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CRÍTICA
Livro discute, pela 1ª vez, "TV de autor"
XICO SÁ
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Existiria uma "TV de autor"? A pergunta, reciclada
no mofo da "política de autores"
da nouvelle vague, é atirada agora
sobre a novela, produto de orgulho -adeus samba, café, ziriguiduns e telecotecos da mestiçagem!- da balança comercial brasileira.
Lisandro Nogueira, pesquisador do ramo, vê em Gilberto Braga -nosso Honoré de Balzac do
Projac- fortes indícios de autoria. É o que decifra no seu livro "O
Autor na Televisão", o primeiro a
tratar exclusivamente do tema no
país de "Escrava Isaura".
É peleja difícil buscar pegadas
autorais em um gênero ditado pela produção da TV, a tirania do
Ibope, o jabá do merchandising e
um elenco nem sempre ao gosto
do dono do script. Gilberto Braga,
mais do que qualquer outro escritor da Globo, acumulou poderes
que o fizeram um autor-produtor, com direito a botar a sua colher em todas as etapas.
"As telenovelas "Vale Tudo" e "O
Dono do Mundo", principalmente
esta última, mostram que fez mais
do que dar continuidade à modernização do gênero, iniciada
com Beto Rockfeller (69)", diz
Nogueira no seu arrazoado.
O autor da Globo substituiu,
vislumbra Nogueira, o combate
entre o bem e o mal pelo "arranca-rabo" entre cínicos e autênticos. O auge da discussão ética no
drama de classes ocorre em "O
Dono do Mundo" (91), novela
que penou muito tempo com audiência abaixo da expectativa.
O fraco desempenho obrigou o
novelista a aliviar o cinismo da elite representada por Felipe (Antonio Fagundes), que iniciou o drama pisando no pescoço do populacho, aqui na pele suburbana de
Márcia (Malu Mader). Ela entrega
a virgindade a Felipe, que vem a
ser patrão do seu marido.
No último capítulo, Braga se
vinga da audiência conservadora.
Felipe, triunfante, quebra o naturalismo obrigatório nas novelas,
esquece o público, olha direto para a câmera e manda uma piscadela cínica. O mais legítimo e brasileiro escárnio de elite.
O Autor na Televisão
Autor: Lisandro Nogueira
Lançamento: editora UFG/Edusp
Quanto: R$ 15 (147 págs.)
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