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Mau Mau, mais representativo DJ do país, lança seu primeiro disco de produções próprias
BALA NA AGULHA
Flávio Florido/Folha Imagem
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Retrato em múltipla exposição do DJ e produtor Mau Mau |
Álbum compila hard tecno, disco, house e breaks, influências dos clubes pelos quais o artista passou
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THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
Os DJs brasileiros não seriam o
que são hoje se não fosse por
Mauricio Fernando Bischain.
Desde que iniciou, há 17 anos, já
foi a atração principal em festas
em todos os Estados brasileiros e
por duas dezenas de países pelo
mundo. Nesta semana, lança seu
aguardado primeiro álbum de
produções próprias, "Music Is My
Life". Ainda assim, Mau Mau não
conseguiu convencer os próprios
pais. "Minha mãe vive me perguntando quando é que eu vou
parar de tocar em festinhas, voltar
a estudar e arrumar "emprego"."
Aos 35 anos, após o começo no
lendário clube paulistano Madame Satã, que abrigava o que existia de mais novo no rock dos anos
80, a consolidação de seu nome
nas discos undergrounds Sra.
Krawitz e Hell's Club, de sua participação no projeto M4J, em que
trazia à eletrônica ritmos brasileiros, e de ter sido escalado para
praticamente todos os grandes
eventos de eletrônica do país,
Mau Mau chega ao ápice. "Music
Is My Life", que sai pelo selo Segundo Mundo e distribuição nacional da Sony, sintetiza em 13 faixas tudo por que o DJ já passou:
disco, hard tecno, house e breaks.
"Passei por vários clubes diferentes, acompanhei vários estilos
que aconteceram. No álbum procurei captar um pouco disso, de
cada época, do que me influenciou. É um apanhado disso tudo",
ele conta à Folha. E tem mais.
Folha - Por que um disco só agora? Você não se sentia seguro?
Mau Mau - Comecei a produzi-lo
há um ano e meio. Queria criar
um estilo, e não simplesmente copiar algo. Nesse tempo fui tentando encontrar um caminho. E eu
sempre me envolvi com outros
projetos, ficava empurrando, empurrando. Mas acho que agora está com a minha cara.
Folha - E como é essa cara?
Mau Mau - É uma mistura de tudo... Minha música se aproxima
do tech-house, mas tem muita influência do tecno de Detroit e com
um pouquinho de timbre brasileiro, tudo muito discreto.
Folha - Você sempre usou a música brasileira em suas músicas e
sets. Hoje essa mistura está completamente difundida...
Mau Mau - A música eletrônica
cresceu, se ramificou e se misturou a tudo o que se possa misturar. Aparecem fórmulas, as pessoas copiam, modificam. Depois
do sucesso do Marky e do Patife,
isso explodiu. Hoje você vê tema
de novela tocando bossa nova
com eletrônica... Mas acho que é
um caminho natural, não tem como fugir. Tem tanto o lado bom,
que gera emprego, oportunidade
para muita gente, e o lado ruim,
pois há o oportunismo.
Folha - A eletrônica gera muito
dinheiro hoje. Você ficou rico?
Mau Mau - Consegui ganhar alguma coisa, mas não estou rico,
milionário. Eu poderia ter ganho
muito dinheiro me vendendo.
Folha - Quando?
Mau Mau - Por exemplo, já tenho
vários remixes de artistas conhecidos, Marina Lima, Rita Lee,
Adriana Calcanhoto. Eu poderia
muito bem ter feito "babas" para
tocar no rádio e vender um monte
de discos, mas não, quis fazer um
trabalho em que acreditasse.
Folha - Já aconteceu de ir a um lugar e tocar sem motivação, apenas
para receber seu cachê?
Mau Mau - Atualmente minha
agenda é supercheia, toco de quatro a cinco vezes por semana, é
cansativo. Aconteceu de ir a um
lugar que não estivesse tão bom e
que, sim, foi chato de tocar.
Folha - Com quem você gostaria
de trabalhar?
Mau Mau - Com Cesar Camargo
Mariano, acho um músico bem
bacana, gosto da Maria Rita...
Folha - Você é fã de MPB?
Mau Mau - Não sou fã, mas cresci
ouvindo música brasileira.
Folha - Você toca bastante no exterior, tem uma residência num
clube de Paris. Mas DJs como
Marky, Patife, Anderson Noise, Renato Cohen aparentam ser mais conhecidos. Isso te incomoda?
Mau Mau - São coisas diferentes.
A música do Marky entrou na parada britânica, eu fiquei supercontente. Já os DJs de tecno, eles
tiveram o boom por causa de
"Pontapé", a música do Renato,
que é um artista muito bom. No
meu caso, tem muita coisa que eu
fiz, já toquei muito no exterior,
mas não me importava em divulgar. Já as pessoas que trabalham
com eles fizeram um marketing,
como se essas coisas fossem as
mais importantes do mundo. Da
mesma forma que eles tocaram
em vários lugares, eu também toquei, mas nunca tive a preocupação de que todo o mundo ficasse
sabendo. Mas fico contente por
eles terem conseguido esse espaço, como eu consegui o meu.
Folha - O que você fazia quando
começou como DJ?
Mau Mau - Eu trabalhava como
caixa do Bradesco, foi meu primeiro emprego. E fazia parte de
um grupo de dança de rua. Cursei
um ano de publicidade na PUC.
Folha - O Hell's é citado como um
marco na eletrônica brasileira. Por
que esse clube foi tão importante?
Mau Mau - Por vários motivos.
Foi o primeiro after hours do Brasil; reuniu um grupo de pessoas
que ia desde gente da moda a jornalistas, um pessoal ligado a arte,
formadores de opinião. Mas o
principal foi o conceito: foi o primeiro clube que teve um direcionamento musical, o tecno. Eu tocava o que queria, e as pessoas
iam para ouvir o que eu tinha para
mostrar e adoravam. Foi o primeiro clube em que todas as pessoas dançavam viradas para o DJ.
Folha - Como você escolhe o que
entra em seus sets?
Mau Mau - Não me preocupo em
tocar um hit que é sucesso. Ao
contrário: se tem uma música que
todo mundo está tocando, eu não
toco, porque não precisa, prefiro
mostrar coisas novas. Não precisa
ser apelativo, apelar para hits. E se
eu tiver que ficar tocando os mesmos discos, acharia um saco.
Muitos DJs mantêm o mesmo repertório por semanas. Não conseguiria fazer isso, me repetir para
agradar o público.
Folha - Você acha que o DJ tem
uma importância social?
Mau Mau - Muito. Por exemplo,
os cybermanos. Eles têm uma filosofia, um estilo de se vestir, códigos, tudo ligado à música que
eles escutam e com seus DJs.
Folha - Mesmo sendo um DJ reconhecido no exterior, lançando disco, até seus pais não entendem sua profissão. O que acontece?
Mau Mau - É que na época dos
meus pais isso não existia. É difícil
para eles. Mas agora eles estão
vendo que estou feliz, que não vou
parar de uma hora para outra.
Folha - Você já teve dificuldade
por causa disso?
Mau Mau - Sim, não tive apoio
nenhum dos meus pais, e, quando
comecei, as pessoas não entendiam, falavam para tocar o que estava nas rádios. Foi uma batalha,
uma persistência... Várias vezes
pensei em desistir.
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