São Paulo, sexta-feira, 19 de novembro de 2004

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MÚSICA

Sucesso nas paradas e pistas inglesas, banda da moderníssima geração iPod diz ter a atitude dos Stone Roses

Kasabian compara seu som à seleção brasileira de 1970

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

A atual produção em larga escala de bandas novas e boas da fábrica pop inglesa gerou a interessantíssima trupe do Kasabian, quinteto de Leicester que tomou 2004 para si. E entre seus feitos absurdos para um grupo tão fresco (no sentido estrito) conseguiu cravar uma música na trilha sonora do game mais vendido do mundo, tocou em todos os principais megafestivais do Reino Unido neste ano, emplacou um quarto lugar nas paradas na semana que seu primeiro álbum foi lançado e teve tal CD, "Kasabian", lançado rapidinho em vários países além-mar, como o Brasil.
O Kasabian está fortemente inserido no contexto que move a cena inglesa atual, dezenas de bandas da moderníssima geração iPod, mas com sonoridade que regurgita movimentos passados, como o punk 77. Só que aí o Kasabian escapa dessa lista.
A banda de Leicester parece surgida da Madchester 1990, a onda indie-dance capitaneada por Stone Roses e Happy Mondays que vestia calça baggy e camiseta colorida, se chapava de ácido e da novidade ecstasy, para sacudir os clubes de Manchester e do mundo todo no comecinho da década passada. Até essas mesmas calças largas, que mais parecem sacos com lugares para pôr as pernas, o Kasabian está sendo "acusado" de resgatar.

Stone Roses
"Talvez tenhamos a mesma atitude dos Stone Roses, de fazer música para dançar em cima dos problemas que a gente vê no nosso dia-a-dia, de encrencas amorosas até a angústia de pagar essas taxas governamentais. Nós somos a Inglaterra, cara", disse à Folha Tom Meighan, o vocalista. "Mas, daqueles tempos de Manchester, eu prefiro o Inspiral Carpets. Eram mais hippies", falou Sergio Pizzorno, o guitarrista.
A entrevista aconteceu nos bastidores do V Festival, em Chelmsford, após o elogiado show da banda no festival da Virgin. O papo, que contou ainda com a participação do baixista Chris Edwards, se deu no final de agosto, dias antes de o CD début sair.
"Nosso disco só tem música boa", gabava-se o guitarrista, empolgado com a recepção do show e com as performances de seus singles nas paradas e nas pistas inglesas. "É uma espécie de seleção brasileira de 1970. A faixa "Processed Beats" é o Pelé. A "LSF" é o Garrincha [sic]. "Club Foot" é o Jairzinho. Daí por diante", explicava Meighan, tentando estabelecer uma explicação eficaz ao jornalista brasileiro. Ele ainda botou o Zico no pacote "craques de 70".
O jeito falastrão dos integrantes do Kasabian, que gravaram o disco só com bateristas convidados, remete a outra banda de Manchester, mas de outro tempo: os gabões e auto-seguros do Oasis. E tal qual o grupo dos Gallagher, o Kasabian já arrasta atrás de si um público fidelíssimo. "Nós somos amor e violência. As duas formas mais intensas de mostrar um sentimento. Nós viemos para salvar a música inglesa", resume tudo o guitarrista Pizzorno.
Embora com a sonoridade diferente, o Kasabian integra bem o levante das bandas novas de garagem, rua e quarto que estão povoando a internet, as rádios e as revistas européias traduzindo a energia punk anos 70 para hoje.
A banda, que ontem tocaria pela primeira vez em Nova York, é adepta da comunicação "faça-você-mesmo" de seu tempo, pela rede de computadores. Mesmo lotando casas de shows "comuns", o Kasabian não larga as "guerrilla gigs", apresentações feitas em qualquer lugar onde dá para armar um show-surpresa rápido avisado por e-mail ou na página de web, tipo no meio rua, loja, boteco de esquina.
Fanáticos pelo time de futebol da cidade, o Leicester City, os meninos do Kasabian adoram armar o cenário de show na porta do estádio, para pegar o público que acaba de sair do jogo. "Já tocamos lá algumas vezes. Um delas foi para celebrar nossa queda para a segunda divisão", contou Pizzorno.


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