São Paulo, sábado, 19 de novembro de 2005

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Amigos aguardam autobiografia

DA SUCURSAL DO RIO

Se houve alguém que soube explorar a capacidade que tem Danuza Leão de ser estrela sem estar em primeiro plano, esse alguém foi Glauber Rocha. Em "Terra em Transe" (1967), ela não fala nem uma palavra sequer, e, no entanto, é difícil pensar no filme sem se lembrar de Danuza.
"Ela entra muda e sai calada, mas, quando está em cena, você só olha para ela. Danuza atravessa a tela", exalta Zelito Viana, produtor do filme, lembrando que Glauber a convidou porque "queria alguém que fosse o símbolo da mulher daquele momento, e ela estava no auge da forma".
A carreira cinematográfica de Danuza só teria mais um capítulo: "A Idade da Terra" (1980), o último filme de Glauber. Nesse ela falou, de improviso, atendendo às ordens do diretor.
Mas é nítido que a vida de Danuza, assim como deu livro, dá filme. Seu filho Bruno, que é produtor de cinema, diz que teria distanciamento suficiente para levar "Quase Tudo" às telas. Não sabe se vai fazer isso um dia, mas se um outro fizer, que se prepare.
"Eu vou ficar em cima do felizardo ou condenado. Não vou largar do pé porque esse assunto eu conheço muito bem", avisa.
Maria Rita, filha de Antônio Maria, conhece bem a parte mais apimentada desse assunto. Era uma adolescente quando seu pai e Danuza se apaixonaram e terminaram os respectivos casamentos. Apesar do sofrimento de sua mãe e dos momentos difíceis, sua lembrança é boa.
"A memória que eu tenho é de duas pessoas muito apaixonadas e felizes. Íamos todos para a casa que eles tinham em Cabo Frio e era muito bom", conta.
O perfil excessivamente ciumento de seu pai, traçado por Danuza no livro, Maria Rita confirma, mas acredita que houvesse ciúmes "de ambas as partes". E ainda diz que não havia motivo para Danuza supor que ela e seu irmão, Antônio Maria Filho, a culpassem de alguma forma pela morte de Antônio Maria.
"Era para ele ter morrido no primeiro infarto, quando Danuza cuidou dele. Não morreu porque era um cavalo de forte, mas não tinha muito tempo de vida. Danuza foi muito legal e é uma pessoa muito querida", procura frisar Maria Rita, que diz estar se preparando para ler o livro. "Sei que vou me emocionar, essas coisas mexem muito. Vou ter que ler devagarinho."
Renato Machado sabe do livro o pouco que a própria Danuza lhe adiantou. Ele diz que aprendeu muito durante os quatro anos e meio de casamento com ela, entre 1972 e 76. "A não ser o vinho, que eu nem ela conhecíamos bem na época e eu fui estudar depois, Danuza me ensinou muitas coisas. Ela conhecia o mundo, e eu estava entrando no mundo", diz.
"Renato não podia -e continua sem poder- ver um rabo-de-saia, o que para mim não dá", escreve Danuza ao falar do fim do casamento. Mas os dois são amigos até hoje.
Amizade mais antiga, Danuza tem com Carmen Mayrink Veiga, colega de viagens à Europa quando ambas eram jovens modelos. "Carmen era a mais bonita de todas; bonita não: deslumbrante", exalta Danuza no livro.
"Em Paris, enquanto eu queria jantar no Maxim's e andar emperiquetada, ela circulava pela Rive Gauche usando jeans, com o cabelo curto avermelhado. Era uma bossa completamente nova. Danuza sempre fez o que quis", diz Carmen, que já desistiu de convidar a amiga para programas sociais. "Nem ouso. Ela diz: "Carmen, me esquece'", diverte-se.
Lily de Carvalho Marinho, cujo filho Horacinho namorou Danuza nos anos 60 e que se tornou grande amiga dela, diz guardar para sempre uma impressão: "A de uma mulher em que nada era convencional, desde a beleza estranha até as tiradas irônicas, desde a elegância natural até a sinceridade de ser coerente consigo".
Foi sobre o mundo dos ricos que Danuza orientou Sílvio de Abreu nas novelas "Sassaricando", "Rainha da Sucata" e "Deus nos Acuda", na qual ela atuou como produtora de arte e consultora informal. "Ela é simples e ao mesmo tempo extremamente sofisticada, sabe apreciar uma polenta frita com o mesmo requinte com que saboreia um escargot", resume Abreu.
(LUIZ FERNANDO VIANNA)


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