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Amigos aguardam autobiografia
DA SUCURSAL DO RIO
Se houve alguém que soube explorar a capacidade que tem Danuza Leão de ser estrela sem estar
em primeiro plano, esse alguém
foi Glauber Rocha. Em "Terra em
Transe" (1967), ela não fala nem
uma palavra sequer, e, no entanto, é difícil pensar no filme sem se
lembrar de Danuza.
"Ela entra muda e sai calada,
mas, quando está em cena, você
só olha para ela. Danuza atravessa
a tela", exalta Zelito Viana, produtor do filme, lembrando que
Glauber a convidou porque "queria alguém que fosse o símbolo da
mulher daquele momento, e ela
estava no auge da forma".
A carreira cinematográfica de
Danuza só teria mais um capítulo:
"A Idade da Terra" (1980), o último filme de Glauber. Nesse ela falou, de improviso, atendendo às
ordens do diretor.
Mas é nítido que a vida de Danuza, assim como deu livro, dá filme. Seu filho Bruno, que é produtor de cinema, diz que teria distanciamento suficiente para levar
"Quase Tudo" às telas. Não sabe
se vai fazer isso um dia, mas se um
outro fizer, que se prepare.
"Eu vou ficar em cima do felizardo ou condenado. Não vou
largar do pé porque esse assunto
eu conheço muito bem", avisa.
Maria Rita, filha de Antônio
Maria, conhece bem a parte mais
apimentada desse assunto. Era
uma adolescente quando seu pai e
Danuza se apaixonaram e terminaram os respectivos casamentos.
Apesar do sofrimento de sua mãe
e dos momentos difíceis, sua lembrança é boa.
"A memória que eu tenho é de
duas pessoas muito apaixonadas
e felizes. Íamos todos para a casa
que eles tinham em Cabo Frio e
era muito bom", conta.
O perfil excessivamente ciumento de seu pai, traçado por Danuza no livro, Maria Rita confirma, mas acredita que houvesse
ciúmes "de ambas as partes". E
ainda diz que não havia motivo
para Danuza supor que ela e seu
irmão, Antônio Maria Filho, a
culpassem de alguma forma pela
morte de Antônio Maria.
"Era para ele ter morrido no primeiro infarto, quando Danuza
cuidou dele. Não morreu porque
era um cavalo de forte, mas não tinha muito tempo de vida. Danuza
foi muito legal e é uma pessoa
muito querida", procura frisar
Maria Rita, que diz estar se preparando para ler o livro. "Sei que
vou me emocionar, essas coisas
mexem muito. Vou ter que ler devagarinho."
Renato Machado sabe do livro o
pouco que a própria Danuza lhe
adiantou. Ele diz que aprendeu
muito durante os quatro anos e
meio de casamento com ela, entre
1972 e 76. "A não ser o vinho, que
eu nem ela conhecíamos bem na
época e eu fui estudar depois, Danuza me ensinou muitas coisas.
Ela conhecia o mundo, e eu estava
entrando no mundo", diz.
"Renato não podia -e continua sem poder- ver um rabo-de-saia, o que para mim não dá",
escreve Danuza ao falar do fim do
casamento. Mas os dois são amigos até hoje.
Amizade mais antiga, Danuza
tem com Carmen Mayrink Veiga,
colega de viagens à Europa quando ambas eram jovens modelos.
"Carmen era a mais bonita de todas; bonita não: deslumbrante",
exalta Danuza no livro.
"Em Paris, enquanto eu queria
jantar no Maxim's e andar emperiquetada, ela circulava pela Rive
Gauche usando jeans, com o cabelo curto avermelhado. Era uma
bossa completamente nova. Danuza sempre fez o que quis", diz
Carmen, que já desistiu de convidar a amiga para programas sociais. "Nem ouso. Ela diz: "Carmen, me esquece'", diverte-se.
Lily de Carvalho Marinho, cujo
filho Horacinho namorou Danuza nos anos 60 e que se tornou
grande amiga dela, diz guardar
para sempre uma impressão: "A
de uma mulher em que nada era
convencional, desde a beleza estranha até as tiradas irônicas, desde a elegância natural até a sinceridade de ser coerente consigo".
Foi sobre o mundo dos ricos
que Danuza orientou Sílvio de
Abreu nas novelas "Sassaricando", "Rainha da Sucata" e "Deus
nos Acuda", na qual ela atuou como produtora de arte e consultora informal. "Ela é simples e ao
mesmo tempo extremamente sofisticada, sabe apreciar uma polenta frita com o mesmo requinte
com que saboreia um escargot",
resume Abreu.
(LUIZ FERNANDO VIANNA)
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