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MÚSICA
"O Charada Brasileiro", novo CD do cantor, estará à venda por R$ 9,90
Supla lança nas bancas os hits de "Casa dos Artistas"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele conseguiu o que queria. Hoje todo mundo sabe que Supla, até
aqui mais conhecido como filho
de Eduardo e Marta Suplicy que
por seus dotes de roqueiro, está
lançando um disco, que se chama
"O Charada Brasileiro" e será
vendido em bancas de jornal pelo
simpático preço de R$ 9,90.
"Rei da Mídia" (este é o nome
de uma das faixas do CD, em que
parece ironizar o poder da Rede
Globo) ele ainda não é.
O posto está mais para Silvio
Santos, espécie de "big brother"
brasileiro dos anos 2000, que meteu Supla na "Casa dos Artistas",
deixou que o menino propagandeasse à vontade o disco que chega nos próximos dias às bancas e
lhe deu visibilidade "artística"
que nem os pais políticos haviam
conseguido até então.
Príncipe da mídia no final de
2001, Supla não encontrou de repente o mapa do tesouro. A figura
cuja suposta sinceridade conquista mais fãs a cada vez que o "reality show" "Casa dos Artistas" vai
ao ar não é muito diferente da que
existe pelo menos desde que seu
antigo grupo, o Tokyo, encontrou
lugar ao sol na cena pop-rock brasileira dos anos 80.
Logo no início, o Tokyo (de que
fazia parte também Eduardo Bid,
hoje líder da big band pop/funk/jazz Funk Como le Gusta) protagonizou polêmicas como a proibição pela Censura da faixa "Mão
Direita", que falava de masturbação, e o caso amoroso (de mídia?)
entre Supla e a roqueira alemã Nina Hagen, uma das estrelas do
primeiro Rock in Rio, realizado
em 85.
Com o hit punk "Humanos",
"Garota de Berlim" virou faixa-referência do Tokyo, pela suposta
referência à mesma Nina Hagen.
Por isso e pela imagem punk de
butique, à la Billy Idol, Supla já era
anedota, mascote folclórico do
rock brasileiro, que elegia para
membros "sérios" os Titãs, os Paralamas do Sucesso, o Ultraje a
Rigor...
Levado na chacota, o Tokyo durou pouco e abriu caminhos tortuosos para a carreira solo de Supla. No primeiro disco individual,
ele aparecia marombado e semidespido na capa; dentro, cantava
"O Exibido" e dava asas à fama
anedótica.
Em "Supla" (91), ensaiou casar
o punk rock, seu gênero de eleição, com batidas de bossa nova e
MPB (há no disco um medley de
"Cotidiano", de Chico Buarque,
com "Você Não Entende Nada",
de Caetano Veloso; no encarte,
mais poses sensuais).
Nada aconteceu, e, em 95, Supla
se estabeleceu em Nova York, onde gravou discos de "metalpunkcore" com as bandas Psycho 69 e
Suplazoo. A estratégia de marketing nos EUA compreendia roupas de couro, tachinhas e crossover punk/MPB ("Bossa Furiosa",
segundo Supla).
Voltou na esteira da campanha
da mãe à Prefeitura de São Paulo,
e foi quando uma das faixas do
disco com o Psycho 69 caiu nas
graças de outro suplente de "rei
da mídia", o VJ Marcos Mion. O
palhaço da MTV pegou a bossa'n'roll "Green Hair", mais conhecida como "Japa Girl", para
Cristo de seu programa "Os Piores Clipes do Mundo".
Em vez de se zangar, Supla sentiu a maré a favor e entrou na
brincadeira. Apresentou prêmio
de videoclipe, no MTV Awards
brasileiro, ao lado de Mion, em
clima de comédia, e vitaminou o
preparo do disco que viria a ser
"O Charada Brasileiro", com co-produção de um tal Kojak, músico americano do Brooklyn que
aparou o tom punk/bossa nova/
hip hop que Supla pretendia dar
ao disco.
Agora o "Charada" estará nas
ruas, com os maiores hits de "Casa dos Artistas" -"Tá Namorando", "O Rei da Mídia", "Bizness
(Comídia)"- e regravações dos
maiores hits de Supla -"Green
Hair (Japa Girl)", "Humanos",
"Garota de Berlim".
O pique rebelde/juvenil é o mesmo que ele exibe no dia-a-dia do
programa de TV e nos diálogos
dominicais com Silvio Santos,
que parece até ser personagem da
faixa "Rei da Mídia", em versos
como os seguintes:
"A verdade é que o climinha/ estava de foder/ não vem puxar o
saco/ cê tá pagando pau/ faço e digo o que eu quero/ e não preciso
do seu canal/ (...) Te olho na cara,
te ameaço/ mas é só pra tirar sarro
dessa sua cara feia/ de palhaço".
Com a irreverência de Supla liderando a popularidade junto ao
público da casa de Silvio Santos,
"O Charada Brasileiro" testa agora a chance de se tornar a surpresa
discográfica do ano, passando
mais uma pernada na indústria
ainda órfã da decadência da axé
music e do pagode. Será que este
mundo está perdido?
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