São Paulo, segunda-feira, 19 de novembro de 2001

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MÚSICA

"O Charada Brasileiro", novo CD do cantor, estará à venda por R$ 9,90

Supla lança nas bancas os hits de "Casa dos Artistas"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele conseguiu o que queria. Hoje todo mundo sabe que Supla, até aqui mais conhecido como filho de Eduardo e Marta Suplicy que por seus dotes de roqueiro, está lançando um disco, que se chama "O Charada Brasileiro" e será vendido em bancas de jornal pelo simpático preço de R$ 9,90.
"Rei da Mídia" (este é o nome de uma das faixas do CD, em que parece ironizar o poder da Rede Globo) ele ainda não é.
O posto está mais para Silvio Santos, espécie de "big brother" brasileiro dos anos 2000, que meteu Supla na "Casa dos Artistas", deixou que o menino propagandeasse à vontade o disco que chega nos próximos dias às bancas e lhe deu visibilidade "artística" que nem os pais políticos haviam conseguido até então.
Príncipe da mídia no final de 2001, Supla não encontrou de repente o mapa do tesouro. A figura cuja suposta sinceridade conquista mais fãs a cada vez que o "reality show" "Casa dos Artistas" vai ao ar não é muito diferente da que existe pelo menos desde que seu antigo grupo, o Tokyo, encontrou lugar ao sol na cena pop-rock brasileira dos anos 80.
Logo no início, o Tokyo (de que fazia parte também Eduardo Bid, hoje líder da big band pop/funk/jazz Funk Como le Gusta) protagonizou polêmicas como a proibição pela Censura da faixa "Mão Direita", que falava de masturbação, e o caso amoroso (de mídia?) entre Supla e a roqueira alemã Nina Hagen, uma das estrelas do primeiro Rock in Rio, realizado em 85.
Com o hit punk "Humanos", "Garota de Berlim" virou faixa-referência do Tokyo, pela suposta referência à mesma Nina Hagen. Por isso e pela imagem punk de butique, à la Billy Idol, Supla já era anedota, mascote folclórico do rock brasileiro, que elegia para membros "sérios" os Titãs, os Paralamas do Sucesso, o Ultraje a Rigor...
Levado na chacota, o Tokyo durou pouco e abriu caminhos tortuosos para a carreira solo de Supla. No primeiro disco individual, ele aparecia marombado e semidespido na capa; dentro, cantava "O Exibido" e dava asas à fama anedótica.
Em "Supla" (91), ensaiou casar o punk rock, seu gênero de eleição, com batidas de bossa nova e MPB (há no disco um medley de "Cotidiano", de Chico Buarque, com "Você Não Entende Nada", de Caetano Veloso; no encarte, mais poses sensuais).
Nada aconteceu, e, em 95, Supla se estabeleceu em Nova York, onde gravou discos de "metalpunkcore" com as bandas Psycho 69 e Suplazoo. A estratégia de marketing nos EUA compreendia roupas de couro, tachinhas e crossover punk/MPB ("Bossa Furiosa", segundo Supla).
Voltou na esteira da campanha da mãe à Prefeitura de São Paulo, e foi quando uma das faixas do disco com o Psycho 69 caiu nas graças de outro suplente de "rei da mídia", o VJ Marcos Mion. O palhaço da MTV pegou a bossa'n'roll "Green Hair", mais conhecida como "Japa Girl", para Cristo de seu programa "Os Piores Clipes do Mundo".
Em vez de se zangar, Supla sentiu a maré a favor e entrou na brincadeira. Apresentou prêmio de videoclipe, no MTV Awards brasileiro, ao lado de Mion, em clima de comédia, e vitaminou o preparo do disco que viria a ser "O Charada Brasileiro", com co-produção de um tal Kojak, músico americano do Brooklyn que aparou o tom punk/bossa nova/ hip hop que Supla pretendia dar ao disco.
Agora o "Charada" estará nas ruas, com os maiores hits de "Casa dos Artistas" -"Tá Namorando", "O Rei da Mídia", "Bizness (Comídia)"- e regravações dos maiores hits de Supla -"Green Hair (Japa Girl)", "Humanos", "Garota de Berlim".
O pique rebelde/juvenil é o mesmo que ele exibe no dia-a-dia do programa de TV e nos diálogos dominicais com Silvio Santos, que parece até ser personagem da faixa "Rei da Mídia", em versos como os seguintes:
"A verdade é que o climinha/ estava de foder/ não vem puxar o saco/ cê tá pagando pau/ faço e digo o que eu quero/ e não preciso do seu canal/ (...) Te olho na cara, te ameaço/ mas é só pra tirar sarro dessa sua cara feia/ de palhaço".
Com a irreverência de Supla liderando a popularidade junto ao público da casa de Silvio Santos, "O Charada Brasileiro" testa agora a chance de se tornar a surpresa discográfica do ano, passando mais uma pernada na indústria ainda órfã da decadência da axé music e do pagode. Será que este mundo está perdido?


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