São Paulo, sexta-feira, 19 de novembro de 2004

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MÚSICA

Cantor catarinense lança o terceiro disco, "A Farsa do Samba Nublado", e tenta repetir em vendas o sucesso de crítica

Wado se renova com letras mais "cascudas"

SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO

"É uma alternância entre a fé e a falta de fé." Assim é o roteiro básico do disco "A Farsa do Samba Nublado" nas palavras de um dos seus autores, o cantor nascido em Santa Catarina e aculturado em Alagoas Oswaldo Schlickmann, 27, o Wado.
De certo modo, o resumo reflete os contornos que vêm delineando a carreira iniciada em 2001. Os dois primeiros discos, "Manifesto da Arte Periférica" e "Cinema Auditivo", foram recebidos com tiros de rojão pela crítica, renderam participações no Tim Festival do ano passado e no Projeto Pixinguinha há pouco, mas ecoaram no deserto -cada álbum vendeu mil cópias.
Insignificância para quem conseguiu a proeza de escapar da amanhecida fórmula do regionalismo com verniz contemporâneo para atingir, com experimentalismos e estranhos timbres ao fundo, um pop com cara de Brasil e acessível, no melhor sentido do termo. Não é pouco.
Enquanto passeia pelas crenças e descrenças, Wado molda a nova cara de seu trabalho, oficializado agora como banda com a incorporação do nome Realismo Fantástico. Foram empossados o guitarrista Alvinho, o baixista Sérgio Sofiatti e o baterista Thiago Nistal, mas permanecem a colaboração de membros da cena pop de Maceió e o empréstimo de composições vindas de outros círculos.
"O Realismo Fantástico veio mesmo para ser uma parte ativa nesse processo. Eu às vezes brinco dizendo que eu queria meu nome de volta", afirma o cantor. "Mas, sem o "Wado" na frente, geraria complicações em termos de mercado." Ah, o mercado...
"Penso que para atingir o sucesso comercial talvez fosse necessário vestir uma roupa", diz sobre a dificuldade de se encaixar em um determinado nicho. "Não estou tirando o mérito de nenhum grupo, mas o que nós vemos são simulacros brasileiros dando certo no mercado: a Pitty fica entre o Evanescence e a Avril Lavigne, o CPM 22 é o Blink 182, até o Los Hermanos é um pouco o Weezer nacional", cutuca.
Ainda não será desta vez que Wado terá um rótulo fácil para colar. Em "Farsa", samba, climas de pop sessentista e Clube da Esquina ("ainda ouço "O Milagre dos Peixes", de Milton Nascimento") continuam presentes, só que o caldo é engrossado com uma pegada mais rock.
"Estamos mais "cascudos", parece que voltamos à adolescência. Eu escuto bandas como Cake, Radiohead, mas, para falar a verdade, eu não tenho muita paciência para o rock. Até acho engraçado a gente gravar um disco mais roqueiro, mas é que isso vem da violência das letras."
Vem justamente da lírica a dualidade fé/falta de fé que é colocada como norte do álbum por Wado. Passagens como "no fim do dia, uma cerveja no bar e o coração tranqüilo" (na música "Carteiro de Favela") contraposta a "num dado momento parecia até que o sol ia nascer e era mais uma estrela cadente" ("Deserto de Sal") fazem o jogo.
"É um disco de oscilação. É também a destruição de algo anterior e, a partir daí, renovação, renascimento. Porque estávamos vivendo uma crise diante dessa questão mercadológica, de fazer dois discos superbem falados que não venderam nada, e aí vem a necessidade de decidir que caminho tomar", diz o catarinense-alagoano.
A "Farsa do Samba Nublado" terá seus primeiros shows em São Paulo no dia 1º de dezembro, no Blen Blen, 7 de dezembro, no Villagio Café, e 10 de dezembro, em pocket show na Fnac Paulista.


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