes apresentou
quinta, sexta e sábado passados, com lotação esgotada, na
Choperia do Sesc Pompeia, a
letra do forró de Dorgival Dantas aprofunda as intenções formais do novo álbum do cantor.
Assim já era o gênero iê-iê-iê,
o nosso rock primitivo, a música pop brasileira dos anos 1960
em que Arnaldo foi beber para
esse trabalho: americano, sim,
mas daqui. Transformado e
enriquecido por nossas características essenciais de rapazes
latino-americanos com suas
guitarras elétricas.
Em "Iê Iê Iê", esse sentido de
apropriação nacional do gênero gringo vem à tona com mais
intensidade ainda no palco. Arnaldo e sua banda -um time
dos sonhos que tem Edgard
Scandurra na guitarra, Marcelo
Jeneci nos teclados, Curumin
na bateria, Betão Aguilar no
baixo e Chico Salem nos violões- intercalam o repertório
autoral do novo álbum com improváveis leituras "jovem guardistas" de outros autores e gêneros bem brasileiros.
O hit nordestino de Dorgival
Dantas é exemplar. Mas há
também "Pra Aquietar", pescada do LP de estreia do compositor da Estácio de Sá Luiz Melodia -que, agora percebemos,
sempre foi um iê-iê-iê.
A versão nervosa que fazem
para "Vou Festejar"(Jorge Aragão e Dida Noeci), um dos
maiores sucessos da carreira de
Beth Carvalho, acrescenta cartas ao castelo estético pensado
por Antunes. Aqui, o samba se
revela um punk rock dos mais
vingativos, da mesma estirpe
da fase "Cabeça Dinossauro"
(1986), dos Titãs.
Brega
Odair José vem reforçar a
ideia de que a jovem guarda, ao
menos a de "Iê Iê Iê", não é apenas Roberto e Erasmo, mas
também os compositores que
ficaram trancafiados, nos anos
60 e 70, nas estações de rádio
AM. Arnaldo atenta aos parentescos entre "Pedido de Casamento", dele próprio, e a pouco
conhecida "Quando Você Decidir", de Odair. Junto, tudo faz
mais sentido.
O cenário, de Marcelo Sommer e Márcia Xavier, traz mais
referências a esse quadro. Dezenas de camisetas penduradas, lado a lado, estilhaçam
menções ao universo pop de todos os lugares e tempos: Beatles, Cristo Redentor, Ronald
McDonald, Erasmo Carlos, Bela Adormecida, "O Poderoso
Chefão". Todas convivem, se
chocam, se confundem e se
complementam. Como era
-nossos olhos de agora conseguem perceber- a música jovem dos anos 60.
Avaliação: ótimo
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