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MÚSICA
Cantor catarinense lança o terceiro disco, "A Farsa do Samba Nublado", e tenta repetir em vendas o sucesso de crítica
Wado se renova com letras mais "cascudas"
SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO
"É uma alternância entre a fé e a
falta de fé." Assim é o roteiro básico do disco "A Farsa do Samba
Nublado" nas palavras de um dos
seus autores, o cantor nascido em
Santa Catarina e aculturado em
Alagoas Oswaldo Schlickmann,
27, o Wado.
De certo modo, o resumo reflete
os contornos que vêm delineando
a carreira iniciada em 2001. Os
dois primeiros discos, "Manifesto
da Arte Periférica" e "Cinema Auditivo", foram recebidos com tiros de rojão pela crítica, renderam
participações no Tim Festival do
ano passado e no Projeto Pixinguinha há pouco, mas ecoaram
no deserto -cada álbum vendeu
mil cópias.
Insignificância para quem conseguiu a proeza de escapar da
amanhecida fórmula do regionalismo com verniz contemporâneo
para atingir, com experimentalismos e estranhos timbres ao fundo, um pop com cara de Brasil e
acessível, no melhor sentido do
termo. Não é pouco.
Enquanto passeia pelas crenças
e descrenças, Wado molda a nova
cara de seu trabalho, oficializado
agora como banda com a incorporação do nome Realismo Fantástico. Foram empossados o guitarrista Alvinho, o baixista Sérgio
Sofiatti e o baterista Thiago Nistal,
mas permanecem a colaboração
de membros da cena pop de Maceió e o empréstimo de composições vindas de outros círculos.
"O Realismo Fantástico veio
mesmo para ser uma parte ativa
nesse processo. Eu às vezes brinco
dizendo que eu queria meu nome
de volta", afirma o cantor. "Mas,
sem o "Wado" na frente, geraria
complicações em termos de mercado." Ah, o mercado...
"Penso que para atingir o sucesso comercial talvez fosse necessário vestir uma roupa", diz sobre a
dificuldade de se encaixar em um
determinado nicho. "Não estou
tirando o mérito de nenhum grupo, mas o que nós vemos são simulacros brasileiros dando certo
no mercado: a Pitty fica entre o
Evanescence e a Avril Lavigne, o
CPM 22 é o Blink 182, até o Los
Hermanos é um pouco o Weezer
nacional", cutuca.
Ainda não será desta vez que
Wado terá um rótulo fácil para
colar. Em "Farsa", samba, climas
de pop sessentista e Clube da Esquina ("ainda ouço "O Milagre
dos Peixes", de Milton Nascimento") continuam presentes, só que
o caldo é engrossado com uma
pegada mais rock.
"Estamos mais "cascudos", parece que voltamos à adolescência.
Eu escuto bandas como Cake, Radiohead, mas, para falar a verdade, eu não tenho muita paciência
para o rock. Até acho engraçado a
gente gravar um disco mais roqueiro, mas é que isso vem da violência das letras."
Vem justamente da lírica a dualidade fé/falta de fé que é colocada
como norte do álbum por Wado.
Passagens como "no fim do dia,
uma cerveja no bar e o coração
tranqüilo" (na música "Carteiro
de Favela") contraposta a "num
dado momento parecia até que o
sol ia nascer e era mais uma estrela cadente" ("Deserto de Sal") fazem o jogo.
"É um disco de oscilação. É também a destruição de algo anterior
e, a partir daí, renovação, renascimento. Porque estávamos vivendo uma crise diante dessa questão
mercadológica, de fazer dois discos superbem falados que não
venderam nada, e aí vem a necessidade de decidir que caminho tomar", diz o catarinense-alagoano.
A "Farsa do Samba Nublado"
terá seus primeiros shows em São
Paulo no dia 1º de dezembro, no
Blen Blen, 7 de dezembro, no Villagio Café, e 10 de dezembro, em
pocket show na Fnac Paulista.
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